Trump toma posse como 47º presidente dos EUA ao lado de Musk e aliados
A cerimônia não foi ao ar livre por causa do clima extremo
- Data: 20/01/2025 14:01
- Alterado: 20/01/2025 18:01
- Autor: Redação
- Fonte: Julia Chaib E Victor Lacombe (FOLHAPRESS)
Crédito:Reprodução
Donald J. Trump, 78, tomou posse nesta segunda-feira (20) como o 47º presidente dos Estados Unidos -um país que descreveu em seu discurso de posse como pobre, fraco economicamente, infestado de criminosos e alvo de chacota mundial. Mas prometeu: “o declínio acaba aqui”.
Em cerimônia na rotunda do Capitólio dos EUA, flanqueado por estátuas de Abraham Lincoln, presidente que acabou com a escravidão, e Ulysses S. Grant, general que venceu a guerra que tornou isso possível, Trump pintou sua reeleição como uma nova revolução americana e uma nova era de liberdade.
“Reverteremos de forma total e completa a terrível traição que aconteceu”, disse, em possível referência ao seu discurso de que a classe operária americana foi abandonada pelas elites. “Devolveremos ao povo sua fé, sua riqueza, sua democracia e, de fato, sua liberdade.”
“A era de ouro da América começa agora”, disse Trump em fala repleta de ataques indiretos ao seu antecessor, Joe Biden, presente na cerimônia. Para o novo presidente, os EUA sob o governo do democrata foram incapazes de proteger seus cidadãos por se concentrar demais em guerras estrangeiras.
Trump não citou Israel ou a Ucrânia, países mais beneficiados com auxílio militar durante o governo Biden -ao longo da campanha eleitoral, o democrata, assim como sua vice, Kamala Harris, tentou convencer a população de que apoiar esse países era de vital interesse nacional americano.
“Temos um governo que dá verbas ilimitadas em defesa de fronteiras estrangeiras mas se recusa a defender fronteiras americanas ou, mais importante, seu próprio povo”, disse Trump, eleito com um discurso isolacionista e cujo vice já disse não se importar com o futuro da Ucrânia.
Falando sobre o tema mais explorado por sua campanha eleitoral, Trump disse em sua primeira fala como presidente que vai declarar uma emergência nacional na fronteira com o México para combater a imigração ilegal, prometendo utilizar as Forças Armadas para repelir o que voltou a chamar de invasão.
“Todas as entradas ilegais serão interrompidas, e vamos começar o processo de enviar de volta milhões de criminosos de volta para seus países de origem”, prometeu o presidente. “Daqui em diante, nosso país vai florescer e ser respeitado em todo o mundo. Não permitiremos que tirem vantagem de nós novamente. Em todos os dias do meu governo, colocarei os EUA em primeiro lugar.”
“Aquele que desejam interromper nossa causa tentaram me aprisionar e até mesmo tirar minha vida”, disse, relembrando a tentativa de assassinato que sofreu durante a campanha e o que sempre chamou de caça às bruxas em referência às acusações pelas quais responde na Justiça.
“Mas minha vida foi salva por uma razão. Fui salvo por Deus para que eu pudesse tornar a América grande novamente”, disse, sob fortes aplausos dos presentes, ecoando seu principal slogan de campanha.
“Não esqueceremos nossa Constituição e não esqueceremos nosso Deus“, disse Trump. “Voltaremos a ser o país da indústria e temos algo que nenhum país jamais terá: as maiores reservas de gás e petróleo do mundo e nós vamos usá-las”, enfatizou o presidente, prometendo derrubar medidas de combate à mudança climática tomadas por seu antecessor.
O republicano também prometeu “acabar com a censura e restaurar a livre expressão” nos EUA, em referência ao discurso do bilionário Elon Musk, agora também um membro do governo, e de outras figuras do trumpismo. A liberdade de expressão que ele promete em geral se refere à desregulamentação do mercado das big techs.
O presidente prometeu ainda “reerguer o sonho americano” às custas de tarifas sobre bens estrangeiros. “Em vez de cobrar impostos de nossos cidadãos para enriquecer outros países, vamos criar tarifas e taxas para que outros países enriqueçam nossos cidadãos.”
“Como em 2017, voltaremos a ter as Forças Armadas mais poderosas do mundo, cujo sucesso será medido não apenas nas batalhas que vencemos, mas nas guerras que encerramos e, talvez mais importante, nas guerras nas quais não nos envolveremos. Meu maior legado será o de um pacificador e unificador.”
