Brasil aposta em vacina e novos testes para combater câncer de colo
Doença é a quarta maior causa de morte no país
- Data: 06/12/2024 09:12
- Alterado: 06/12/2024 09:12
- Autor: Redação
- Fonte: Agência Brasil
O Brasil poderá, em um horizonte de duas décadas, transformar o câncer de colo de útero em uma doença residual, desde que siga rigorosamente um novo plano nacional voltado para a erradicação da enfermidade. Este plano enfatiza melhorias no rastreamento, tratamento e, sobretudo, na vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV). Atualmente, esse tipo de câncer é o terceiro mais comum entre as mulheres brasileiras e a quarta principal causa de óbitos femininos, com aproximadamente 17 mil novos diagnósticos e cerca de 7 mil mortes anuais. A quase totalidade dos casos está associada à infecção pelo HPV, sendo que os subtipos 16 e 18 são responsáveis por 70% das ocorrências.
O diagnóstico tardio é um desafio significativo, com cerca de 65% das pacientes identificando a doença em estágio avançado. Para mitigar esse problema, o Plano Nacional para a Eliminação do Câncer de Colo de Útero propõe a substituição do exame citopatológico tradicional por um teste molecular para detecção do HPV no Sistema Único de Saúde (SUS). Roberto Gil, diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), destaca que este novo teste oferece uma avaliação mais precisa sobre a persistência viral, essencial para identificar riscos elevados de evolução para lesões precursoras e câncer.
Atualmente em fase de validação para determinar a melhor opção disponível, os testes moleculares mostraram resultados promissores em estudos conduzidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com potencial para reduzir em até 46% os casos de câncer e em 51% a mortalidade. O foco do rastreamento abrange mulheres e pessoas com útero entre 25 e 64 anos, especialmente aquelas que nunca realizaram exames preventivos.
Uma inovação significativa proposta é a implementação de um sistema de autocoleta, permitindo que as pacientes colham suas próprias amostras sem necessidade de consulta ginecológica. Essa abordagem visa superar barreiras logísticas e culturais que afastam muitas mulheres dos exames preventivos. Atualmente, testes-piloto estão sendo realizados em cidades dos estados de Pernambuco e São Paulo, com previsão de expansão gradual nas regiões Norte e Nordeste do país.
A demora no início do tratamento é outro obstáculo crítico. Embora a legislação brasileira exija que o tratamento comece dentro de 60 dias após o diagnóstico, apenas metade das pacientes recebem assistência nesse prazo nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. No Norte, essa demora é ainda mais acentuada, afetando diretamente as taxas de mortalidade.
A meta da OMS é atingir pelo menos 70% de cobertura no rastreamento com testes de alta eficácia. Desses casos positivos para HPV, 90% devem ser tratados prontamente. Segundo Gil, após a detecção do vírus, o protocolo ideal inclui colposcopia e biópsia quando necessário, seguido por excisão de lesões precursoras ou encaminhamento para tratamento especializado se houver diagnóstico confirmado.
A vacinação contra o HPV é um pilar fundamental na estratégia de eliminação do câncer cervical. O objetivo é vacinar 90% das meninas e meninos entre 9 e 14 anos. A imunização também está disponível pelo SUS para grupos específicos como imunodeprimidos e vítimas de violência sexual até 45 anos. Uma estratégia recente busca alcançar jovens até 19 anos que não foram vacinados adequadamente.
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) comemora uma década desde a introdução da vacina contra o HPV no Brasil. Apesar disso, as taxas de cobertura variam amplamente entre estados e gêneros. Em resposta às recomendações da OMS, desde abril deste ano, o PNI adotou um regime vacinal simplificado com apenas uma dose. Para o próximo ano, aumentar a cobertura vacinal nos municípios com índices mais baixos permanece como prioridade estratégica.

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