Comédia Daqui Ninguém me Tira no Teatro Lauro Gomes em São Bernardo
Especulação imobiliária e marchinhas de carnaval temperam a comédia sobre o tal “politicamente’ correto no Brasil
- Data: 21/06/2024 13:06
- Alterado: 21/06/2024 13:06
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
Crédito:Divulgação
“Daqui Ninguém Me Tira” é uma comédia musical que traz uma mensagem poderosa através da história de Velvet (Alexia Twister), uma drag queen que se vê prestes a ser despejada de seu antigo barracão para dar lugar a novos empreendimentos. Escrita por Noemi Marinho, a peça aborda de forma humorada e reflexiva o conflito entre o progresso representado por Herculano (Giovani Tozi revezando com Anderson Müller e com Felipe Calixto), um funcionário de uma grande incorporadora, e a preservação da memória e identidade de Velvet. Na trama, Herculano se vê dividido entre apoiar Velvet e cumprir suas obrigações profissionais, criando um embate interessante que não se resume a mocinhos e bandidos. A comédia musical explora os dois lados da história, questionando como conciliar o avanço urbanístico com a manutenção das raízes e do patrimônio cultural. A encenação de Neyde Veneziano se inspira nos numerosos canteiros de obras da cidade de São Paulo, estabelecendo uma analogia entre a rica memória do Teatro de Revista, simbolizada pelas exuberantes vedetes, e o gradual desaparecimento da arquitetura urbana, junto com suas histórias entrelaçadas.
Veneziano é reconhecida como uma das principais autoridades no estudo do Teatro de Revista, tendo escrito cinco livros sobre o assunto. Durante uma entrevista com Jô Soares, o apresentador fez questão de destacar que a diretora “introduziu o Teatro de Revista no ambiente acadêmico”. Em 2024, após anos de estudo dedicados à figura da vedete, Veneziano faz uma afirmação provocativa em Daqui Ninguém Me Tira: “A herdeira da vedete é a drag”.A dramaturgia de “Daqui Ninguém Me Tira” é assinada por Noemi Marinho, conhecida por seu trabalho em sucessos de bilheteria como “Almanaque Brasil”, “Fulaninha e Dona Coisa” e “Brasil S/A”, tendo recebido reconhecimento através de prêmios como Shell, APETESP, APCA e Mambembe. Noemi desenvolve uma narrativa com diálogos ágeis, fundamentada no embate ideológico dos protagonistas.
O grande desafio da trama foi explorar a humanidade e os princípios que motivam cada personagem, sem recorrer à dicotomia entre bem e mal. Desde o início do espetáculo, o público é levado a uma jornada eletrizante, com canções e imagens, imergindo nas motivações dos personagens, algo cada vez mais raro em tempos de polarização. Empatia é uma palavra que parece simples, mas esbanja complexidade. Sobre a dramaturgia de Noemi Marinho, no livro “O Teatro de Noemi Marinho”, Márcia Abujamra destaca: “a percepção aguda que Noemi Marinho tem de seus personagens se reflete em um diálogo ágil que surpreende o leitor-espectador pelas conclusões que sugere e, se não quisermos ser deixados para trás, nos obriga a acompanhar e participar ativamente de cada momento. Assim são as peças e os personagens de Noemi Marinho: em constante movimento.” (Imprensa Oficial, 2007).
Idealizado pelo ator e produtor Giovani Tozi, Daqui Ninguém Me Tira representa a união de duas figuras femininas de extrema relevância na história do teatro brasileiro: Noemi Marinho e Neyde Veneziano. Esta colaboração resulta em um diálogo rico e significativo sobre a sensibilidade à diversidade. Marinho e Veneziano abrem-se para a escuta ativa e a troca de ideias, mergulhando em reflexões extremamente atuais sobre como promover a inclusão e a consciência social em um contexto marcado pela crescente individualidade e solidão nas grandes metrópoles. O espetáculo não apenas entretem, mas também busca provocar o espectador a refletir sobre questões essenciais da sociedade contemporânea, como a importância de valorizar e respeitar a diversidade em todas as suas formas.Tozi desenvolve sua pesquisa de doutorado sobre Jô Soares na Unicamp, através de uma pesquisa sobre o humor. Nela, o ator se aprofunda em teorias contemporâneas sobre a comicidade e de que forma os atores podem desenvolver e aperfeiçoar as formas de provocar o riso no público. Questionado sobre o porque dessa vontade em fazer o público rir, Tozi cita Jô Soares: “só o humor pode salvar o Brasil.
“Daqui Ninguém Me Tira” mergulha nas tensões geracionais e ideológicas, buscando inspiração no caos urbano para criar uma fusão entre marchinhas de carnaval e hits da música pop, refletindo os fragmentos de um passado já distante. A presença da banda ao vivo estabelece o ritmo de um bloco de carnaval fora de época, mas também anuncia o desfecho inevitável. Trágico e cômico “Daqui Ninguém Me Tira” é um ensaio sobre nossa capacidade (ou falta dela) de conviver com o outro, e a inabilidade de lidar com os conflitos que permeiam as relações humanas.
Serviço
Dia 30 de junho (domingo, 15h), no Teatro Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo, Rua Helena Jacquey, 171. Duração: 75 minutos. Classificação: 12 anos. Menores de 14 anos, somente poderão entrar acompanhados dos pais ou responsáveis .