Moradores de favelas sofrem com calor e desabastecimento de água e luz no RJ

Calor extremo em fevereiro provocou falta de água e energia em diversas favelas do Rio, prejudicando milhares de moradores.

  • Data: 22/02/2025 12:02
  • Alterado: 22/02/2025 12:02
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: FOLHAPRESS
Moradores de favelas sofrem com calor e desabastecimento de água e luz no RJ

Crédito:Reprodução

Você está em:

As altas temperaturas que atingiram o Brasil em fevereiro deste ano trouxeram desafios significativos, especialmente para os residentes de favelas no Rio de Janeiro. Muitas comunidades experimentaram interrupções prolongadas no fornecimento de água e energia elétrica.

As concessionárias responsáveis pelos serviços públicos atribuíram as falhas a um aumento no consumo durante o verão, aliado à presença de ligações clandestinas, popularmente conhecidas como “gatos”.

No Vidigal, uma comunidade na zona sul do Rio de Janeiro, conhecida por sua vista para o mar e fluxo turístico intenso, a situação começou a ser normalizada na quinta-feira (20), quando equipes da concessionária Águas do Rio realizaram reparos no sistema de abastecimento.

Uma visita ao local confirmou a presença de agentes da empresa em várias áreas. No entanto, nas partes mais altas da comunidade, onde as condições habitacionais são mais precárias e o acesso é mais complicado, a realização dos reparos se mostrou desafiadora.

Aline Santana de Sousa, uma residente de 45 anos que vive no centro do Vidigal com sua família, relatou ter passado 13 dias sem acesso a água potável. Aline cuida do filho autista de cinco anos, além de uma tia acamada de 78 anos, e enfrentou dificuldades significativas em sua rotina diária.

Um dos maiores desafios foi subir e descer mais de 45 degraus inúmeras vezes para encher baldes com água da torneira que funcionava na loja da família, localizada no primeiro andar do imóvel. Os baldes eram então transportados para seu apartamento no terceiro andar.

“Durante o dia, eu cuidava do meu filho e trabalhava, então só conseguia buscar água durante a madrugada”, explicou Aline. O calor intenso deixou seu filho agitado e impossibilitou que ele brincasse fora de casa devido à sujeira na laje.

Os cuidados com sua tia também foram prejudicados; as roupas de cama acumularam-se na varanda por dias e a água para beber teve que ser racionada e adquirida no supermercado. “A prioridade era garantir a saúde da minha tia, que necessita de água”, disse Aline.

De acordo com o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Vidigal possui aproximadamente 11.375 habitantes em 4.896 domicílios. Entretanto, muitos moradores acreditam que esses números são subestimados e afirmam que o número real seria quase o dobro. A Rocinha, uma das maiores favelas da cidade com cerca de 72 mil moradores, também registrou relatos semelhantes sobre a falta d’água.

A Águas do Rio, responsável pelo abastecimento em diversas áreas da cidade desde 2021, declarou que o calor extremo impactou negativamente o sistema de distribuição. A empresa relatou que houve diminuição na pressão da água em várias localidades devido ao consumo elevado durante esse período crítico.

A companhia continua monitorando a situação na tentativa de restaurar os níveis adequados de fornecimento.

Em uma ação civil pública movida pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro em 2023, foi solicitado acesso gratuito ao mínimo vital de água para aqueles que não conseguem arcar com as contas. Este mínimo é estimado em pelo menos 20 litros por pessoa por dia, conforme estudos utilizados para embasar a petição. A ação recebeu apoio da Faferj (Federação das Favelas do Estado do Rio de Janeiro).

No entanto, em 2024, o Tribunal de Justiça do Rio considerou que o pedido se configurava como uma “política pública”, impossibilitando assim a imposição judicial sobre um serviço público privatizado.

Por outro lado, na comunidade São Carlos, situada no Estácio de Sá, região central do Rio, a questão foi a falta de energia elétrica.

Fabrícia Ramos Mendes, uma mãe de três filhos e cuidadora do pai idoso, enfrentou um cenário insustentável durante uma onda de calor que chegou aos 44°C.

Fabrícia ficou sem energia por 72 horas e teve que dormir com portas e janelas abertas por medo das altas temperaturas. “Com apenas quatro cômodos em um espaço reduzido para cinco pessoas e um ar-condicionado, já era complicado; sem luz tornou-se insuportável”, afirmou.

Igor Ribeiro, motorista de aplicativo residente na Vila Aliança em Bangu, também lidou com dois dias sem eletricidade e levou sua família para dormir na casa de parentes fora da comunidade devido ao desconforto causado pelo calor excessivo.

A Light Energias atribuiu as interrupções nas comunidades mencionadas às ligações clandestinas na rede elétrica e garantiu que suas equipes técnicas estão trabalhando diariamente para resolver os problemas identificados.

A empresa explicou que em áreas com altos índices de furto energético, o aumento da demanda durante períodos quentes agrava ainda mais a sobrecarga do sistema elétrico. De acordo com dados fornecidos pela Light, nos primeiros dias de fevereiro houve uma demanda adicional impressionante de 391 megawatts em comparação ao mês anterior inteiro.

A Light atende cerca de dez milhões de clientes no estado do Rio e destaca que mesmo com uma rede robusta, os efeitos do calor extremo têm intensificado as exigências sobre o sistema elétrico.

Compartilhar:

  • Data: 22/02/2025 12:02
  • Alterado:22/02/2025 12:02
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: FOLHAPRESS









Copyright © 2025 - Portal ABC do ABC - Todos os direitos reservados