Terapias Multidisciplinares transformam o futuro de crianças autistas
Intervenção precoce melhora em até 40% os resultados cognitivos e adaptativos, destacando a relevância do ABA, fonoaudiologia e terapia ocupacional no desenvolvimento infantil.
- Data: 20/01/2025 15:01
- Alterado: 20/01/2025 15:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Assessoria
Crédito:Divulgação/Genial Care
Os primeiros anos de vida de uma criança são essenciais para o seu desenvolvimento, especialmente para aquelas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A intervenção precoce e multidisciplinar, que combina diferentes áreas da saúde como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, pode melhorar significativamente a qualidade de vida e a autonomia dessas crianças, além de beneficiar suas famílias. No Brasil, avançar nesse aspecto ainda é um desafio que exige atenção.
Segundo um estudo publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders, intervenções precoces podem melhorar em até 40% os resultados cognitivos e adaptativos. Ou seja, a criança que recebe cuidados e estímulos adequados no início de suas vidas tem maior chance de desenvolver habilidades fundamentais, como a comunicação, interação social e independência no dia a dia.
As terapias multidisciplinares desempenham um papel importante nesse processo, oferecendo abordagens complementares que atendem às necessidades específicas de cada criança.
Como as terapias se complementam?
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma das intervenções mais conhecidas e eficazes para o TEA, inclusive é a ciência da aprendizagem recomendada pela Organização Mundial da Saúde para pessoas com desenvolvimento atípico. Ela trabalha na modificação de comportamentos e no desenvolvimento de habilidades por meio de reforços positivos e estratégias individualizadas. Por outro lado, a Fonoaudiologia foca na comunicação e linguagem, ajudando crianças que enfrentam dificuldades para se expressar ou compreender mensagens. Já a Terapia Ocupacional contribui para o desenvolvimento de habilidades motoras, percepção corporal e muitos outros aspectos que impactam as atividades rotineiras das crianças.
Essas áreas, combinadas, criam uma rede de suporte que potencializa o aprendizado e o bem-estar da criança. “Quando as terapias são integradas e adaptadas às necessidades individuais, observamos progressos que vão além das expectativas. Isso não apenas transforma a vida da criança, mas também proporciona alívio e esperança para as famílias”, complementa a Orientadora Genial e Terapeuta Ocupacional da Genial Care, Alessandra Peres.
Barreiras ao acesso no Brasil
Diante desse cenário, o tratamento do TEA e o acesso às terapias multidisciplinares ainda enfrentam barreiras significativas no Brasil, tanto no sistema público quanto no privado. Essas dificuldades vão desde a falta de profissionais qualificados até o desconhecimento sobre os direitos garantidos por lei.
No sistema público, a oferta de terapias integradas enfrenta desafios estruturais, como a escassez de especialistas capacitados em metodologias como ABA, além de uma oferta limitada de sessões fonoaudiológicas e de terapia ocupacional. A abordagem terapêutica, muitas vezes fragmentada, compromete o desenvolvimento ideal das crianças, que necessitam de um plano integrado e individualizado.
Por outro lado, no setor privado, mesmo com a obrigatoriedade de cobertura de tratamentos pelo rol da ANS, muitas famílias enfrentam resistência dos planos de saúde, que questionam a eficácia ou limitam a quantidade de sessões. Isso obriga muitos pais a recorrerem à justiça para garantir o que é direito de seus filhos.
“Em regiões mais remotas, a situação é ainda mais desafiadora. Muitas famílias nem sequer têm acesso básico a profissionais especializados, tornando urgente a implementação de políticas públicas que ampliem a oferta de terapias para pessoas com TEA”, destaca Alessandra Peres.
A saúde é direito de todos
Apesar de avanços como a Lei Berenice Piana (Lei nº 12.764/2012), que estabelece direitos às pessoas com TEA, muitas famílias ainda enfrentam dificuldades para obter a cobertura de terapias fundamentais. A ANS reforça que tratamentos como ABA e fonoaudiologia devem ser garantidos, mas, na prática, o cumprimento ainda é limitado.
Conforme a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), apenas 30% dos planos de saúde cumprem integralmente a cobertura obrigatória para tratamentos relacionados ao TEA, evidenciando um grande obstáculo para as famílias.
Outro ponto de atenção é a necessidade de maior flexibilidade nos planos de saúde, permitindo que as famílias escolham tratamentos que atendam às necessidades específicas de seus filhos. Essa escolha é essencial para o desenvolvimento da criança com TEA, que muitas vezes enfrenta dificuldades com mudanças de rotina e deslocamentos, o que pode tornar o acesso aos tratamentos ainda mais desafiador. Uma regulação mais clara e efetiva nesse sentido pode aliviar a carga burocrática enfrentada por muitos pais”, afirma Peres.
Além disso, o modelo atual de milhares de horas de terapia como métrica de sucesso nem sempre é o mais adequado. A personalização do tratamento, com foco nas necessidades específicas de cada criança, é fundamental para garantir intervenções mais eficazes, além de respeitar de forma saudável o tempo de todo o núcleo familiar.
“No Brasil, tem se estabelecido um novo padrão para o tratamento do autismo focando na qualidade. Ele promove a autonomia e incentiva o potencial das crianças com critérios personalizados na intervenção, ajustando conforme necessário e considerando transições para outras terapias. O acompanhamento de dados da própria evolução contribuem para uma avaliação constante do desenvolvimento da criança e de suas habilidades, permitindo escolher e ajustar estratégias eficazes”, explica a terapeuta.
A terapeuta ocupacional Alessandra Peres, também pontua que a abordagem multidisciplinar cria um plano abrangente, enriquecendo perspectivas. “Investir em treinamento contínuo é necessário para integrar terapias na vida diária. Tecnologias que apoiem terapeutas e famílias facilitam o monitoramento do progresso, oferecem recursos educativos e conectando os cuidadores ao processo de desenvolvimento das crianças”, completa.
O impacto no futuro da criança e da sociedade
O investimento em terapias multidisciplinares não é apenas uma questão de cuidado individual, mas também de responsabilidade social. Crianças que recebem suporte adequado desde cedo têm mais chances de se tornarem adultos autônomos e participativos, reduzindo a dependência de cuidados intensivos no futuro.
Além disso, a escolha correta de terapias, clínicas e profissionais é determinante para o sucesso do tratamento. Os pais devem exigir que os especialistas utilizem métodos baseados em evidências, respeitem a individualidade da criança e mantenham um diálogo constante com a família.
Lembre-se de que esse é um relacionamento que precisa fazer sentido para toda a família. É importante que todos estejam confortáveis com a situação e que a troca possa ser positiva. Então, tudo bem se não for na primeira tentativa, o importante é continuar a busca e entender o que procurar.
“Garantir o acesso a essas terapias é um passo fundamental para construir uma sociedade mais inclusiva e preparada para lidar com a diversidade. Além disso, representa um compromisso com o desenvolvimento humano, reafirmando que cada criança tem o direito de explorar ao máximo seu potencial” finaliza Alessandra Peres.