Desafios e Avanços da Mulher na Infraestrutura Brasileira
Mulheres ganham destaque na infraestrutura brasileira: desafios, conquistas e a luta por igualdade no setor dominado por homens.
- Data: 11/01/2025 18:01
- Alterado: 11/01/2025 18:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard
Crédito:Fernando Frazão/Agência Brasil
A presença feminina no setor de infraestrutura brasileiro vem ganhando destaque, especialmente com a liderança de figuras como Magda Chambriard, presidente da Petrobras. Em sua trajetória, Chambriard enfrentou desafios que refletem a realidade de muitas mulheres no mercado de trabalho, que ainda lidam com preconceitos e estereótipos de gênero.
Em uma entrevista recente, ela recordou um episódio de 2002, quando foi convidada por Newton Monteiro, diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP), para ser sua assessora. Na ocasião, um veículo de comunicação se referiu a ela como “colega” entre aspas, o que gerou especulações sobre um suposto relacionamento entre os dois. “Metade da agência achava que eu tinha um caso com ele”, revelou Chambriard. Essa situação ilustra como as mulheres muitas vezes são vistas através de lentes distorcidas em ambientes predominantemente masculinos.
Embora o cenário tenha evoluído nas últimas décadas, a resistência à ascensão das mulheres na infraestrutura persiste. O setor, tradicionalmente associado ao trabalho físico e a atividades de alto risco, ainda apresenta barreiras significativas para a participação feminina em áreas como petróleo, gás e transporte.
O crescimento da presença feminina nesse campo é evidente por meio da formação de redes e associações dedicadas a promover a visibilidade e o reconhecimento das profissionais. Um exemplo é o movimento “Sim, elas existem”, fundado por Agnes Costa e Renata Isfer em 2018, que visa listar mulheres qualificadas para cargos de liderança nas áreas de energia e mineração. Desde sua criação, a iniciativa cresceu consideravelmente, passando de 193 nomes para 399 em apenas quatro anos.
Agnes Costa, atual diretora da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), enfatiza que o objetivo do projeto é corrigir distorções culturais que impedem a promoção das mulheres em posições-chave. “As mulheres em áreas técnicas são muito qualificadas, mas as promoções dependem fortemente das redes de relacionamento”, explica.
O IWB (Infra Women Brazil) é outra entidade significativa que reúne mulheres do setor e promove iniciativas para aumentar a diversidade na infraestrutura. Desde sua fundação em 2020, o IWB já conta com mais de 2.000 associadas e realiza programas de mentoria para jovens profissionais. Um estudo recente revelou que apenas 12,7% dos membros dos conselhos de administração das empresas listadas na bolsa brasileira são mulheres, embora esse número represente um pequeno avanço em relação à média geral.
Karla Bertocco, presidente do conselho da Sabesp, atribui essa lentidão à necessidade crescente de financiamento privado na infraestrutura. “A governança rigorosa dos investidores institucionais está pressionando por mais diversidade”, afirma Bertocco.
Além das questões estruturais e culturais que dificultam o progresso feminino no setor, as mulheres negras enfrentam desafios adicionais. Ana Cunha, única mulher negra em uma posição de liderança no setor mineral no Brasil, destaca a complexidade da intersecção entre raça e gênero nas dinâmicas profissionais. “A mulher negra ainda ocupa uma posição muito baixa na pirâmide social”, explica Cunha.
Iniciativas como as promovidas pela WMB (Women in Mining Brasil) visam abordar esses desafios e fomentar uma maior inclusão feminina no setor mineral desde sua fundação oficial em 2019.
No entanto, as barreiras permanecem tangíveis: falta de equipamentos adequados para mulheres em campo e preconceitos enraizados que fazem com que muitas desistam ou se sintam deslocadas no ambiente profissional. Heloisa Borges, diretora da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), destaca que muitas oportunidades permanecem inacessíveis devido à inadequação dos ambientes operacionais para as mulheres.
Enquanto isso, iniciativas voltadas à diversidade estão emergindo dentro das corporações. O Grupo CCR implementou políticas para garantir que candidatas sejam consideradas para todas as vagas disponíveis e prioriza a inclusão feminina em funções historicamente dominadas por homens.
A evolução do papel feminino na infraestrutura não só enriquece o setor com novas perspectivas e talentos como também contribui para uma transformação cultural mais ampla na sociedade brasileira. As discussões sobre inclusão e diversidade são fundamentais para garantir um futuro mais equitativo nas diversas esferas do mercado de trabalho.