Artistas comentam sobre a relação entre arte e as questões sociais
Polêmica envolvendo fechamento de exposição reacende debate sobre os limites e funções da arte
- Data: 22/09/2017 09:09
- Alterado: 15/08/2023 20:08
- Autor: Redação
- Fonte: OMA GALERIA
Artistas comentam sobre a relação entre arte
Crédito:divulgação
Dentre os múltiplos desdobramentos que as artes podem explorar, o debate e a discussão sobre temas sociais movimentam grande parte da produção que é feita atualmente no país e no mundo. Tema explorado na música, dramaturgia, cinema, literatura e nas artes visuais, a questão de gênero, identidade e o universo LGBT, além do empoderamento e a expressão feminina vêm ganhando cada vez mais força atualmente.
A artista e professora Juliana Veloso, natural do Rio Grande do Sul, tem como questões centrais de seus estudos e produções o corpo, a sexualidade e as discussões sobre feminilidade em nossa sociedade. Itens que foram explorados em uma das três ocupações que ocorreram na UFABC em forma de um mural de 26 metros, com curadoria da OMA Galeria, que também passou por estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul e São Paulo, por via de um projeto onde 46 mulheres estiveram envolvidas.
Segundo a artista, não houve escolha em relação ao assunto e que estes se posicionaram como um caminho que priorizava as visualidades do universo feminino. Juliana conta que mesmo na infância já desenhava figuras femininas, como por exemplo as princesas que atravessam a infância das meninas e assim passou a observar essa figura enquanto corpo/imagem. Os anos passaram e o contato se intensificou com a vida acadêmica. “Quando passei a ter noção de que as escolhas que eu fazia na graduação diziam muito mais sobre mim e sobre meus desejos de querer discutir esse corpo e problematizar essa imagem da mulher na sociedade, que me percebi dentro dessa esfera dos estudos e lutas feministas”, disse.
A questão do movimento social ligado à produção artística e usada em ações de marketing e propaganda também chamam a atenção de Juliana, que afirma que as diversas lutas retratadas na arte estão virando mercadoria e sendo engolidas. “Assim como outros movimentos que em seus discursos distorcem as nossas lutas, usando-as como ‘mercadoria’ para disseminar o ódio. Existe um lado bom que é levar um discurso que era até então desconhecido para diversas camadas da sociedade e lugares distantes do país. Contudo, nessa perspectiva, os discursos se esvaem e esticam ao máximo, perdendo grande teor e importância de sua discussão e reflexão”, comentou.
A arte em tempos de restrições
Para Juliana, a situação envolvendo a polêmica com o fechamento da exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, em Porto Alegre – RS, a fez repensar sobre a questão da arte como instrumento de conscientização social e os efeitos até mesmo no âmbito educativo. “Como podemos pensar em conscientizar e trabalhar a ideia de respeito se o público já está julgando a arte antes de tentar entendê-la? Talvez aqui a questão a ser levantada não é a forma e até que ponto a arte pode conscientizar as causas sociais, falar das minorias e etc.. Mas pensar o porquê elas não estão sendo interpretadas em seus discursos da forma como elas vêm ao mundo: para problematizar e fazer pensar?”, concluiu.
Já o artista Bruno Novaes, que tem como norte de sua produção a questão LGBT, os relacionamentos humanos e a identidade, acredita que um dos papéis da arte é de mobilizar, apesar de não ter a obrigação de fazê-lo. “Existe uma distância entre o que pensei, o que fiz e como a pessoa vê isso. Não dá para julgar como os outros interpretam minha obra. O trabalho artístico, de alguma maneira, põe o dedo em alguma ferida, principalmente na arte contemporânea”, comentou Novaes.
Também envolvido com o viés educativo, o artista apresentou na UFABC – em uma outra ocupação curada pela OMA Galeria na universidade – o trabalho intitulado “Apostila de Ciências: Ensino Fundamental”, que explorava a questão das pessoas transgêneras e alertava para a urgência de se discutir sobre o assunto dentro de sala de aula.
A polêmica do Queermuseu reativou uma memória recente no artista que passou por uma situação semelhante. Em 2015, um desenho que incorporava uma série de 30 peças e que estava em uma exposição coletiva foi censurada pela própria instituição, apenas dois dias após a abertura. No material, Novaes explorava a sexualidade entre homens como parte de uma trajetória de vida. “Existia visita de crianças e adolescentes e o pedido veio da coordenação geral da instituição. Colocamos um adesivo de censurado no lugar. Foi o que achei que tinha mais a ver para mostrar que não era uma decisão do artista”, lembrou Novaes.
Ele reconhece que atualmente existem diversas formas de pensar entre os jovens e uma pluralidade maior na discussão de temas. Mas mesmo assim, a situação de censura recente liga um alerta em relação às forças conservadoras. “É um trabalho de arte, uma possibilidade de falar de assuntos que nem sempre são agradáveis e que precisam ser ditos”, ressalta.
Em suma, ambos concordam que uma das questões mais importantes dentro desse cenário é refletir sobre a força e o cuidado posto em prática com a discussão dos temas, que ganham proporções diferentes dentro das mídias e nas redes sociais. Enquanto isso, a arte segue mostrando sua força, mobilizando e pautando debates nas mais diversas esferas.
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