Novo coronavírus é descoberto em morcego na China
Pesquisadores chineses descobrem um novo coronavírus em morcegos, que utiliza o mesmo receptor do Sars-CoV-2, o ACE-2, e alertam sobre a possibilidade de transmissão para humanos.
- Data: 21/02/2025 21:02
- Alterado: 21/02/2025 21:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Um estudo recente, publicado na renomada revista Cell, e um artigo complementar na Nature, revelam que o HKU5-CoV-2 utiliza o mesmo receptor celular que o Sars-CoV-2, agente causador da Covid-19. Os autores do estudo indicam que isso poderia facilitar a infecção em humanos, embora virologistas consultados pela Folha considerem, por ora, a ameaça de uma pandemia como improvável.
O HKU5-CoV-2 possui a capacidade de adentrar células através da proteína conhecida como ACE-2, presente em diversas espécies, incluindo os humanos. Embora consiga infectar células humanas cultivadas em laboratório, principalmente nas vias aéreas e no intestino, essa capacidade é inferior à do Sars-CoV-2.
Esper Kallás, médico infectologista e professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), enfatiza que o estudo se concentra na identificação de mais um coronavírus. A particularidade desse vírus reside no fato de que ele não utiliza o receptor DPP4, comum entre seus semelhantes, mas sim o receptor ACE-2, semelhante ao do Sars-CoV-2. “A estrutura molecular na superfície é bastante parecida com a do coronavírus NL63, que causa resfriados comuns”, explica Kallás. Ele ressalta a importância de continuar investigando esses vírus devido ao seu potencial pandêmico.
Morcegos são conhecidos por abrigarem diversos tipos de coronavírus, que ocasionalmente podem ser transmitidos a humanos por meio de outros animais. Exemplos notáveis incluem o Sars-CoV-2 e o vírus responsável pela síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS).
O professor Maurício Nogueira, da Faculdade de Medicina de Rio Preto, observa que até o momento não foram registrados casos de infecção humana pelo HKU5-CoV-2, o que coloca essa nova cepa em uma categoria menos preocupante se comparada a outros patógenos como o vírus da gripe aviária.
A avaliação sobre o risco de pandemia relacionada ao HKU5-CoV-2 foi abordada pelo infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Segundo Barbosa, a questão central reside na capacidade desse vírus se adaptar aos receptores celulares humanos e se tornar patogênico.
A primeira sequência genética do HKU5 foi realizada pelo principal autor do estudo, Jing Chen, junto à sua equipe no Instituto de Virologia de Wuhan em 2014, utilizando amostras coletadas de morcegos do gênero Pipistrellus.