Arminhas de Gel: riscos e consequências para a saúde ocular e segurança pública
Especialistas alertam sobre ferimentos oculares graves e medidas restritivas em várias cidades do Brasil.
- Data: 02/01/2025 14:01
- Alterado: 02/01/2025 14:01
- Autor: Redação
- Fonte: DGABC
Crédito:Divulgação/Polícia Militar
As chamadas arminhas de gel, apresentadas como uma forma de entretenimento inofensivo, têm gerado preocupação em diversas cidades brasileiras devido ao potencial de causar ferimentos graves, especialmente nos olhos. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) emitiu um alerta, destacando os riscos associados a essas “brincadeiras” que se popularizaram entre crianças e adolescentes.
Os dispositivos, que disparam pequenas bolinhas de gel, rapidamente se tornaram o centro de atividades recreativas organizadas nas redes sociais, levando a grupos a promoverem “batalhas” nas ruas, semelhantes às experiências do paintball. No entanto, esse fenômeno levou algumas localidades a implementar medidas restritivas. Cidades como Olinda e Paulista, no Grande Recife, proibiram a utilização das arminhas após o registro de múltiplos ferimentos.
De acordo com a Fundação Altino Ventura (FAV), referência em oftalmologia na região, entre 30 de novembro e 27 de dezembro do ano passado, aproximadamente 90 pacientes foram atendidos em emergências devido a lesões oculares causadas por projéteis de gel. As feridas variam desde arranhões na córnea até inflamações e sangramentos.
Casos semelhantes também foram reportados em estados como São Paulo e Rio de Janeiro. A SBO advertiu que as bolinhas disparadas podem provocar lesões severas no globo ocular, resultando em problemas que vão desde hematomas e inflamações até descolamento de retina e ruptura do globo ocular.
O oftalmologista Flávio Maccord, diretor da SBO, enfatiza que esses traumas podem desencadear inflamações secundárias como uveítes, que afetam o revestimento interno do olho. Os sintomas incluem dor intensa, vermelhidão e perda de visão. Além disso, essas lesões podem evoluir para complicações sérias como o glaucoma, uma condição incurável que pode resultar em cegueira se não tratada adequadamente.
A SBO fez um apelo à população sobre a necessidade de usar óculos de proteção ao manusear esses equipamentos. “Essas armas não devem ser consideradas brinquedos”, destacou a instituição.
Embora amplamente comercializadas dessa forma, as arminhas de gel não estão categorizadas como brinquedos pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). O Inmetro já havia emitido alertas sobre esses dispositivos, indicando que eles se assemelham mais a equipamentos utilizados em atividades como airsoft e paintball do que a objetos destinados ao lazer infantil. Por conseguinte, a regulamentação desses itens é determinada pelo Decreto nº 11.615/2023 que estabelece regras para a aquisição de armas e acessórios.
A comercialização das arminhas ocorre principalmente em lojas online e feiras populares. Os preços variam consideravelmente entre R$ 80 e R$ 380 dependendo do modelo. As bolinhas têm um diâmetro aproximado de 8 milímetros e podem ser disparadas a distâncias que variam entre cinco e dez metros.
Além dos riscos à saúde individual, as arminhas também representam uma questão de segurança pública. O capitão Felipe Neves da Polícia Militar de São Paulo ressaltou os perigos potenciais dessas brincadeiras, que podem resultar em mal-entendidos ou acidentes graves. A Secretaria de Segurança Pública também alertou sobre o risco da confusão com armas reais devido à semelhança dos equipamentos.
Em caso de acidente envolvendo os projéteis de gel nos olhos, Maccord recomenda as seguintes medidas imediatas:
- Lavar o olho afetado com água limpa ou soro fisiológico;
- Proteger a área com um pano limpo ou gaze;
- Buscar atendimento médico especializado sem tentar remover objetos ou utilizar colírios por conta própria.
A gravidade das lesões determina o tratamento necessário. Lesões superficiais podem ser tratadas com lubrificantes oculares e antibióticos para prevenir infecções. No entanto, casos mais severos como hifema ou descolamento de retina podem necessitar intervenção cirúrgica.