Nutrarte incentiva profissionalização de usuários da saúde mental

O Núcleo de Trabalho e Arte (Nutrarte), que integra a rede de saúde mental de São Bernardo do Campo, tem incentivado a profissionalização dos usuários que participam das oficinas de cultura e de geração de renda. Nas atividades laborais realizadas em grupo, norteadas pelos princípios da economia solidária, pessoas em sofrimento psíquico e/ou uso abusivo de álcool e outras drogas descobriram novas habilidades e começam a trilhar uma alternativa profissional.

 É o caso dos usuários da Mater Oficina, que produz móveis e objetos de decoração a partir do reaproveitamento de paletes. Motivados pelo trabalho realizado no grupo, quatro dos dez integrantes iniciaram o curso profissionalizante em marcenaria ofertado pela Escola Municipal Nair da Silva Prata, no Jardim Beatriz. O arquiteto José Munhoz Romero, 57 anos, é um deles. Em tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) AD/Centro desde 2013, há cerca de um ano ele decidiu participar da oficina que ocorre de terça a sexta-feira, das 10h às 16h.

Não demorou muito para que ele se adaptasse à nova rotina e resgatasse os conhecimentos técnicos de sua profissão de origem. “Sempre gostei de projetar, de olhar um material sem forma e imaginar no que poderia ser transformado. Tinha perdido a autoestima e a confiança em mim, e o trabalho me ajuda a resgatar isso”, conta. Quando os coordenadores da Mater Oficina sugeriram o ingresso no curso profissionalizante, Munhoz foi o primeiro a aderir. “Estamos no módulo básico, aprendendo como usar todos os materiais e ferramentas de forma segura, e também novas técnicas de produção. Quero continuar me aperfeiçoando e abraçar essa oportunidade para melhorar minha vida e me levantar socialmente”, planeja.

Assim como Munhoz, Marcelo Fernandes Santos divide seu tempo entre o trabalho na Mater e o curso profissionalizante. Ele conta que há 12 anos se viciou em crack e, desde então, “a vida de transformou em um transtorno infernal”. Conheceu a rede CAPS em 2009, na Capital, e atualmente tem como referência o CAPS AD/Centro. Para Marcelo, a marcenaria tem contribuído de forma decisiva para a sua reabilitação. “As melhores horas do meu dia são as que eu passo trabalhando, com o corpo e a mente ocupados. Me ajuda muito a não ter recaídas”, comenta. Ele faz planos de continuar estudando. “É gratificante produzir um móvel ou uma peça em madeira e ver que o cliente ficou satisfeito, elogiou. Isso motiva a gente.”

Reaproveitar material que seria descartado e transformá-lo em um produto com valor de mercado é simbólico para esses usuários, que tentam reconstruir a autonomia e as relações sociais. A avaliação é do monitor de oficina Roberto Rodrigues de Aguiar, à frente da Mater desde 2013. “Todo dia nasce algo novo na oficina. Percebo que eles se modificam ao realizar esse trabalho. Eles resgatam sua capacidade de produzir, de ser útil, o que muda o modo como se veem e são vistos”, sustenta.

Roberto afirma que a adesão ao curso profissionalizante fortalece tanto os indivíduos quanto o grupo, uma vez que melhora a técnica e amplia os recursos usados na produção. Na Mater Oficina, o lucro obtido com a venda dos móveis, objetos e utensílios é dividido conforme as horas trabalhadas, o que varia muito de mês a mês.  Atualmente, isso não garante o sustento dos usuários, mas o objetivo é que o empreendimento se torne cada vez mais rentável. “Queremos que a Mater ultrapasse a questão terapêutica e seja, de fato, um negócio”, planeja.

Sobre o Nutrarte – Desde 2009, o Nutrate promove ações de inclusão e participação social dos usuários da rede de saúde mental por meio do trabalho e cultura. O núcleo mantém oficinas de costura, alimentação, lavanderia, artesanato, artes plásticas, horta, palhaçaria e lava-rápido, além da marcenaria.

Os interessados em adquirir os produtos da Mater Oficina devem entrar com contato com o Nutrarte pelo telefone 4122-2492. No Facebook, é possível conhecer um pouco mais sobre empreendimento no perfil @mater.oficina.