Pelas Barbas do Profeta – O Verdadeiro Espírito Olímpico

Artigo de Paulo Porto, colunista do ABCdoABC, repercute infeliz comentário do repórter do Le Monde, sobre a derrota do favorito francês ante a genialidade do brasileiro Thiago Braz

  • Data: 18/08/2016 09:08
  • Alterado: 18/08/2016 09:08
  • Autor: Paulo Porto
  • Fonte: Paulo Porto é roqueiro do ABC. Músico, Compositor, Pesquisador Cultural, Empresário e Advogado.
Pelas Barbas do Profeta – O Verdadeiro Espírito Olímpico

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Em algum canto do mundo, uma criança com fome dispensa talheres quando estes estão entre ela e um prato de comida. A criança se abstém de regras ou meios para se abastar do alimento, encontrando nele, momentos de felicidade e de vida.

As arenas esportivas, igualmente, como alguns de nós brasileiros sabemos, substituiu a morte pela competitividade e o torneio olímpico, algo mais que isso: a união entre os povos.

A criança, mesmo sem fome, dispensa as etiquetas e os modos de vida para seus momentos de felicidade. Ela ainda não é aculturada como deseja sua sociedade e, na verdade, nem se importa com isso. E a vida, igualmente, como alguns de nós humanos sabemos, foi priorizada pelo esporte olímpico, marcando a história pelo que se chamou de era moderna.

E assim competições olímpicas tornaram-se a festa de todos os povos e local de onde todos podem (e devem) manifestar e confraternizar com seus talentos e culturas.

Afinal são os povos culturais. Andam, vestem, falam, se manifestam… e comem… claro, para que continuem a ser povos…

Se a proposta da Olimpíada é realmente a união dos povos, ninguém; nem criança, nem guerreiro, nem lutador, nem atleta, nem nenhum povo detém o direito de se manifestar contra a cultura do outro. Seu direito, no entanto, e em importante e rara contrapartida é, senão, a grande oportunidade de miscigenar-se e, dessa forma, crescer como homem mundial.

A luta, a guerra, a barbárie, a negação, a morte, entre outras práticas ficaram na velha era dos jogos…. Ninguém entra em uma arena para tirar a vida do outro.

Exceto esses que só pensam no louro de seus méritos, em suas vaidades e, assim, deixam em seus Países o espírito desportivo. Esses, pouco sabem sobre os povos e sobre tal espírito que devia os guiar. Enxergam isso até com ares dicotômicos, posto que, quanto menos se ocupam do esporte como ferramenta de integração, maior seu dispêndio em isolados treinos e, assim, maior a chance de serem laureados.

E quanto mais empenhados, mais experientes e prontos à fera do desafio, certamente, há mais tempo são preparados. E assim o são! Desde… desde crianças, claro! Sim, como crianças famintas em busca de comida.

Um repórter do periódico Le Monde, ao buscar traduzir um sentimento derrotado de um técnico francês no Brasil, terras que olimpicamente buscam unir os povos pelo esporte, atribuiu ao vencedor local de sua modalidade esportiva, forças espirituais do Candomblé, aliás, uma religião além-atlântico, da África, propriamente, no entanto, miscigenada aonde pisavam, de onde se vê como alguns entendem melhor a união dos povos do que outros…

Tal técnico julgou “apenas” bizarra as terras em que seu pupilo competia… Só isso… Na verdade, tudo não passava de um inconformismo pelo seu 2º lugar alcançado, creditando o “insucesso” ao povo local, desculturado sob seu ponto de vista.

Aí o sentimento se transforma e então aquele branco Lavillenie do salto com vara virou o negro dourado Jesse Owens dos 100, dos 200, dos 4×100, do salto em distância e de Berlim em 1936… Só que não: Pois é, aquele preto das Américas ganhou 4 medalhas de ouro diante de Hitler, o ariano, e de todos os alemães, que, por fim, o aplaudiram, contrariando o líder nazista. Bem diferente daquele branco francês que perdeu, diante de todos os “desrespeitadores” e “mal-educados” torcedores brasileiros que o impediram de chegar ao topo mais alto do pódio.

Que coisa… Na Europa do século XIX, varas de bambu eram utilizadas para se cruzar canais de água. Daí surgiu esse original esporte, presente nas Olimpíadas da Era Moderna e desde sua primeira edição, em 1896. Será que já não era sem tempo entender melhor a atmosfera que o cerca?

Pois bem, ao procurar encontrar desculpas por sua derrota, Lavillenie e seu técnico não se ocuparam em miscigenar-se com esse nosso povo brasileiro. Recusou aceitar o espírito olímpico da competitividade.  E refutou, sem pensar, o comportamento da torcida. Julgá-la negativamente em uma Olimpíada é negar, senão, a união dos povos. Desvela uma pequenez, que nega também a nossa comida, a nossa vestimenta, a nossa recepção, enfim, a nossa cultura… E assim negará, porque não, a de outros povos? E assim, igualmente, pretendem negar as próprias razões que os conduziram até aquelas distantes terras em que pisaram não para competir, mas para exclusivamente ganhar. E, dessa forma, abdica-se de ser atleta do mundo, como assim o é Usain Bolt, Nadia Comaneci, Jesse Owens…

Lavillenie e sua comitiva pratearam e não se viram vencedores. Pior para eles, que não estão preparados para o espírito olímpico. Pior para eles para a sua comitiva que não são capazes de se unir aos povos e assim não lograrão o êxito de fazer do mundo uma terra de todos os povos.

Não se pode dizer que o povo brasileiro é mal-educado ou bizarro ou sem cultura porque “não sabe se comportar” como torcedor. Não há uma regra para isso e é bom que não haja mesmo porque as olimpíadas são disputadas pelos quatro cantos do mundo, disponibilizando culturas e experiências aos recepcionados atletas e povos, justamente para que todos possam ter contato com a cultura local.

Triste é ver que os objetivos do atleta e de seu técnico não condizem com esse espírito de união dos povos. Vê-se que ambos não se ocuparam em forjarem-se homens e igualmente à contrariedade de seus pensamentos, continuam sendo crianças em busca de um prato de comida.

No entanto, também não felizes, posto que uma vez que não morrem como se morria nas velhas arenas, só são capazes de matar a fome de suas felicidades apenas com talheres entre eles e o prato, pois são regras e formas de suas terras que entendem serem válidas…. Pois então que vivam e que sejam felizes e alimentados com seus talheres de prata! 

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  • Data: 18/08/2016 09:08
  • Alterado:18/08/2016 09:08
  • Autor: Paulo Porto
  • Fonte: Paulo Porto é roqueiro do ABC. Músico, Compositor, Pesquisador Cultural, Empresário e Advogado.









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