Federal Reserve mantém taxa de juros na primeira reunião de 2025
Decisão ocorre em um contexto de crescente pressão de Trump por reduções.
- Data: 29/01/2025 16:01
- Alterado: 29/01/2025 16:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Divulgação/Freepick
Na sua primeira reunião de política monetária de 2025, o Federal Reserve (Fed) decidiu por unanimidade manter a taxa de juros nos Estados Unidos na faixa de 4,25% a 4,50%. Esta escolha interrompe uma série de três cortes consecutivos e ocorre em um contexto de crescente pressão por parte do presidente Donald Trump para que mais reduções sejam implementadas.
A decisão do Fed já era amplamente antecipada pelo mercado. Após a reunião realizada em dezembro, os membros da instituição sinalizaram uma postura mais cautelosa devido à persistência da inflação acima da meta de 2%, ao fortalecimento do mercado de trabalho e à incerteza em relação aos impactos econômicos resultantes de eventuais mudanças nas políticas monetárias.
O relatório mais recente sobre preços ao consumidor indicou um leve aumento na inflação em dezembro, influenciada pela volatilidade nos preços de energia — um fator que o Fed considera cuidadosamente em suas análises. Por outro lado, o núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, apresentou uma leve queda.
Adicionalmente, um estudo do Bureau of Labor Statistics revelou que os preços dos aluguéis para novos contratos de apartamentos caíram nos últimos meses de 2024, gerando maior confiança em relação à desaceleração da inflação no setor habitacional.
As projeções feitas ao final da reunião anterior sugeriram que o Fed poderia considerar dois cortes de juros de 0,25 pontos percentuais durante este ano, caso os dados econômicos se mostrassem favoráveis. Contudo, a possibilidade de choques inflacionários — alguns provocados diretamente pelas declarações do presidente — pode adiar essas reduções. Economistas e investidores não preveem novos cortes antes de junho.
Durante esse intervalo, é esperado que os formuladores de políticas mantenham uma abordagem cautelosa até que haja maior clareza sobre a trajetória da inflação e sobre as propostas econômicas da administração Trump.
Essa dinâmica nos EUA contrasta com as expectativas para a taxa Selic no Brasil, cujo aumento já foi sinalizado pelo Banco Central na ata da última reunião em 2024.
REAGINDO AO MERCADO
Antes do anúncio oficial do Fed, as ações nos EUA registraram mínimas. Após a decisão, os títulos do governo apresentaram leve queda e as ações ampliaram suas perdas. O rendimento dos títulos do Tesouro com vencimento em dois anos subiu para 4,25%, enquanto os títulos com vencimento em dez anos atingiram 4,58%.
Nos mercados acionários, o S&P 500 caiu 0,7%, acentuando uma baixa anterior. O Nasdaq Composite viu uma redução de 0,8%, refletindo a desconfiança dos investidores diante das recentes decisões monetárias.
A PRESSÃO DA ADMINISTRAÇÃO TRUMP
Analistas afirmam que o presidente do Fed, Jerome Powell, enfrentará desafios significativos ao tentar manter a confiança do mercado frente às pressões da Casa Branca. Claudia Sahm, economista-chefe da New Century Advisors e ex-funcionária do Fed, ressaltou que intervenções diretas nas decisões monetárias podem levar a consequências indesejadas.
Sahm destacou que “cortar taxas quando a inflação ainda está acima da meta pode agravar o problema inflacionário” e reiterou a importância da independência do Fed como instituição. Durante seu primeiro mandato, Trump já havia criticado abertamente as decisões do banco central e essas críticas ressurgiram durante sua campanha para reeleição em 2024.
No início deste segundo mandato, Trump reiterou suas opiniões sobre as taxas de juros e deixou claro seu desejo por reduções substanciais. “Acredito conhecer as taxas de juros melhor do que eles”, afirmou o presidente recentemente.
A abordagem crítica adotada por Trump contrasta com a tradição anterior dos presidentes americanos em evitar interferências diretas nas políticas monetárias. O mandato atual de Powell se estende até 2026 e ele já declarou que não renunciará caso seja solicitado pelo presidente.
Ainda assim, é fundamental notar que o Fed mantém sua autonomia em relação ao governo federal. Com objetivos voltados para o pleno emprego e estabilidade dos preços, o banco opera sem depender das decisões orçamentárias ou financeiras do Executivo ou Legislativo.
Isabella Weber, economista da Universidade de Massachusetts Amherst, observou que qualquer afrouxamento nas políticas monetárias poderia ser interpretado como uma concessão às pressões externas e comprometeria a independência do Fed.