Vereadora cotada a vice chamou Nunes de ‘ditador’ na pandemia e reclamou de homenagens a Covas

Sonaira Fernandes (PL), que ganhou apoio de Tarcísio para a vaga, criticou abertamente o prefeito em centenas de posts nas redes sociais; vereadora não se manifestou ao ser questionada se mantém críticas; campanha de Nunes diz que é cedo para falar de vice

  • Data: 23/04/2024 15:04
  • Alterado: 23/04/2024 15:04
  • Autor: Redação
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Vereadora cotada a vice chamou Nunes de ‘ditador’ na pandemia e reclamou de homenagens a Covas

Sonaira Fernandes(PL)

Crédito:Governo de SP

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Cotada para o posto de vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na disputa pela prefeitura de São Paulo, a vereadora bolsonarista Sonaira Fernandes (PL) criticou abertamente o mandatário em seus primeiros anos de atuação política. A parlamentar fez ao menos 220 postagens negativas nas redes sociais alegando, por exemplo, que Nunes adotou a “ideologia de gênero” nas escolas da capital e instaurou uma “ditadura higienista” ao exigir certificados de vacinação contra a covid-19 de servidores públicos da cidade.

Sonaira também reclamou de homenagens propostas ao ex-prefeito Bruno Covas (PSDB) após a sua morte, em maio de 2021, em virtude de um câncer. Segundo ela, a quantidade de projetos renomeando espaços públicos representava “uma ameaça à própria memória da cidade, comprometendo as referências históricas”. A vereadora foi a única, com exceção da bancada do PSOL, que votou contra a associação feita a Covas no Parque Augusta, por exemplo, inaugurado em novembro daquele ano.

O Estadão procurou Sonaira na sexta-feira, 19, para saber se ela mantém as críticas feitas anteriormente e aceitaria um eventual convite para ser vice de Nunes diante das discordâncias anteriores, mas não teve resposta. A campanha do prefeito se limitou a dizer que “é muito cedo para falar em pré-candidato a vice”.

Ex-secretária estadual de Políticas para a Mulher, Sonaira conta com a simpatia da ala bolsonarista do PL e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para compor com Nunes nas eleições de 2024. O nome, porém, ainda não está definido. Também aparecem no páreo o coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Mello Araújo, o preferido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e o atual secretário municipal de Relações Internacionais, Aldo Rebelo (MDB), que seria uma alternativa de fora do PL, entre outros.

Na semana passada, o presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi, que coordena a campanha do prefeito em São Paulo, declarou à CNN Brasil que pretende realizar uma pesquisa qualitativa para avaliar os nomes cotados para vice de Nunes, entre eles o de Sonaira. Nunes também compareceu ao ato de filiação da vereadora ao PL, em março deste ano, e posou para fotos.

Ataque antes da eleição e brigas na pauta de costumes

A maioria das menções negativas de Sonaira a Nunes ocorreu entre julho de 2021 e janeiro de 2022, quando ela ainda cumpria os seus primeiros meses de mandato. A parlamentar dizia, à época, manter “franca oposição” ao prefeito “sempre que necessário”, o que contrastava com a relação próxima do seu antigo partido, o Republicanos, com o governo.

O post mais antigo é um ataque pessoal e data de novembro de 2020, quando Covas e Nunes ainda não tinham sido eleitos. “Não fique surpreso se, em 2022, Covas abandonar a prefeitura para ser lançado a governador de São Paulo com (João) Doria concorrendo à presidência. Neste caso, a cidade de São Paulo ficará nas mãos do vice de Covas, Ricardo Nunes, um vereador mediano que, confesse, você nem sabia que existe”, escreveu ela no X (antigo Twitter).

Já durante o mandato, a primeira rusga surgiu por conta de um projeto de lei de autoria do ex-vereador Eduardo Suplicy (PT) que criou o marco regulatório da economia solidária, a chamada Lei Paul Singer. O texto inaugurava uma política municipal de incentivo a esse tipo de atividade econômica, baseada em autogestão e decisões compartilhadas.

Grupos conservadores, no entanto, passaram a declarar que trechos do projeto abriam brechas para o ensino de “ideologia de gênero” nas escolas. O motivo era que o respeito à diversidade estava colocado como um dos princípios do modelo e, paralelamente, em outro artigo, o projeto defendia a abordagem do conceito de economia solidária na rede municipal de educação.

