Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço faz circulação gratuita por teatros públicos de SP

Com texto de Michelle Ferreira, direção de Nelson Baskerville e idealização de Nataly Cavalcanti, espetáculo performativo explora diferentes facetas da poeta Ana Cristina Cesar

  • Data: 19/03/2025 21:03
  • Alterado: 19/03/2025 21:03
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Assessoria
Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço faz circulação gratuita por teatros públicos de SP

Ana Marginal - Um navio ancorado no espaço

Crédito:Jennifer Glass

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Após uma temporada de sucesso de crítica e de público, o espetáculo “Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço”, com texto de Michelle Ferreira e direção de Nelson Baskerville, volta em cartaz para 24 apresentações gratuitas em vários espaços públicos de São Paulo. As primeiras sessões acontecem entre os dias 28 de março e 6 de abril, às sextas e sábados, às 20h, e, aos domingos, às 19h no Complexo Cultural FUNARTE São Paulo.

Três teatros municipais ainda a definir também recebem o trabalho. Cada um deles exibe seis vezes a peça. Quando estreou, em 2023, a montagem foi eleita pelo jornal Folha de São Paulo como uma das melhores do ano.

Com a proposta de democratizar o acesso à informações sobre a vida e a obra da Ana Cristina Cesar (1952-1983), o projeto idealizado por Nataly Cavalcanti ainda envolve outras ações importantes. Os artistas envolvidos no processo organizaram um podcast com discussões relacionadas a essa poeta marginal, um sarau, a publicação de um zine formado por cartas trocadas entre as poetas Anna Zêpa e Josiane Cavalcanti e uma oficina de produção de zines.

“Criamos atividades que estão muito relacionadas à personalidade da Ana Cristina. Ela costumava escrever cartas e tenho certeza que teria um podcast se essa linguagem existisse na sua época”, conta Nataly.

Chamado de “Ana Marginal – Como desancorar um navio no espaço”, este projeto foi contemplado na 19ª Edição do Prêmio Zé Renato – ID 13 080.

Sobre a encenação
Considerada um dos grandes nomes da literatura marginal da década de 1970, a poeta carioca defendia que vida e literatura eram inseparáveis. Por esse motivo, “Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço”se inspira nesses dois elementos.

A dramaturgia deMichelle Ferreira traz para a cena três personas para representar a escritora: Ana – a poeta, Cristina – a performática, e Cesar – a acadêmica, representadas pelas atrizes Nataly Cavalcanti, Carol Gierwiatowski e Bruna Brignol, respectivamente.

Realizado em parceria entre as atrizes, a dramaturga, o diretor Nelson Baskerville e a diretora assistenteAnna Zêpa, o trabalho mergulhou na obra da escritora para desvendar o corpo-poema de Ana Cristina Cesar, misturando arte e vida pessoal.

A característica forte de seus textos, a um só tempo viscerais e coloquiais – marca comum também entre outros poetas marginais dos anos 1970 -, cria uma aproximação confidencial com seus leitores. Inclusive, no livro “Antigos e Soltos — Poemas e Prosas da Pasta Rosa”, uma compilação de textos inéditos feita por Armando Freitas Filho, ela faz uma sugestão radical: “despoetizar a escrita feminina. Suprimir o mito do sexto sentido, da doce e inefável poesia feminina. A falsa grávida com gazes. — Estrutura histérica!, grita a fada madrinha. Assinado embaixo: Nós do outro sexo, do sexto sexo.”

“Como Ana Cristina Cesar pregava a quebra dos padrões eruditos e escrevia de uma maneira mais espontânea e contestadora, entendemos que o teatro performativo era a melhor maneira de homenagear essa mulher tão potente. Sempre achei que o Baskerville seria o diretor que conseguiria transpor para a cena o universo que eu imaginava pro espetáculo. E eu não me enganei”, comenta Nataly.

Para dar conta da atmosfera caótica presente na obra da poeta, a equipe optou por usar muitas projeções, tanto de frases de Ana Cristina quanto de cenas complementares à ação. As atrizes também interagem a todo momento com um andaime e haverá até uma escultura de luz feita pelo próprio diretor.

Nesta nova temporada, os artistas precisaram adaptar o cenário. O Espaço Elevador, que recebeu a estreia, tinha um mezanino, então a montagem acontecia em dois andares, e os teatros públicos têm um palco italiano. Mesmo assim, o trabalho mantém uma verticalidade importante, principalmente pela presença do andaime e de uma escada.

Para o encenador, entender a essência da autora é um desafio. “A cada dia chegam novos materiais que são incorporados ao espetáculo. Ela não está em apenas um poema ou um livro. Para desvendá-la, é preciso se debruçar sobre suas fotografias, cartas, cartões postais, entrevistas. Talvez hoje sua angústia fosse muito mais dispersa, porque os tempos mudaram muito, mas gostaríamos de devolver para ela essa sexualidade que lhe foi negada”, defende Baskerville.

A complexidade desse processo de pesquisa também está presente na peça. Além de performático, “Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço” configura-se como um metateatro, já que as atrizes discutem, em cena, temas como: por que sempre que se fala em artistas mulheres, o primeiro assunto é a sua vida pessoal, a histeria feminina, ao invés da importância das suas obras?

“Nós estávamos ansiosos para mostrar nosso espetáculo a mais e mais pessoas. Enfrentamos tantos desafios para a construção do trabalho e tivemos uma ótima recepção do público. Queremos circular ainda mais e espalhar a palavra da Ana Cristina Cesar por diversos lugares”, afirma Nataly.

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  • Data: 19/03/2025 09:03
  • Alterado:19/03/2025 21:03
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