Novo laboratório de ecologia e evolução do Butantan abre suas portas ao público

Nova sede do LEEv tem áreas expositivas com enfoque em serpentes ameaçadas de extinção, além de um recinto que será dedicado à preservação da jararaca-ilhoa

  • Data: 25/02/2025 08:02
  • Alterado: 25/02/2025 08:02
  • Autor: Redação
  • Fonte: Agência SP
Novo laboratório de ecologia e evolução do Butantan abre suas portas ao público

Crédito:André Ricoy/Instituto Butantan

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A partir desta terça-feira, 25, o Parque da Ciência Butantan inaugurará sua mais recente atração: a nova sede do Laboratório de Ecologia e Evolução (LEEv). Com uma área superior a mil metros quadrados, o espaço será dedicado ao estudo e à conservação de serpentes ameaçadas de extinção, especialmente aquelas nativas das ilhas litorâneas do Brasil. O público terá a oportunidade de participar de visitas guiadas que permitirão um contato direto com o primeiro criadouro científico voltado para a conservação dessas espécies no país.

O complexo foi projetado em harmonia com a Mata Atlântica e consiste em quatro blocos independentes de pesquisa, todos equipados com janelas estrategicamente posicionadas para facilitar a observação do trabalho realizado pelos cientistas do Butantan. Entre as instalações, destaca-se um recinto dedicado à jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), um reptário para a manutenção de quelônios e lagartos, além de um viveiro que abriga diversas espécies de serpentes, incluindo a caninana (Spilotes pullatus). Ao todo, mais de 20 espécies poderão ser vistas pelos visitantes durante o tour.

O diretor do LEEv, Paulo Nico Monteiro, ressalta que “o objetivo do laboratório é realizar pesquisas de alta qualidade enquanto promove atividades educativas que reflitam nosso trabalho. A preservação ambiental e da biodiversidade continua sendo nossa prioridade, junto ao compromisso com as melhores práticas de manejo em prol do bem-estar animal”.

Para participar das visitas guiadas, os interessados devem agendar seu horário através do site oficial do Parque da Ciência. As visitas ocorrerão de terça a sexta-feira, com quatro horários disponíveis: 10h, 11h, 14h e 15h. Os tours serão conduzidos por técnicos e educadores do LEEv, que compartilharão informações sobre a biologia dos animais, seus ecossistemas e as ameaças que enfrentam atualmente.

Detalhes das Visitas Guiadas

A estrutura do novo LEEv conta com passarelas interligando os quatro blocos, permitindo uma circulação fluida dos visitantes. A primeira parada será no bloco 1, onde estarão dispostos cerca de dez terrários científicos com várias espécies de serpentes. Entre elas estão a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis) e a jararaca-de-alcatrazes (Bothrops alcatraz), ambas endêmicas de ilhas brasileiras.

Nico enfatiza que “nosso desejo é que o LEEv se torne uma referência internacional em conservação ex situ para serpentes insulares ao longo da costa brasileira por meio de um programa inovador de reprodução”.

No bloco 2, localizado na parte central à esquerda da entrada, estará a equipe administrativa e alguns pesquisadores associados ao LEEv.

Um dos destaques do bloco 3 é a sala dedicada ao bem-estar animal, um espaço otimizado para abrigar até cinco jiboias (Boa constrictor). Neste ambiente enriquecido, os visitantes poderão observar boas práticas de manejo. Cristiane Pizzutto, veterinária do laboratório, afirma que “é essencial mostrar que os répteis também merecem respeito e cuidado”.

As pesquisas sobre o bem-estar animal no LEEv visam não apenas atender às necessidades éticas dos animais mas também compreender como essas condições influenciam aspectos biológicos e genéticos. No bloco 4, os visitantes terão acesso a um laboratório moderno onde cientistas desenvolvem suas atividades.

De acordo com Paulo Nico, um novo espectrômetro de massa está previsto para chegar ainda neste semestre. Esse equipamento permitirá ampliar as abordagens analíticas nas pesquisas relacionadas às serpentes em risco e os impactos do manejo sobre elas.

Enquanto percorrem a plataforma central que conecta os blocos do complexo, os visitantes poderão admirar o novo reptário do Butantan. Com espécies nativas e exóticas como jabutis e cágados, este espaço visa conscientizar sobre os problemas relacionados ao comércio ilegal de animais. Nico observa: “Queremos desestimular qualquer forma de compra ilegal; muitos dos animais aqui presentes foram resgatados ou abandonados”.

Destaque para a Jararaca-Ilhoa

No final da plataforma principal está o inovador viveiro destinado à jararaca-ilhoa, atualmente em fase final de construção. Uma equipe multidisciplinar está monitorando o crescimento da vegetação e implementando estruturas que possibilitem um ambiente natural para essas serpentes arborícolas. Cristiane Pizzutto ressalta: “É nossa obrigação criar condições que garantam uma boa qualidade de vida aos animais”.

A jararaca-ilhoa apresenta características distintas em relação à sua congênere continental: coloração amarelada e hábito arborícola. Alimenta-se principalmente de pequenas aves devido à ausência de roedores na Ilha da Queimada Grande. “Este caso oferece uma oportunidade única para discutir evolução e especiação com os visitantes”, acrescenta Paulo Nico.

Acredita-se que essas serpentes únicas surgiram após o isolamento de populações ancestrais durante o derretimento das calotas polares há cerca de 10 mil anos. Esse fenômeno resultou na formação da nova espécie insular distinta da jararaca comum (Bothrops jararaca).

A criação deste habitat inovador visa não apenas promover novas pesquisas mas também assegurar a conservação da Bothrops insularis, considerada criticamente ameaçada pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Reconhecimento Arquitetônico

A planta do centro de conservação remete ao design adotado na construção do primeiro serpentário do Butantan em 1912. Vital Brazil, fundador do Instituto, já reconhecia a importância de recriar ambientes naturais para garantir a conservação das espécies e proporcionar experiências educativas aos visitantes.

Os desafios apresentados pela construção em terreno íngreme levaram arquitetos e engenheiros a optar por intervenções mínimas no solo. Assim foram erguidos os quatro blocos suspensos por vigas metálicas que imitam galhos naturais.

A inovação na construção rendeu à equipe responsável o Prêmio Talento Engenharia Estrutural 2023 na categoria “Pequeno Porte“, promovido pela Gerdau em parceria com a ABECE.

João Tadeu Foa, gerente de Arquitetura e Urbanismo da Divisão de Infraestrutura do Butantan, conclui: “O conceito do novo LEEv reflete a missão do nosso parque; projetado para despertar a curiosidade dos visitantes, especialmente das crianças que serão os cientistas do futuro”.

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Crédito:José Felipe Batista/Instituto Butantan Composto por quatro blocos suspensos e independentes, o LEEv é considerado um projeto inovador
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Crédito:José Felipe Batista/Instituto Butantan Recinto dos quelônios no LEEv possui espécies nativas e exóticas
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Crédito:José Felipe Batista/Instituto Butantan Viveiro destinado à habitação da jararaca-ilhoa

  • Data: 25/02/2025 08:02
  • Alterado:25/02/2025 08:02
  • Autor: Redação
  • Fonte: Agência SP











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