Floradas em Atacama, ficção do autor humanista W. Pereira Carneiro, é lançado em SP

O lançamento é feito pelo selo Paraquedas, da editora Claraboia e acontece dia 29 de outubro

  • Data: 27/10/2022 15:10
  • Alterado: 15/08/2023 20:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: Assessoria
Floradas em Atacama, ficção do autor humanista W. Pereira Carneiro, é lançado em SP

Floradas em Atacama

Crédito:Divulgação

Você está em:

Com uma longa trajetória como trabalhador humanitário, atuando em guerras civis e crises humanitárias em diversos países, como Angola, Cazaquistão, Colômbia, Líbano, República dos Camarões, Sudão, Uganda e, mais recentemente, na crise de refugiados da Ucrânia, W. Pereira Carneiro estreia na ficção com Floradas em Atacama, primeiro volume da tetralogia A noite dos cachorros loucos. O lançamento é feito pelo selo Paraquedas, da editora Claraboia e acontece dia 29 de outubro, sábado, a partir das 14h, na Livraria Martins Fontes, com sessão de autógrafos com o autor.

 A obra chega em um momento no qual guerras, crises humanitárias causadas pelas mudanças climáticas e o avanço do extremismo político, em especial na extrema-direita, provocam deslocamentos cada vez mais intensos de pessoas que precisam forçosamente deixar seus lugares de origem – abandonando também muito de sua memória e histórias de vida.

Exílio, memória e busca da identidade

Explorando os temas do exílio, memória e busca de identidade, a obra conta a história de duas mulheres. Emília é, em suas próprias palavras, “uma mulher morta”. Uma refugiada que sofre de amnésia pós-traumática e tenta reconstruir sua história, sua identidade. Vivendo no Rio de Janeiro, ela encontra uma mulher mais velha, Maria da Graça, que, ao contrário de Emília, fala sem parar, com uma memória prodigiosa, sobre histórias de sua Minas Gerais natal. Com quase nada a dizer, mas tempo de sobra para escutar, Emília mergulha no mar de palavras que ecoam de Maria da Graça. A polifonia de histórias, apesar de não lhe pertencerem, resgatam a refugiada de seu esquecimento total.

Todas as manhãs de quartas e sextas-feiras, Maria da Graça entrega a Emília doses revigorantes de sua própria vida. A infância bucólica no interior mineiro. A perda de uma tia, tornada uma figura mítica na narrativa. Causos misteriosos de intrigas da pequena cidade invadida pela modernidade. Aos poucos, as histórias de Emília vão emergindo e se entrelaçando às de Maria da Graça.

Experiência do autor com refugiados

A experiência de Carneiro com refugiados certamente inspirou a história que ele transformou em livro, mas de forma sinuosa. “A origem do livro é um pouco multifacetada. A primeira é que eu cresci em uma família de muitos bons contadores de história. Sou de uma família mineira, apesar de ter nascido em São Paulo, vivido entre São Paulo e Rio de Janeiro, cresci nesse eixo. Minha família tinha aquela coisa de se reunir no fim do ano e contar histórias. A Maria das Graças vem disso, ela relembra muitas histórias e dores da infância, perde uma tia muito querida. Já a Emília reflete um pouco mais minha vida adulta. Vejo ela como uma metáfora da nossa história latino-americana. Não aprendemos com nossa história, continuamos sendo exilados eternos”, afirma o autor.

Esses temas do desarraigo, exílio, expulsão de seu lugar de origem, de fato vêm do contato com tantos refugiados nos últimos vinte anos. “Emília é uma personagem que condensa toda essa experiência de vida do desarraigo, exílio, busca de memória. O exílio é uma perda de memória. Eu mesmo nunca fui exilado, sempre morei fora do Brasil por questões profissionais, mas sempre pude voltar, manter a relação com minhas raízes. No entanto, pela experiência de vida que eu tive, posso imaginar o que é não poder voltar”, reflete.

O silêncio de Emília e a busca pela sua história

Ele afirma que a amnésia de Emília é uma metáfora, mas que em sua atuação humanitária teve casos concretos de pessoas que não tinham a capacidade de falar sobre aquilo que aconteceu com elas. “Não é uma amnésia, mas uma espécie de silêncio forçado que as pessoas têm após sofrerem experiências traumáticas. Minha grande inquietação é essa relação da violência com a nossa memória e capacidade de expressá-la”.

O autor explica que o impulso para escrever essa série de livros foi querer condensar todas essas histórias sobre o exílio, memória, a busca de si próprio. “É algo da condição humana saber sua origem, condensar em uma espécie de saga”. Por sugestão da editora, a saga foi dividida em quatro partes para ser mais “potável” ao leitor. “Ela já está toda escrita, estou terminando o terceiro livro e falta o quarto. Digamos que está toda criada e em processo de formatação”, conta.

Carneiro considera que o livro é útil não só para o atual contexto brasileiro e a questão do extremismo político, mas para apresentar uma reflexão sobre porque as pessoas aderem à violência política. “O contexto internacional está muito complicado, em todo o mundo vemos grande polarização, extremismo crescendo. Agora tivemos o exemplo da Itália, um país que sofreu o fascismo volta a entrar nesse mesmo discurso, pelo sentimento anti-imigrante, anti-refugiado, racismo, depois de quase um século de ser derrotado militarmente, porque o fascismo não foi derrotado ideologicamente”. O autor acredita que essa reflexão sobre a busca da memória tem o potencial de ensinar como a memória pode nos proteger de cometer os mesmos erros. “O extremismo é isso, a ruptura com a diferença e a imposição forçada de uma visão de mundo”, resume.

Primeiro livro de uma tetralogia

Assim, Floradas em Atacama e a tetralogia A noite dos Cachorros Loucos se inserem no crescente corpo de obras que debatem esse avanço dos extremismos e da polarização política e seus efeitos. Carneiro traz o diferencial de discutir esses temas por um peculiar prisma ficcional, com uma narrativa envolvente e que humaniza essas questões na figura das duas mulheres protagonistas. Neste microcosmo, está presente toda a história de lutas e perdas da América Latina e a possibilidade de reconstruir laços de afetos e socialização, por meio da conversa e do compartilhamento de memórias e histórias.

Sobre o autor

W. Pereira Carneiro nasceu em Taubaté, São Paulo, e é trabalhador humanitário há muitos anos, atuando em guerras civis e crises humanitárias em diversos países. Doutor em relações internacionais pela UnB (Universidade de Brasília) e mestre pela Universidade de Oxford, atualmente vive e trabalha na Rússia, onde atua na agência da ONU para refugiados.

Floradas em Atacama é seu livro de estreia e primeiro volume da tetralogia A noite dos cachorros loucos. Enquanto trabalha na sequência deste romance, W. Pereira Carneiro escreve também um livro de contos inspirados em sua vivência multicultural. 

Compartilhar:

  • Data: 27/10/2022 03:10
  • Alterado:15/08/2023 20:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: Assessoria









Copyright © 2024 - Portal ABC do ABC - Todos os direitos reservados