Equipe econômica de Lula avalia impacto da queda na aprovação e prega cautela
Pesquisas indicam pressão política, mas técnicos alertam para riscos de ações que ampliem incertezas econômicas.
- Data: 16/02/2025 20:02
- Alterado: 16/02/2025 20:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Integrantes da equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm se manifestado sobre a recente pesquisa do Datafolha, que revelou uma acentuada queda na aprovação do mandatário. A avaliação geral entre os técnicos é de que é crucial manter a cautela e evitar ações precipitadas que possam agravar as incertezas econômicas e impactar negativamente a taxa de câmbio, um aspecto fundamental na luta contra a inflação, que afeta diretamente o bem-estar da população.
Conforme reportagens da Folha, entrevistas com autoridades das pastas econômicas e membros do Palácio do Planalto indicam um reconhecimento dos bastidores sobre a possibilidade de pressões políticas por medidas mais agressivas em resposta aos resultados da pesquisa. No entanto, há uma preocupação latente de que uma mudança abrupta na abordagem governamental poderia ser prejudicial, levando a uma percepção errônea de que seria necessário um “cavalo de pau” para reverter a situação.
Antes mesmo da divulgação dos novos dados do Datafolha, já circulavam temores no mercado financeiro acerca da adoção de políticas populistas por parte do governo, especialmente com 2026 se aproximando no horizonte político. Medidas como o aumento das despesas públicas ou tentativas de contornar os limites fiscais são vistas como riscos potenciais.
Técnicos e autoridades ressaltam que não há espaço orçamentário para a expansão de gastos públicos, mesmo diante da queda na popularidade do presidente. Em contrapartida, há esperança em iniciativas como o projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda para pessoas com renda até R$ 5.000. Esta proposta visa mitigar o descontentamento entre a classe média e deve ser acompanhada de medidas para taxar os mais abastados, buscando equilibrar a arrecadação fiscal.
A pesquisa Datafolha, divulgada na última sexta-feira (14), indicou que a aprovação ao governo Lula despencou de 35% para 24% em apenas dois meses, um marco negativo em suas três gestões. Além disso, a reprovação subiu de 34% para 41%, enquanto o percentual de pessoas que consideram o governo regular passou de 29% para 32%. Essa deterioração na avaliação ocorre em meio ao aumento dos preços dos alimentos, que impacta significativamente os consumidores de menor renda.
Os resultados também refletem uma crise associada ao sistema Pix no início do ano, quando normas novas foram implementadas pela Receita Federal visando melhorar a fiscalização das transações financeiras. A oposição explorou essas mudanças para propagar informações enganosas sobre uma suposta taxação do Pix, forçando o governo a recuar em sua posição.
Um dos técnicos envolvidos no governo reconhece o impacto negativo da deterioração na aprovação popular, mas acredita que existe uma consciência entre os membros do Executivo sobre a necessidade de “manter a calma” para evitar criar ainda mais instabilidade.
A experiência adquirida ao longo das dificuldades relacionadas aos preços dos alimentos parece ter ensinado à administração que não existem soluções simples ou rápidas para problemas complexos. O próprio governo gerou confusão ao discutir intervenções para reduzir preços alimentares; declarações feitas pelo ministro Rui Costa sobre um conjunto de intervenções causaram mal-entendidos no mercado financeiro devido à conotação negativa associada à palavra “intervenção”.
Em um contexto onde nenhuma solução imediata parece viável, a inflação dos alimentos é vista como um dos principais obstáculos enfrentados pelo governo. Um ministro, que pediu anonimato, enfatizou que expandir os gastos públicos em resposta à pesquisa seria contraproducente e teria efeitos negativos sobre o câmbio e os preços gerais.
Ademais, o impacto mais significativo da pesquisa deve se manifestar na agenda política do governo, levando à aceleração e aprofundamento da reforma ministerial. A expectativa dentro do governo é que as pressões inflacionárias diminuam ao longo do ano, embora certos produtos ainda possam enfrentar aumentos contínuos nos preços.
A equipe técnica acredita que o aumento da Selic contribuirá para controlar os preços sem provocar um aumento acentuado no desemprego — fator que poderia intensificar o descontentamento popular. O governo também aposta na implementação de outras medidas anunciadas anteriormente, como novos modelos de empréstimos consignados privados e reformas no Auxílio-Gás.
O ministro Carlos Lupi (Previdência Social) comentou sobre a pesquisa Datafolha como uma “fotografia do momento”, ressaltando que o restabelecimento da normalidade poderá beneficiar as próximas avaliações governamentais. Ele mencionou que o futuro próximo pode exigir apenas “pequenos ajustes”, dependendo das condições externas e internas.
“Tivemos falhas em comunicar nossos avanços à população e vários fatores externos criaram um ambiente desfavorável. No entanto, estamos começando a observar melhorias: queda no dólar, expectativa de uma safra agrícola robusta e redução da inflação estão se alinhando a nosso favor. Nos próximos meses, esperamos voltar ao crescimento econômico sob a liderança do presidente Lula”, concluiu Lupi.