Em seguida, o presidente tentou assumir o crédito pelo acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que incluiu a liberação de reféns israelenses em poder do grupo terrorista. “Fico feliz de poder dizer que ontem, um dia antes de assumir o cargo, os reféns no Oriente Médio começaram a voltar para suas famílias”, disse.
Trump também prometeu, como havia dito antes, mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América e voltou a dizer que o Canal do Panamá deveria pertencer aos EUA novamente, acusando a China de ter controle demais sobre a via marítima.
“Nos últimos anos, nosso país sofreu como nunca antes, mas construiremos um novo país. Os EUA serão respeitados novamente, admirados novamente. Seremos prósperos, seremos orgulhosos, seremos fortes e venceremos como nunca antes”, afirmou.
“Não seremos conquistados, intimidados, e não falharemos. Daqui para frente, os EUA serão um país livre, soberano e independente. Nada estará em nosso caminho, pois somos americanos, o futuro é nosso. Nossa era de ouro começa aqui. Obrigado, e que Deus abençoe a América“, disse no encerramento de sua fala.
O discurso aconteceu em uma sessão fechada no Capitólio, devido ao frio intenso em Washington -foi a terceira vez na história que a cerimônia não foi ao ar livre em decorrência do clima extremo.
Antes do discurso, o republicano jurou sobre duas Bíblias. “Eu juro solenemente que executarei fielmente o cargo de presidente dos EUA e, da melhor forma possível, preservarei, protegerei e defenderei a Constituição americana“, declarou, conforme determinado pela Constituição.
Uma das Bíblias usadas foi dada a ele pela mãe em 1955, para marcar a sua formatura na Escola Primária da Igreja Presbiteriana Primeira, em Nova York. A outra escritura era a Bíblia de Abraham Lincoln, usada pela primeira vez pelo 16º presidente dos Estados Unidos durante a posse, em 1861. Desde então, ela foi usada três vezes: duas pelo ex-presidente Barack Obama (2009-2017), e uma pelo próprio Trump, em 2017. A Bíblia faz parte de coleção da Biblioteca do Congresso.
Ao todo, a cerimônia contou com discursos de cinco líderes religiosos: dois católicos, dois protestantes e um rabino.
O agora ex-presidente Joe Biden participou da cerimônia, cumprindo uma tradição de o líder cessante estar presente no ato que confirma a entrega do cargo para o sucessor. Isso marca uma diferença para 2021, quando Trump se recusou a admitir a derrota para o democrata e faltou ao evento.
O discurso foi acompanhado por cerca de 600 pessoas no Capitólio. Entre elas um grupo poderoso, o de bilionários do Vale do Silício -que incluiu o dono do X, Elon Musk, o da Meta, Mark Zuckerberg, e o fundador da Amazon, Jeff Bezos. O conjunto de empresários foi apontado pelo presidente Biden como uma “oligarquia de não eleitos” no poder, algo preocupante segundo o democrata.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi convidado, mas não pode ir porque não teve o passaporte liberado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro estão nos EUA, mas não puderam acompanhar a cerimônia de dentro do Capitólio.
Boa parte dos convidados iniciais para a cerimônia que ocorreria a céu aberto em uma das entradas do Congresso ficou de fora. Os planos de Trump mudaram na sexta-feira (17), o que levou a organização a repensar todo o esquema da posse.
Pessoas que doaram valores elevados a Trump não puderam acompanhar a cerimônia presencialmente. Foram priorizados no evento parlamentares e altas autoridades, como o presidente da Argentina, Javier Milei.
O convite a um chefe de Estado também quebra uma tradição, já que esses líderes não costumam ser chamados para a posse. Do lado brasileiro, a cerimônia foi acompanhada pela embaixadora Maria Luiza Viotti.
A maioria das pessoas acompanhou os eventos da cerimônia no ginásio Capital One Arena, que tem capacidade para cerca de 20 mil pessoas. A equipe de Trump transferiu o desfile de carro que ele faria pela cidade com o vice-presidente J. D. Vance para um discurso no local.
Trump chega à Casa Branca com uma maioria, ainda que apertada, tanto na Câmara como no Senado. Tem em suas mãos também um Partido Republicano que agora lidera e que no seu último mandato era repleto de desconfianças com seu nome.
Também vê cenário favorável no Judiciário: a Suprema Corte é controlada por uma sólida maioria conservadora, com três juízes indicados pelo próprio Trump, e já sinalizou estar disposta a fazer as vontades do presidente em áreas como aborto, poder presidencial e regulações.
O presidente ainda montou um time de aliados fiéis para compor o seu gabinete. As decisões serão tomadas sob medida para garantir que ele consiga aprovar no Congresso as medidas que propôs.