Com a aprovação do projeto no Legislativo paulistano, Sonaira passou a pressionar diretamente Nunes para vetar a iniciativa. O prefeito acabou sancionando parcialmente o projeto, no limite do prazo, em uma atitude considerada insuficiente pelo grupo que dizia formar a “bancada cristã” na Câmara de São Paulo. “Nunes deixou claro que não ouve a voz das famílias”, concluiu a vereadora. Em pouco tempo, passou a apelidar ironicamente o prefeito de “herói dos conservadores de Instagram” e questionar a sua religião católica.

Decreto de vacina rendeu comparação com a ‘União Soviética’

A maior quantidade de críticas encontradas pelo Estadão em suas contas de Twitter, Facebook e Instagram se referem à exigência de certificado de vacinação contra a covid-19 ao funcionalismo e em espaços públicos da cidade, uma pauta adotada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e que encontrou eco entre seus apoiadores.

Em agosto de 2021, a prefeitura cobrou a imunização de todos os servidores, sob risco de demissão em caso de recusa injustificada, além de tornar obrigatória a apresentação do passaporte da vacina para acesso ao Edifício Matarazzo, sede da administração municipal. O prefeito também editou decreto exigindo o certificado de vacinação em eventos com mais de 500 pessoas.

“Sem garantias sobre efeitos colaterais de vacinas que estão em fase experimental (sic), o prefeito Ricardo Nunes baixou um decreto típico da União Soviética, atropelando a autonomia individual e obrigando os servidores a correrem contra o tempo para se vacinar!”, afirmou a vereadora em um dos posts. Em outros momentos, classificou a atitude como “surto de autoritarismo” e alegou que a gestão Nunes representava o retorno “aos tempos do petismo” em São Paulo. “Nossa cidade está sob a gestão literalmente de ditadores. Há quase dois anos o paulistano sofre com as tiranias de governantes que seguem a agenda da morte!”

Em meio à cruzada contra a vacinação obrigatória, Sonaira chegou a convocar uma manifestação em frente à Prefeitura, mas o ato foi adiado. Dias depois, compareceu a protesto na Avenida Paulista e fez questão de atacar nominalmente o prefeito ao menos três vezes em seu discurso. “Estamos na Câmara Municipal lutando contra esse absurdo do passaporte sanitário que o prefeito Ricardo Nunes, de forma autoritária, está impondo para os paulistanos. Todos os dias, recebemos e-mail, ligações do povo trabalhador que está sendo ameaçado de ser mandado embora”, declarou em trecho compartilhado nas redes sociais.

A atuação da Prefeitura de São Paulo na campanha de vacinação contra a covid-19 costuma ser levantada por Nunes em eventos públicos justamente como uma forma de se afastar de posicionamentos mais radicais de Bolsonaro e cativar o eleitorado de centro. O prefeito abordou o tema, por exemplo, em um encontro com sindicalistas em janeiro deste ano, convocado por dirigentes do Solidariedade, um partido de centro-esquerda que firmou aliança com ele.

Outras críticas diretas de Sonaira a Nunes envolveram a realização do Carnaval ainda em um cenário de pandemia, a contratação de artistas em eventos culturais e alguns projetos encaminhados pelo Executivo para a Câmara. As matérias tratavam de impostos municipais, reajustes salariais, mudanças no regime previdenciário e até mesmo uma tentativa de instituir o guarani como segunda língua oficial do município – a vereadora entendeu que a proposta assumia uma “agenda romântica do anticolonialismo” e atentava contra a língua portuguesa.

A possível contradição na formação da chapa de reeleição do prefeito também está presente na costura política feita pelo seu principal adversário de momento nas pesquisas, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). O PT indicou para a vaga de vice a ex-prefeita Marta Suplicy, que coleciona atritos desde que rompeu com o partido após o escândalo da Lava Jato. Em 2016, quando era senadora, votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Marta também fez parte da gestão Nunes até o começo deste ano, tendo justificado a troca de lado pela aproximação do emedebista com Bolsonaro.

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  • Data: 23/04/2024 03:04
  • Alterado:23/04/2024 15:04
  • Autor: Redação
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