Direita e centrão criticam insistência de Bolsonaro em concorrer à eleição de 2026
Líderes políticos articulam alternativas para evitar que insistência do ex-presidente comprometa a eleição.
- Data: 22/02/2025 12:02
- Alterado: 22/02/2025 12:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Nos bastidores políticos, lideranças da direita e do centrão demonstram crescente resistência ao projeto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de concorrer novamente à presidência em 2026, apesar da sua inelegibilidade. Informações obtidas pela Folha revelam que dirigentes partidários e parlamentares estão preocupados com a possibilidade de a insistência de Bolsonaro em manter sua candidatura comprometer as chances de vitória nas próximas eleições.
A recente denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, que coloca Bolsonaro no epicentro de uma suposta tentativa de golpe, intensificou o desconforto entre seus aliados. A perspectiva de uma condenação criminal ainda em 2025 faz com que muitos no campo político vejam a urgência de considerar outras alternativas de candidatos.
Os líderes desse espectro político acreditam que a continuidade da defesa da candidatura de Bolsonaro pode prejudicar seu capital político. Há um consenso entre eles de que um indulto para o ex-presidente só seria viável com a escolha de um nome que represente o bolsonarismo nas eleições. Para isso, defendem que é essencial unir a direita em torno de um único candidato até o final deste ano, criando assim uma candidatura forte o suficiente para competir em nível nacional.
O governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem sido apontado como um dos principais nomes para essa empreitada. De acordo com informações, ele estaria disposto a entrar na disputa caso Bolsonaro faça essa solicitação, embora atualmente tenha manifestado preferência por buscar a reeleição. Publicamente, Tarcísio tem se posicionado contra uma candidatura presidencial neste momento.
Outro nome que começa a ganhar destaque é Ratinho Jr. (PSD), governador do Paraná. Além dele, os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, também figuram entre as opções discutidas.
Embora alguns aliados tenham tentado persuadir Bolsonaro a sinalizar um sucessor, o ex-presidente reagiu negativamente a essas sugestões, acusando-os de traição. A pressão dentro do bolsonarismo é palpável; qualquer menção a outros nomes ou discussões sobre o futuro da candidatura resulta em retaliações nas redes sociais.
Um assessor próximo a Bolsonaro traça um paralelo entre sua situação atual e a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2018, quando o ex-presidente insistiu em sua candidatura mesmo estando preso e acabou sendo impedido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Essa fonte alerta que repetir tal erro poderia ser desastroso para a direita. A análise aponta que, embora o cenário atual apresente desafios para Lula devido à queda em sua popularidade, qualquer candidatura precisa contar com o apoio explícito de Bolsonaro para ter chances reais de sucesso.
Aliados próximos ao ex-presidente afirmam que ele está determinado a manter seu nome como principal candidato até o momento do registro oficial da chapa, planejando utilizar pressões externas e apoio internacional como parte de sua estratégia. Nesse contexto, há uma expectativa crescente sobre quem ocuparia a vaga como vice-candidato. Nomes da família Bolsonaro estão sendo cogitados, incluindo o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) e até mesmo Michelle Bolsonaro (PL), embora esta última opção não seja considerada viável pelos assessores mais próximos.
A resistência do ex-presidente à ascensão de novos líderes é evidente; críticas já foram direcionadas a Caiado e Zema, com Bolsonaro reafirmando publicamente sua intenção de ser o candidato da direita em 2026.
Contudo, algumas figuras proeminentes dentro do partido tentam desafiar essa hegemonia. Um exemplo claro ocorreu nas últimas eleições municipais em São Paulo, onde o influenciador Pablo Marçal (PRTB) conquistou apoio popular mesmo diante das campanhas negativas promovidas pela família Bolsonaro.
A tensão se intensificou quando Bolsonaro descartou a defesa do impeachment durante um ato contra Lula. Ao invés disso, ele posicionou o protesto com pautas como “Fora Lula 2026” e “anistia já”, na esperança de que isso possa reverter a percepção pública sobre sua figura política antes das eleições.
Em contrapartida, deputados do campo bolsonarista têm se distanciado dessa estratégia, continuando a defender abertamente o impeachment. Um exemplo é Nikolas Ferreira (PL), cuja popularidade permanece intacta entre os apoiadores do ex-presidente.
Para Jorge Chaloub, cientista político e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), as investigações relacionadas à tentativa golpista fragilizam a posição de Bolsonaro e abrem espaço para outras lideranças se destacarem no cenário político. Chaloub destaca que os caminhos disponíveis para a direita até 2026 são complexos: conquistar uma vitória sem o suporte de Bolsonaro ou conseguir esse apoio enquanto lida com sua instabilidade emocional.
A primeira opção é considerada difícil devido ao cenário incerto e à necessidade premente por um candidato carismático. Chaloub cita como exemplo o fraco desempenho da candidatura apoiada pelo centrão em 2018 com Geraldo Alckmin (PSB).
Por outro lado, lidar com alguém tão imprevisível quanto Bolsonaro também apresenta desafios significativos. As alianças são construídas sob uma lealdade pessoal que pode rapidamente se tornar volátil. Assim, aqueles que buscam seu apoio correm riscos consideráveis ao tentar agradá-lo enquanto navegam pelas expectativas eleitorais.
Por fim, Chaloub acredita que Bolsonaro manterá sua pretensão até as vésperas das eleições. Sua popularidade continua sendo uma moeda valiosa na política brasileira; por isso ele pode optar por negociar apoio a outros candidatos em troca de garantias legais ou políticas favoráveis no futuro.