Via Streaming – Dica da Semana: “Você Não Estava Aqui”

O britânico Ken Loach dirigiu o perturbador longa-metragem “Você Não Estava Aqui”, que aborda o fenômeno de precarização do trabalho no mundo atual. Com seu estilo naturalista, as obras do cineasta (como ”Ladybird”, “I, Daniel Blacke”, “Meu Nome É Joe”), possuem um grande engajamento político, frequentemente tratando sobre conflitos sociais e as lutas por direitos trabalhistas. Além disso, também costuma trabalhar com patologias sociais e familiares, explorando diversas esferas do convívio social na atualidade. Com aproximadamente uma hora e quarenta minutos, o drama “Você Não Estava Aqui” foi lançado em fevereiro de 2020 e está disponível no YouTube e no Google Play Filmes.

Ambientado em NewCastle (Inglaterra), o filme conta a história da família de Rick Turner (Kris Hitchen), que trava uma batalha contra suas dívidas desde a crise financeira de 2008. Desempregado, o homem consegue uma vaga em uma empresa de entregas, não como empregado, mas sim um colaborador. Sem garantias ou horário fixo, Rick convence sua esposa, a curadora de idosos freelancer Abbie (Debbie Honeywood), a vender seu carro para que eles possam comprar uma van que permita a Rick realizar as entregas. Com uma falsa promessa de autonomia, o homem passa a trabalhar jornadas diárias de mais de 14 horas para conseguir ajudar nas contas em casa, o que coloca em risco sua saúde mental e física.

O longa também explora os efeitos dessa exploração no convívio da família de Rick. Por conta da instabilidade do emprego do casal, os filhos sofrem muito com a ausência dos pais, que estão sempre trabalhando. Seb (Rhys Stone), o mais velho, deseja sair da escola e perseguir uma carreira de grafiteiro, enquanto sua irmã mais nova Liza Jane (Katie Proctor) é mais compreensiva com a situação em que os pais se encontram. Assim, “Você Não Estava Aqui” convida o telespectador a refletir sobre as decadentes relações de trabalho na atualidade ao denunciar a total precariedade das condições dos trabalhadores de delivery. Um modo de vida duríssimo e muitas vezes análogo à escravidão, mas frequentemente explorado como uma propaganda enganosa do “milagre do empreendedorismo”.