Uso de telemedicina reduz em 40% a taxa de mortalidade nas UTIs
Iniciativa abrange uma série de capacitações, tanto virtuais quanto presenciais, além de discussões clínicas e monitoramento remoto das UTIs públicas em cinco regiões do Brasil.
- Data: 05/01/2025 12:01
- Alterado: 05/01/2025 12:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Governo de SP
Um inovador projeto de telemedicina, intitulado TeleUTI Conectada, desenvolvido pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas de São Paulo, em colaboração com o Ministério da Saúde, tem demonstrado resultados significativos na redução das taxas de mortalidade e no tempo de permanência dos pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do Sistema Único de Saúde (SUS).
A iniciativa abrange uma série de capacitações, tanto virtuais quanto presenciais, além de discussões clínicas e monitoramento remoto das UTIs públicas em cinco regiões do Brasil. Este acompanhamento é realizado com base em dados em tempo real, que incluem sinais vitais, informações sobre ventilação mecânica e medicamentos administrados.
De acordo com dados preliminares, as UTIs participantes do projeto apresentaram uma redução média de 40% na razão de mortalidade padronizada (SMR), quando comparadas à média dos hospitais públicos do país, alcançando índices de 0,83 contra 1,40.
O diretor da divisão de pneumologia do InCor e responsável pela área de Saúde Digital do HC, Carlos Carvalho, ressaltou que essas melhorias foram observadas mesmo com a admissão de pacientes mais críticos nas UTIs do programa. O escore Saps 3 (Simplified Acute Physiology Score), utilizado para avaliar a gravidade dos casos atendidos, mostrou uma média de 62 pontos nas UTIs envolvidas, refletindo uma gravidade 25% superior à média nacional, que é de 46 pontos.
Além da redução na mortalidade, outro dado positivo foi a diminuição no tempo que os pacientes necessitaram de ventilação mecânica, permitindo assim uma recuperação mais rápida e a liberação de leitos para novos atendimentos. “Isso equivale a ter criado dois leitos adicionais”, afirmou Carvalho.
Os resultados obtidos até agora contrastam com um estudo recente publicado em outubro que indicou que o uso da telemedicina em UTIs não havia demonstrado benefícios significativos no tratamento ou na redução do tempo de internação dos pacientes. Contudo, os autores desse estudo reconheceram que fatores como a pandemia podem ter influenciado suas conclusões e enfatizaram a necessidade de mais investigações para definir o modelo ideal para a aplicação dessa tecnologia nas UTIs.
Carvalho destacou que o TeleUTI Conectada se diferencia por oferecer um treinamento mais abrangente às equipes envolvidas. Além dos treinamentos via vídeo, há reuniões semanais que reúnem médicos, fisioterapeutas e enfermeiros para discutir casos complexos e sugerir modificações nas condutas clínicas. “Acreditamos que apenas disponibilizar vídeos não é suficiente; precisamos discutir casos regularmente para garantir um atendimento efetivo todos os dias da semana”, complementou.
As visitas presenciais às UTIs também foram cruciais para o sucesso do projeto. “Nós ensinamos técnicas específicas diretamente nas unidades. As equipes expressaram necessidades distintas, como manejo da sepse ou ventilação mecânica”, explicou Carvalho.
A TeleUTI Conectada foi criada como uma resposta às demandas emergenciais durante a pandemia de Covid-19 em 2020, quando muitas UTIs públicas enfrentaram colapsos e taxas elevadas de mortalidade. Naquele contexto, uma pesquisa da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) revelou que a mortalidade entre pacientes internados com Covid-19 era significativamente maior em UTIs públicas (53%) em comparação às privadas (30%).
Durante esse período crítico, o InCor estabeleceu uma teleUTI voltada para adultos e posteriormente expandiu sua atuação para incluir uma teleUTI obstétrica visando atender gestantes e puérperas. Nos primeiros seis meses dessa nova abordagem, houve uma queda notável de 47,6% na taxa de mortalidade materna nessas instituições.
A equipe do InCor identificou diversos desafios durante a pandemia e buscou soluções para integrar informações críticas através da conexão dos dispositivos médicos utilizados nas UTIs. Isso permitiu um monitoramento mais eficaz dos pacientes à distância.
Os dados preliminares do projeto foram recentemente apresentados ao Ministério da Saúde. Devido ao sucesso registrado até agora, discute-se uma fase ampliada que envolverá mais 12 UTIs e cinco Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), além de 15 UTIs focadas no atendimento a gestantes em situação grave.
Ederlon Rezende, médico intensivista e coordenador de um programa da Amib que monitora as UTIs brasileiras, comentou sobre a necessidade urgente de melhorias na organização e otimização das operações dessas unidades. Ele acredita que projetos como o TeleUTI Conectada têm o potencial de transformar a realidade das UTIs ao promover um uso eficaz da tecnologia junto à gestão adequada.
No entanto, Rezende também chamou atenção para a desigualdade no acesso aos serviços de saúde no Brasil, especialmente no Norte e Nordeste do país. “Apesar do avanço na oferta de leitos e profissionais especializados nos últimos anos, ainda há muito a ser feito para garantir equidade no atendimento”, concluiu.
O projeto é apoiado pela Umane, uma associação civil comprometida com iniciativas voltadas à promoção da saúde pública.