Ozempic pode proteger contra o Alzheimer

Ozempic e Mounjaro: podem medicamentos para diabetes ajudar a prevenir Alzheimer? Descubra as promessas e desafios dessa pesquisa inovadora!

  • Data: 15/03/2025 17:03
  • Alterado: 15/03/2025 17:03
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Assessoria
Ozempic pode proteger contra o Alzheimer

Crédito:Reprodução

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Nos últimos dez anos, pesquisas têm indicado que os medicamentos como Ozempic e Mounjaro, inicialmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes e da obesidade, podem ter um papel importante na prevenção ou até reversão dos sinais da doença de Alzheimer em modelos animais. Com a crescente popularidade dessas drogas, cientistas estão intensificando investigações para determinar se essas opções terapêuticas podem ser eficazes no combate a essa condição neurodegenerativa.

A evidência preliminar parece promissora, mas especialistas destacam a necessidade de cautela. “Eles apresentam um potencial significativo, mas com os dados atuais, essa é a afirmação mais firme que posso fazer”, afirmou Karolina Skibicka, neurocientista da Universidade Estadual da Pensilvânia.

Descobertas Iniciais

Estudos realizados com roedores mostraram que esses fármacos, que imitam hormônios metabólicos, têm o potencial de melhorar aspectos associados à doença de Alzheimer no cérebro e também podem aumentar as capacidades de aprendizado e memória dos animais testados.

No entanto, a história de medicamentos que demonstram eficácia em camundongos, mas não em humanos, é longa. Até o momento, são escassos os estudos que avaliam a real capacidade desses medicamentos em reduzir o risco de demência em humanos.

Uma análise recente revelou que indivíduos sob tratamento com semaglutida (o ingrediente ativo do Ozempic e do Wegovy) apresentaram entre 40% e 70% menos chances de receber um diagnóstico de doença de Alzheimer ao longo de três anos em comparação àqueles que utilizavam outras medicações para diabetes.

Outro estudo publicado recentemente, que revisou dados do Departamento de Assuntos dos Veteranos, encontrou resultados semelhantes: usuários desses medicamentos tiveram um risco reduzido de desenvolver demência em comparação aos que utilizavam outras opções terapêuticas para diabetes, embora a redução tenha sido mais modesta, em torno de 10%.

Ziyad Al-Aly, líder da pesquisa no Sistema de Saúde dos Assuntos dos Veteranos de St. Louis e autor do estudo mencionado, ressalta: “Os resultados são promissores, mas sendo esses estudos observacionais, é desafiador afirmar se os medicamentos são responsáveis diretamente por esse benefício ou se a correlação é meramente coincidente”.

Ensaios Clínicos em Andamento

Além disso, existem ensaios clínicos focados na utilização desses medicamentos em pacientes já diagnosticados com demência. Resultados preliminares apresentados em uma conferência da Associação de Alzheimer mostraram que pacientes com Alzheimer leve tratados com liraglutida (comercializada como Victoza) apresentaram uma desaceleração na perda cognitiva e no volume cerebral quando comparados ao grupo controle que recebeu placebo.

Ainda assim, os benefícios observados foram modestos e não foi possível afirmar se essa intervenção alteraria significativamente o quadro clínico dos pacientes. Paul Edison, professor de neurociência da Faculdade Imperial de Londres e responsável pelo estudo, destacou que os achados são encorajadores e outros ensaios clínicos seguem em curso para avaliar se a semaglutida pode contribuir para retardar a progressão da doença.

Mecanismos Potenciais de Ação

Ainda não está claro como medicamentos como o Ozempic poderiam oferecer proteção contra doenças neurodegenerativas. No entanto, pesquisadores formulam algumas hipóteses sobre seus possíveis mecanismos de ação:

  • Melhoria da saúde metabólica: Dado que diabetes e obesidade são fatores de risco conhecidos para demência, esses medicamentos podem atuar na redução desse risco ao melhorar a saúde metabólica. Ambas as condições estão ligadas ao aumento da inflamação sistêmica; assim, acredita-se que a redução dessa inflamação possa ter um efeito positivo também no cérebro.
  • Redução da resistência à insulina: Uma função saudável da insulina é crucial para o processo de formação da memória; a resistência à insulina tem sido associada à doença de Alzheimer. Pesquisas sugerem que esses medicamentos podem melhorar a sinalização da insulina no cérebro, contribuindo para a proteção contra neurodegeneração.
  • Benefícios diretos ao cérebro: Esses fármacos atuam em receptores específicos no cérebro relacionados ao metabolismo e à fome. Há indícios de que eles possam influenciar regiões envolvidas no aprendizado e na memória. A exenatida (Byetta), um medicamento mais antigo e menos utilizado, demonstrou acesso a áreas profundas do cérebro afetadas precocemente pela doença.
  • Diminuição do acúmulo da proteína tau: Estudos realizados com camundongos indicam que esses medicamentos podem reduzir o acúmulo dessa proteína no cérebro, um fator chave na progressão da doença de Alzheimer.

Acredita-se que os potenciais benefícios das drogas resultem não apenas de um único fator isolado, mas sim da interação entre diversos mecanismos. Edison observa: “Esses medicamentos não estão apenas agindo sobre a resistência à insulina; sua atuação abrange múltiplos processos”.

Diante do panorama limitado das opções terapêuticas disponíveis para tratar a doença de Alzheimer, qualquer avanço nesse sentido será recebido como uma vitória significativa pelos especialistas. Al-Aly conclui: “A escassez de tratamentos eficazes torna qualquer nova abordagem extremamente valiosa”.

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  • Data: 15/03/2025 05:03
  • Alterado:15/03/2025 17:03
  • Autor: Redação ABCdoABC
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