Brasil pode se beneficiar de tarifas dos EUA contra China e México
Especialistas apontam que a disputa comercial abre espaço para novos negócios, especialmente em setores como agronegócio, mineração e manufatura
- Data: 14/03/2025 12:03
- Alterado: 14/03/2025 12:03
- Autor: Redação
- Fonte: CIESP
As tarifas impostas pelo governo de Donald Trump à China, Canadá e México afetam o comércio global, mas podem criar novas oportunidades para o Brasil, avalia Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
“Nosso país deve preparar-se para enfrentar eventuais impactos dessas medidas e buscar formas de aproveitar as brechas no mercado internacional”, ressalta.
Com o aumento das tarifas norte-americanas e as medidas de retaliação adotadas por seus parceiros comerciais, o Brasil pode se tornar um fornecedor mais competitivo para diversos mercados, desde que consiga evitar o agravamento de barreiras tributárias e não alfandegárias. Soja, carne e minério de ferro são alguns dos produtos que podem ter exportações ampliadas para a China.
Outro fator relevante é a possível entrada em vigor do acordo entre Mercosul e União Europeia, que prevê a redução gradual de tarifas entre os blocos. “Isso tornará nossos produtos mais competitivos no mercado do Velho Continente, compensando eventuais perdas no comércio com os Estados Unidos”, explica Cervone. Além disso, o tratado pode fortalecer a indústria brasileira, estimulando investimentos e aumentando a participação do país no comércio global.
Riscos da escalada protecionista
Apesar das oportunidades, Cervone alerta que a política protecionista de Trump pode desviar fluxos de comércio e afetar a competitividade das exportações brasileiras. Um exemplo é a tarifa de 25% sobre o aço e o alumínio, em vigor desde 12 de março, que pode impactar significativamente o setor industrial do Brasil. Atualmente, os Estados Unidos já aplicam pelo menos 15 medidas de defesa comercial contra o Brasil.
Para mitigar os riscos, um estudo do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Fiesp recomenda que o Brasil reforce sua atuação na Organização Mundial do Comércio (OMC) e fortaleça medidas de defesa comercial, como o regime de Licenças Não Automáticas (LNAs).
Além disso, especialistas destacam que a autossuficiência energética dos Estados Unidos tem permitido ao governo americano priorizar a produção interna, adotando uma política comercial mais agressiva. A revisão de compromissos ambientais e a desregulamentação econômica também contribuem para essa postura.
Vale lembrar que Brasil e Estados Unidos celebraram 200 anos de relações diplomáticas em 2024, e o capital norte-americano no Brasil dobrou na última década. Apesar disso, o Brasil ainda registra déficits comerciais em produtos manufaturados no comércio bilateral. Para Cervone, é fundamental que o país tenha uma estratégia bem-estruturada para garantir um crescimento sustentável e sinérgico entre as duas economias.
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