Jazz-resistência: o que importa é ouvir boa música
Saxofonista Flávio Bala faz apresentação gratuita no Teatro Elis Regina em fevereiro. Assista ao vídeo e veja nossa agenda de eventos para se informar mais.
- Data: 27/05/2013 15:05
- Alterado: 22/08/2023 21:08
- Autor: Redação
- Fonte: Flavio Bala, músico saxofonista, formado na Berklee College of Music
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Hoje, no Brasil, se faz jazz-resistência. Se o jazz cedeu quase todo espaço ao rock’n’roll a partir da década de 70, a situação ficou ainda mais apertada com a consagração nacional de novos ritmos populares (como axé, funk, sertanejo e suas variações) que acabaram ganhando espaço nas rádios, nos programas televisivos e, principalmente, nos shows e bares com música ao vivo. Até mesmo nos Estados Unidos, berço do jazz, esse estilo musical enfrenta dificuldades e tem um público tão seleto quanto restrito. Tanto é assim que, enquanto muitos artistas investem em campanhas milionárias para concorrer ao Grammy, no quesito jazz o que concorre é a qualidade mesmo. A competitividade é mínima (o que, por outro lado, é muito bom).
Na opinião de Flavio Bala, saxofonista que acaba de lançar o CD “Noel Rosa ao entardecer” durante temporada no Sesc Pompéia (SP), a boa música instrumental está ficando restrita a poucas casas de jazz&blues nas grandes capitais, como o Bourbon Street, TonTon Jazz, Jazz nos Fundos e Teta – todas em São Paulo. “Há algumas tímidas iniciativas das secretarias de cultura e projetos como o do Sesc. Até mesmo numa cidade cosmopolita como São Paulo, onde existe de fato um público que aprecia música instrumental ao vivo, as oportunidades precisam aumentar. Se, hoje, somos contratados para tocar para plateias vip em eventos fechados e festas, o ideal seria ganhar mais espaço em grandes eventos culturais, para que a população possa entrar mais em contato com o jazz e todas as possibilidades que cada instrumento oferece”.
Bala também comenta os grandes festivais de jazz. No Brasil, entre 1985 e 2001, havia o Free Jazz Festival – que trazia grandes nomes do jazz mundial, principalmente norte-americano. Depois de perder o apoio da Souza Cruz, o festival retornou em 2003 como Tim Festival. Mas durou somente até 2008. Depois de um hiato de três anos, surgiu o BMW Jazz Festival, que está na terceira edição (em junho). “Apesar de esse evento estar resistindo às oscilações com relação a patrocínio, ele ainda concentra um número muito grande de artistas estrangeiros. Seria interessante haver maior participação de músicos brasileiros. Tanto quanto na música clássica, há muitos bons jazzistas no Brasil. Não podemos nos esquecer do grande Paulo Moura, que nos deixou em 2010, nem de Nivaldo Ornelas, que ainda está na ativa aos 71 anos. É preciso divulgar mais o trabalho dos instrumentistas brasileiros em geral”.
Assim como a origem do samba é afro-brasileira, o jazz tem origem afro-americana e conquistou admiração e respeito pelo uso de instrumentos clássicos como o sax, trompete, piano, bateria, trombone e baixo. De improviso, o ‘samba-jazz’ nasceu no início dos anos 50, mas foi na década seguinte, principalmente de mãos dadas com a bossa nova (muito popular nessa época), que o samba-jazz ganhou o mundo. Centenas e centenas de discos foram lançados nos Estados Unidos, Europa e Japão – atraindo novos admiradores e provocando também uma mudança de opinião no meio musical brasileiro. Muitos jovens músicos ‘verde-amarelos’ passaram a idolatrar Charlie Parker (Bird), Duke Ellington, Dizzie Gillespie, Miles Davis, John Coltrane, entre tantos outros nomes relevantes do universo jazzístico. Foi um amor correspondido: em 1962, Stan Getz gravou com Charlie Byrd a música “Desafinado”, de Tom Jobim – e foi um sucesso. Tudo o que se espera é que essa corrente da ‘jazz-resistência’ faça renascer das cinzas os bons tempos do nosso samba-jazz.
Agenda: Show do Saxofonista Flávio Bala