Passeata contra fechamento da Ford reúne mais de 3 mil nas ruas de São Bernardo
Hoje pela manhã, trabalhadores, famílias e apoiadores percorreram as ruas de São Bernardo em passeata contra o fechamento da Ford no município, anunciado há uma semana pela montadora
- Data: 26/02/2019 17:02
- Alterado: 26/02/2019 17:02
- Autor: Redação
- Fonte: SMABC
A caminhada, organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, começou na Avenida do Taboão, em frente à portaria da empresa, logo após uma assembleia com os trabalhadores, e de lá seguiu até o Paço Municipal, num percurso de cerca de 8 km. “Nem a chuva impediu nossa manifestação, que teve uma participação muito expressiva dos trabalhadores e muita solidariedade da categoria. Nossa luta será árdua e vai depender muito da unidade dos trabalhadores e do apoio e solidariedade da sociedade”, avaliou o presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão.
Durante a assembleia, o coordenador do Comitê Sindical na Ford, José Quixabeira de Anchieta, o Paraíba, informou que o encontro com a direção mundial da Ford foi agendado para o próximo dia 7 de março. “Até lá, ninguém compra carro da Ford”, defendeu o dirigente, pedindo que os manifestantes iniciassem um movimento com objetivo de alertar a sociedade da gravidade da decisão tomada pela empresa. Além de Paraíba e Wagnão, também participará da reunião com a matriz o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e presidente do TID (Instituto Trabalho e Indústria), Rafael Marques.
A produção na Ford permanece paralisada desde o anúncio de fechamento da unidade, por orientação do Sindicato. “Não tem retorno ao trabalho por enquanto, vamos manter a fábrica parada. A mobilização continua e a cada dia haverá nova atividade. Vamos também manter nossa articulação com governos e todas as instâncias que possam ajudar a reverter essa decisão”, reforçou Wagnão. Para amanhã (na quarta-feira, 27), informou, está marcado um encontro com o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB). A reunião será às 10h, na Prefeitura, com ele, o prefeito, representantes do Comitê Sindical, e o deputado estadual Teonílio Barba (PT).
Ao final da atividade, já no Paço Municipal, o sindicalista comentou o posicionamento de alguns empresários que têm aproveitado o momento para defender mudanças estruturais no setor automotivo brasileiro. E destacou que o Sindicato, assim como a CUT, não são contrários a que se inicie uma discussão neste sentido, mas isso deve ser feito de forma responsável sob a premissa de que o trabalhador tem de estar no centro deste debate, como prioridade. “Muitos empresários têm dito que essa é uma oportunidade para repensar o setor. Mas isso não pode ser feito sob o ponto de vista de se aproveitar o momento para aprofundar a precarização, conforme o estabelecido na reforma trabalhista”, alertou.
“Temos toda disposição de fazer essa conversa. E temos por conde começar. Desafiamos a Anfavea a discutir, por exemplo, um contrato coletivo nacional que regule o trabalho no setor. Ou o governo federal a discutir impostos, mas não só os incentivos que já foram dados às montadoras e sim aqueles que nós pagamos quando compramos um carro, que estão entre os mais altos do mundo. Para dar o salto de qualidade necessário à indústria automotiva do País, há de se pensar seriamente numa reforma tributária eficiente, que reduza o preço dos veículos e permita que o Brasil se torne uma base exportadora. Capacidade nosso trabalhador tem, parque industrial nós temos, capacidade ociosa também”, completou.
O presidente do Sindicato defendeu ainda que o Brasil tem condições de se tornar essa base exportadora não só voltada a países da América Latina, mas também para Europa e Estados Unidos: “Podemos nos tornar um jogador mundial no setor automotivo. Mas sejamos claros. Não é abusando da legislação de incentivo, daqueles rios de dinheiro que saem do bolso de cada um de nós e não se revertem para a sociedade, que vamos estruturar e manter esse setor. Precisamos primeiro reverter esse cenário da Ford, esse é nosso foco, mas essa luta pode ser um ponto de partida, uma referência importante para discutirmos a situação do setor, até para que não tenhamos de enfrentar uma situação similar em outra empresa na nossa ou em outra região do país amanhã.”

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