Metalúrgicos do ABC discutem futuro do trabalho em segundo dia de Congresso
A abertura discutiu ataques à democracia e gravidade do cenário econômico
- Data: 20/07/2019 09:07
- Alterado: 20/07/2019 09:07
- Autor: Redação
- Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Crédito:Divulgação
O Congresso dos Metalúrgicos do ABC dedicou este segundo dia de atividades (sexta,19) à discussão de temas relevantes para o cotidiano dos trabalhadores. O primeiro painel abordou os temas “Trabalho e Indústria” e “Regionalidade”, apresentado pelo diretor executivo do Sindicato Wellington Damasceno. À tarde o debate foi sobre o trabalho de base, apresentado pelo presidente do Sindicato, Wagner Santana.
Durante sua exposição, Wellington enfatizou o papel da entidade diante das transformações que ocorrem, tão rapidamente, no mundo do trabalho, e do cenário econômico atual. “Temos vivido o desmonte da indústria nacional, perdido grandes indústrias que desenvolvem tecnologia e conhecimento, além de cortes na educação que refletem diretamente em onde o Brasil estará dentro do debate da Indústria 4.0. É preciso rediscutir as bandeiras de luta e o papel do Sindicato para fazer frente a este cenário, visando o futuro do trabalho e do trabalhador nessa nova dinâmica”, prosseguiu.
O 9º Congresso teve início na noite de ontem (quinta,18) com a mesa de debate “Democracia sob ataque”. Participaram o economista e professor da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo Ivone Silva, e o presidente Wagner Santana. Na abertura, também foi lida uma carta enviada pelo ex-presidente Lula, parabenizando a entidade pela realização do Congresso. Ao final da leitura os participantes se manifestaram aos gritos de “Lula Livre”.
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp destacou que democracia, direitos e trabalho são conceitos que devem ser tratados de forma conjunta. Ele criticou a postura do presidente Jair Bolsonaro, que chegou a afirmar que o trabalhador teria de “escolher entre emprego ou direitos”. “Isso é um despropósito completo, é assustador. Democracia, direitos e trabalho são questões que estão ameaçadas pelo momento atual, e também pelas transformações que o capitalismo está sofrendo”.
O professor mencionou o fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo, que na sua avaliação é um sintoma do processo de desindustrialização vivido hoje no País. “É apenas um episódio da desindustrialização que assola a economia brasileira. Temos hoje 13 milhões de desempregados e mais 20 e tantos milhões que estão em trabalhos precários. E isso vai piorar, não há investimento no setor”, ressaltou, lembrando que a indústria já chegou a ter uma participação de 27,5% no PIB do Brasil.
Para que possa haver reversão desse quadro, o economista reforçou que é necessária a participação efetiva de categorias representativas como os Metalúrgicos do ABC. Ele lembrou dos tempos em que esteve no Sindicato, na década de 70, ajudando os trabalhadores e dirigentes, que na época lidavam com as consequências de um tempo de ditadura militar. “A democracia só vai sobreviver se nós conseguirmos mobilizar nossos irmãos que estão nessa situação para compreenderem o que está acontecendo hoje no País. Eu espero que neste Congresso vocês desenvolvam essa capacidade de pensar, de resistir porque pensar hoje em dia no Brasil é um ato heroico.”, ressaltou.
O presidente do Sindicato, Wagner Santana, encerrou a mesa reforçando a importância do tema escolhido para a abertura. “O exercício da democracia tem tudo a ver com o tema deste Congresso. Temos de resistir à utilização dos espaços democráticos para propagar o ódio e a intolerância a opiniões divergentes. Liberdade de expressão não significa a expressão da intolerância.”, destacou.
O dirigente também conclamou os presentes a lutar pela defesa dos direitos que estão sendo retirados: “Os delegados e delegadas deste Congresso têm o desafio e a responsabilidade de tomar decisões sobre como a classe trabalhadora vai resistir aos ataques contra os direitos. Não há dúvidas, o que estamos vivendo no país é luta de classes.”