Itaú Cultural recebe a temporada em SP do musical Leci Brandão – na palma da mão

O texto de Leonardo Bruno, dirigido por Luiz Antonio Pilar, conta a história da artista pelo olhar de sua mãe, sedimentando a tradição familiar que compõe a trajetória de Leci

  • Data: 28/07/2023 14:07
  • Alterado: 28/07/2023 14:07
  • Autor: Redação
  • Fonte: Itaú Cultural
Itaú Cultural recebe a temporada em SP do musical Leci Brandão – na palma da mão

Musical Leci Brandão - Na Palma da Mão

Crédito:Divulgação

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De 3 a 6 de agosto (quinta-feira a domingo), o Itaú Cultural apresenta a temporada de estreia em São Paulo do musical Leci Brandão – Na Palma da Mão, espetáculo que reverencia a vida e a obra da cantora e compositora que lhe dá nome. A história desta mulher à frente de seu tempo e uma das grandes referências da música brasileira, pioneira em momentos diversos de um caminho de quase meio século de carreira, é contada a partir da sua relação com Dona Lecy, sua mãe, que morreu em 2019, aos 96 anos. A direção é de Luiz Antonio Pilar e o texto é assinado pelo jornalista e escritor Leonardo Bruno. As atrizes e cantoras Tay O’Hanna e Verônica Bonfim interpretam, respectivamente, a filha e a mãe.

Toda a programação do Itaú Cultural é gratuita. Os ingressos são disponibilizados semanalmente a partir da quarta-feira anterior à apresentação, e devem ser reservados pela plataforma INTI (acesso pelo site www.itaucultural.org.br).

Sem linha cronológica, a peça é guiada pelo olhar de Dona Lecy, maior referência da vida de Leci. Segundo o diretor, são reminiscências da artista, interpretadas em cena ora por mãe, ora pela filha, e com olhares ainda maiores voltados à ancestralidade. “A ideia foi construir um espetáculo cujo arcabouço mostrasse toda a tradição familiar e religiosa, o respeito e a educação de uma família preta, que a Leci traz”, resume o diretor.

Tay e Verônica são acompanhadas no palco pelo ator Sérgio Kauffmann. Ele representa diversos personagens masculinos presentes na vida da cantora. Um deles, por exemplo, é o líder comunitário Zé do Caroço, inspiração de uma de suas músicas mais famosas. Outros são Cartola, Antonio Francisco da Silva, pai de Leci, e Flávio Cavalcanti. As canções são interpretadas ao vivo, ao lado dos músicos Matheus Camará (violão, clarinete e agogô), Rodrigo Pirikito (violão, cavaquinho e xequerê) e Thainara Castro e Pedro Ivo (percussão), sob direção musical de Arifan Junior.

Grande parte dos 17 números do espetáculo é composta por canções da própria Leci, como A filha da Dona Lecy, Ombro amigo, Gente negra e Preferência. A trilha sonora também incorpora momentos do início da carreira da compositora desconhecidos do grande público. Tema do amor de você, de 1964, por exemplo, foi a sua primeira composição. Escrita após uma desilusão amorosa permanecia inédita. Por sua vez, a cantora apresentou Não falo de guerra, nem falo de morte, escrita em 1968, no programa de Flávio Cavalcanti, sua primeira aparição pública. A letra desta música permaneceu, mas a melodia se perdeu. Na montagem do musical, a canção ganhou novo ritmo pelas mãos de Verônica.

A outra parte é formada por músicas significativas na trajetória da artista, como Corra e olhe o céu, de Cartola, e o samba-enredo da Mangueira História pra ninar gente grande, campeão de 2019.

Uma árvore de 2,50m rodeada por pedras é o destaque do cenário do espetáculo, que representa um grande quintal, um terreiro em tons terrosos e verde, com o chão todo coberto de folhas secas de mangueira. Dessas folhas, surgem peças do figurino criados por Rute Alves, como elementos cênicos e usados pelos atores, que não saem de cena durante o espetáculo.

A simbologia do candomblé, também muito presente na vida da artista, é um dos fios condutores da dramaturgia. Filha de Ogum e Iansã na religião africana, Leci passou cinco anos sem gravar desde que se afastou da Polygram, por não aceitar reescrever suas letras. Em uma consulta às entidades no terreiro, ouviu que tudo ficaria bem. Assim, assinou com uma gravadora nacional, gravou um disco com seu nome e estourou. Em agradecimento, todos os seus discos, a partir de então, tem uma saudação a um Orixá.

