Turismo: alta do dólar pode pressionar preços e dificultar viagens domésticas
Faturamento do setor acumula alta de 2,6% no ano, mas impactos das incertezas fiscais no longo prazo preocupam, avalia FecomercioSP
- Data: 08/07/2024 14:07
- Alterado: 08/07/2024 14:07
- Autor: Redação
- Fonte: FecomercioSP
Crédito:Valter Campanato/Agência Brasil
Apesar do recuo nos últimos dias, a alta do dólar, que atingiu o seu maior patamar em dois anos e meio, pode afetar a indústria da aviação e trazer consequências negativas para o turismo doméstico. Atualmente, cerca de 60% dos custos das companhias aéreas — envolvendo gastos com combustível, aluguel e manutenção — estão atrelados à moeda. Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), essa elevação poderá pressionar os preços internos e dificultar as viagens dentro do País.
Embora não haja sinais dessa tendência no curto prazo — e seja verdade que a valorização do dólar também torne os destinos internacionais menos atrativos, favorecendo o deslocamento regional —, passagens aéreas mais caras causariam impactos significativos para o Turismo em geral, sobretudo o corporativo. O público dessa modalidade tem como característica a necessidade de realização de viagens para participar de eventos e feiras de negócios, ou visitas a clientes e filiais, pelo território nacional. Por outro lado, contribui para o mercado de turismo de proximidade (para destinos de curta e média distâncias), por meio da locação de veículos, de ônibus ou do próprio carro.
A taxa de juros norte-americana, que permanece em patamar elevado, tem gerado uma depreciação global das moedas, não sendo um movimento exclusivo no Brasil. No entanto, a moeda brasileira é uma das mais desvalorizadas nos últimos meses, o que mostra a necessidade de olhar para os desafios internos, sobretudo para a política fiscal e o equilíbrio das contas públicas. Diante da falta de perspectiva sobre os gastos do governo e com a taxa de juros dos Estados Unidos permanecendo como está, a tendência é que o dólar, pelo menos até o fim do ano, continue pressionado. Nesse cenário, consumidores e empresários precisam agir de forma estratégica no período, avaliando demandas e público.
O levantamento que avalia o Faturamento do Turismo Nacional, elaborado mensalmente pela FecomercioSP, apontou que, em abril, o setor faturou R$ 15,7 bilhões, registrando uma alta de 4,7% em comparação ao mesmo período do ano passado. O segmento com maior faturamento no mês foi justamente o de transporte aéreo, com R$ 3,73 bilhões e alta anual de 3,7%. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o número de passageiros por quilômetros transportados foi o maior desde 2015.
A oferta de assentos por quilômetro também cresceu, segundo a Anac, apontando o maior nível desde 2012. Foi um movimento importante de recuperação da oferta aérea, reduzindo a pressão sobre os preços das passagens, que, agora, podem encarecer novamente pela disparada do dólar. Uma ponderação relevante é que a inflação do setor vem demonstrando uma trégua em relação ao ano passado. Isso torna o volume de turistas que estão viajando de avião, hospedando-se em hotéis e alugando carros mais relevante, para o faturamento geral, do que os valores despendidos nas atividades turísticas.
Para se ter uma ideia, a inflação do Turismo, calculada pela FecomercioSP com base nas informações do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 0,7%, no acumulado dos últimos 12 meses (até abril). Há um ano, essa variação era de 21,5%. Em maio, houve elevação média nos preços de 1,45% [tabela 1], e o acumulado subiu para 8,4%, ainda num nível razoável diante do registrado nos últimos dois anos
Faturamento do Turismo nacional por segmentos
O setor de locação de meios de transportes, com crescimento anual de 11,9% e faturamento de R$ 2,2 bilhões, foi o que mais se destacou positivamente, em abril, em termos de variação. No ano, a alta acumulada é de 12,3%. Também apresentaram variações importantes as atividades relacionadas a alojamento (9,6%); alimentação (3,3%); atividades culturais, recreativas e esportivas (5,6%); e agências, operadoras e outros serviços (4,4%), além de outros tipos de transporte aquaviário (5,1%).
Apenas o transporte rodoviário apontou retração no mês, caindo 1,2% e acumulando perda de 9,6%, nos quatro primeiros meses do ano. Esse desempenho está relacionado à base de comparação, já que, em 2022, o setor cresceu 30%. Um dólar mais caro deve favorecer os deslocamentos regionais nos próximos meses, uma vez que que os preços de viagens mais longas, como as de avião, podem ficar mais elevados.
Amazonas e Espírito Santo lideram altas
Os Estados do Amazonas e do Espírito Santo foram os principais destaques do mês na avaliação regional, obtendo variações de 13,9% e 13,4%, respectivamente. Na sequência, vieram Maranhão (12%), Sergipe (10,6%) e Santa Catarina (9%). São Paulo, que tem grande relevância para o faturamento do setor, voltou a crescer após uma sequência negativa, avançando 4,7% no contraponto anual.
Por outro lado, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul sofreram quedas respectivas 10,2%, 5% e 2,9%. No último caso, o estudo ainda não captou os efeitos das chuvas do início de maio, que causaram imensos impactos sociais e econômicos para a região. O Estado gaúcho, que conta com uma participação próxima a 6% no faturamento nacional, foi afetado na sua plenitude, com o fechamento do aeroporto e dificuldade de acesso às principais cidades turísticas, como Gramado.