Mateus Solano e Luis Miranda protagonizam “O Mistério de Irma Vap”
Os atores e o diretor Jorge Farjalla falam sobre a peça, suas referências e o momento atual da cultura no país
- Data: 12/04/2019 12:04
- Alterado: 12/04/2019 12:04
- Fonte: ABCdoABC
Os atores Luis Miranda e Mateus Solano brincam com o diretor Jorge Farjalla. Os artistas estrieam "O Mistério de Irma Vap" nesta sexta-feira, 12 de abril, no Teatro Porto Seguro, São Paulo
Crédito:Rodilei Morais
A peça “O Mistério de Irma Vap” ganha nova leitura pelo diretor e encenador Jorge Farjalla, contando com Luis Miranda e Mateus Solano no elenco. Com Estreia nesta sexta-feira. 12 de abril, no Teatro Porto Seguro, a peça é uma nova interpretação do já famoso texto de Charles Ludlam. O espetáculo cumpre temporada até 16 de junho, com sessões sexta-feira às 21h, aos sábados às 18h e 21h, e aos domingos às 16h e 19h.
“O Mistério de Irma Vap” foi escrita por Charles Ludlam e encenada pela primeira vez em 1984 em Greenwich, Nova York. A primeira montagem nacional do texto data de 1986, contando com a direção de Marília Pêra e as atuações de Marco Nanini e Ney Latorraca. Em cartaz por 11 anos consecutivos, a peça é um dos maiores sucessos de público do teatro no país.
Mateus e Luis não se deixam preocupar com comparações. Luis diz que foi importante para ele tomar aquele trabalho como seu e fazê-lo para si mesmo, para seu próprio contentamento e para o divertimento do público, não para os críticos. Solano, por sua vez, diz que vive constantemente sob a expectativa do público que já viu sua atuação como Felix, na novela Amor à Vida, ou Zé Bonitinho. Para ele, comparações como estas e as com as encenações anteriores de Irma Vap são naturais e não representam um problema para sua performance. Farjalla, que negou ter assistido às produções anteriores da peça, reforça que é um espetáculo completamente novo, o que deve minimizar as comparações.
Uma comédia com ares de terror, o texto ganha novas referências sob a visão de Jorge Farjalla. O diretor que já esteve por trás de montagens de Nelson Rodrigues como “Álbum de Família”, “Anjo Negro” e “Senhora dos Afogados”, além de dirigir e encenar um projeto sobre o clássico “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, foi aos anos 80 buscar inspirações para sua interpretação de Irma Vap. “Pague para Entrar, Reze para Sair”, “A Morte do Demônio” e “Rebecca” de Alfred Hitchcock, este já referenciado no texto original, são algumas obras que serviram de base para o trabalho do diretor. Em um gênero que se baseia muito na surpresa, no susto e na expectativa criada por elementos como luz e trilha sonora, Solano afirma que a peça difere do terror psicológico comum no cinema atual. O medo é quebrado por um alívio cômico. Não foi somente no cinema que Farjalla buscou inspiração. O universo do videoclipe de “Thriller” de Michael Jackson, este próprio uma homenagem aos filmes de terror, também é mencionado. E fugindo do tradicional, norte-americano ou europeu, há referências também a elementos africanos, provenientes do candomblé.
Outra inovação de Farjalla é a inclusão de quatro monstrinhos, triplicando o número de atores em uma peça tradicionalmente interpretada apenas por uma dupla. Interpretados por Kauan Scaldelai, Fagundes Emanuel, Greco Trevisan e Thomas Marcondes, os monstrinhos são responsáveis pela grande responsabilidade da troca de figurinos em cena, por tocar instrumentos e contar a história junto com Mateus e Luis.
Farjalla destaca a importância do papel “clownesco” de Kauan. O ator nascido em São Bernardo do Campo começou sua carreira no teatro na Cia do Nó, de Santo André, além de ter estudado na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e ter feito formação de palhaço pelo programa Doutores da Alegria. A linguagem do palhaço, ou clown, tem papel fundamental na montagem. O distanciamento que essa linguagem oferece permite que se faça o terror e que se trate de assuntos sérios ao mesmo tempo que o público se diverte, segundo Scaldelai.
A peça vem sendo trabalhada desde dezembro em 2018 e Farjalla, Solano e Miranda destacam a produtividade do processo criativo. Segundo eles o tempo permitiu que o grupo entrasse em grande harmonia. Destacam também o tempo em cartaz, de pouco mais de dois meses, como muito favorável.
Apesar das boas condições para a realização de Irma Vap, Luis Miranda menciona, contudo, que é um momento de dificuldade da cultura no país. Para o ator, “fazer teatro hoje em dia é quase um ato de resistência”. Em um momento em que incentivos são desmantelados, atores estão desempregados e a arte está em desprestígio, Luis diz que este espetáculo é também uma homenagem a classe artística, que luta por estar ali. Farjalla e Solano reforçam o discurso, explicitando os recursos e mão-de-obra necessários para a realização de uma obra como esta. Kauan Scaldelai fala também sobre a conscientização a respeito de outras leis menos conhecidas, como a lei de fomento ao teatro, ao circo, o Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais, entre outras, que atingem outras frentes artísticas.
Apesar do cenário desanimador para a arte, Mateus fala sobre a importância de se plantar em novas gerações uma nova forma de se ver o mundo. O ator diz que ele próprio pode não estar aqui para ver os frutos, mas que ao longo do tempo ele espera que as coisas mudem. “O que a gente está fazendo aqui com uma peça de teatro não vai sair um monte de revolucionário querendo mudar o mundo, vai sair uma pessoa que vai sonhar com uma coisa que vai movê-la devagar”.