“O espetáculo está estruturado dessa forma. A primeira saudação é para Exu, para abrir os caminhos. A todo momento esses Orixás vêm e assim vamos alicerçando a cena”, explica o diretor do espetáculo, que estreou em janeiro, no SESC Copacabana, seguindo em outras temporadas no Rio de Janeiro.

Passos

Para escrever Leci Brandão – Na Palma da Mão, sua estreia na dramaturgia teatral, Leonardo Bruno se inspirou nas pesquisas que fez para o livro Canto de Rainhas (Agir, 2021), nas quais percebeu como a artista era avançada para a época.

Primeira mulher a integrar a Ala de Compositores da Mangueira, e segunda mulher negra a ser eleita para a Assembleia Legislativa de São Paulo, Leci Brandão assumiu a homo afetividade publicamente no fim dos anos 1970, em entrevista ao jornal Lampião da Esquina. Seus cinco primeiros discos, lançados na segunda metade dos anos de 1970, já falam de temáticas discutidas na atualidade, como mulheres, negros, LGBT e desigualdade social, entre outras.

É autora de sucessos atemporais como Papai vadiou, Isso é fundo de quintal, Essa tal criatura, Ombro amigo e Zé do Caroço, este último regravado por artistas diversos como Seu Jorge, Anitta, Mariana Aydar, Grupo Revelação e a banda de rock Canto Cego. Mas também rompeu com uma gravadora que queria lhe impor repertório. Leci traz em suas letras muito de quem ela é e suas histórias de vida.

A cantora estendeu sua luta política para o plenário e, já radicada em São Paulo, se filiou ao PcdoB, tendo sido eleita deputada estadual em 2010 com 86.298 votos. Atualmente em seu quarto mandato, recebeu 90.496 votos em 2022. Aos 78 anos, segue ativa na música e na vida parlamentar, conclamando o povo para levar na palma da mão a luta pelas causas de todos os marginalizados.

Elenco e direção

Luiz Antonio Pilar, direção e adaptação dramatúrgica

Carioca, nascido e criado na Vila Vintém, estudou Teatro na Escola Martins Penna e se formou em artes cênicas, direção teatral, pela UniRio. Dirigiu o longa-metragem de ficção Lima Barreto, ao Terceiro Dia. Ainda no cinema, produziu e dirigiu o documentário Candeia, em memória aos 40 anos da morte do compositor, O Papel e o Mar, selecionado no concurso de apoio à produção da RioFilme, Em Quadro – A História de 4 Negros nas Telas e Remoção.

Na TV Globo, dirigiu novelas como Desejo Proibido, Sinhá Moça e A Padroeira. Na extinta TV Manchete fez parte da equipe de direção de grandes sucessos como Xica da Silva e Mandacaru. Em A Cor da Cultura, uma parceria com o Canal Futura e a TV Globo, criou os documentários Mojubá, sobre a influência das diversas manifestações da religiosidade de matriz africana, e Heróis De Todo Mundo, 60 filmes biográficos sobre personalidades negras da história do Brasil.

No teatro foi responsável por espetáculos como Os Negros, de Jean Genet; Paparutas, de Lázaro Ramos; Lima Barreto, ao Terceiro Dia, de Luís Alberto de Abreu, e Ataulfo Alves, o Bom Crioulo, de Enéas Carlos Pereira e Edu Salemi.

SERVIÇO

Musical Leci Brandão – Na Palma da Mão

com texto do jornalista e escritor Leonardo Bruno.

De 3 a 6 de agosto (quinta-feira a domingo)

Quinta-feira a sábado, às 20h. Domingo e feriados, às 19h.

Duração: 85 minutos

Na Sala Itaú Cultural (Piso Térreo)

Capacidade: 224 lugares

Classificação Indicativa:  12 anos [violência, estigma, preconceito]

Entrada gratuita. Reservas de ingressos na semana anterior às sessões através plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br 

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  • Data: 28/07/2023 02:07
  • Alterado:28/07/2023 14:07
  • Autor: Redação
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