TePI – Teatro e os Povos Indígenas põe foco na arte teatral feita pelos povos originários

Com curadoria da diretora artística Andreia Duarte e do líder indígena Ailton Krenak, o evento é co-realizado pelo Sesc SP e terá apresentações teatrais, seminário e leituras dramáticas

  • Data: 06/07/2023 09:07
  • Alterado: 06/07/2023 09:07
  • Autor: Redação
  • Fonte: Sesi-SP
TePI – Teatro e os Povos Indígenas põe foco na arte teatral feita pelos povos originários

Solilóquio (Me Despertei e Golpeei Minha Cabeça Contra a Parede)

Crédito:Diego Astarita

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A pauta indígena tem estado em alta nos últimos tempos – seja pelos danos sofridos recentemente, seja pela inédita ocupação de representativos espaços culturais em São Paulo. Os exemplos são vários, vão de exposições, filmes e publicações a festivais de música. Para mostrar toda a potência do conhecimento e das práticas dos povos indígenas aplicadas às artes cênicas, acontece em São Paulo a 3ª edição do TePI – Teatro e os Povos Indígenas.  

Com curadoria da diretora artística Andreia Duarte e do líder indígena Ailton Krenak, o evento se solidifica como um dos únicos voltados à relação entre o teatro e os povos indígenas de diferentes etnias e nacionalidades no campo das artes. As ações acontecem de 7 a 16 de julho de 2023, nas unidades Sesc Avenida Paulista e Sesc Santo Amaro, além do Museu das Culturas Indígenas e do Instituto Goethe

Na edição de 2023, que tem co-realização do Sesc SP, a mostra tem o tema “Pensar acima das nuvens e outro céu cheio de estrelas”. Com isso, o TePI sugere alianças: cruzamento de cosmologias de diferentes regiões do Brasil e do mundo, potencializando a pluralidade para as visões poéticas. 

Serão dois espetáculos: Solilóquio (Acordei e Bati Minha Cabeça Contra a Parede), do artista argentino Tiziano Cruz, no Sesc Avenida Paulista; e Contra Xawara – Deus das Doenças ou Troca Injusta, do brasileiro Juão Nyn, no Sesc Santo Amaro. Também nesta unidade, haverá a apresentação de um experimento cênico resultado da residência “O(s) Movimento(s) Indígena(s) no Brasil como Teatro Documental”, com a diretora Mapuche Paula González Seguel (Chile).

Seminário, lançamento de livro e plataforma digital

O Seminário “CORPO-MUNDO” tem como curadores os antropólogos Sandra Benites e João Paulo Barreto, que recebem convidados em quatro mesas de conversa. Eles discutem as relações entre corpo e mundo presentes nas diversas formas do pensamento indígena. As mesas acontecem nas duas unidades do Sesc. 

Durante o TePI serão lançados dois livros publicados pela produtora Outra Margem em parceria com a N-1 Edições. Haverá também duas leituras dramáticas (no Museu das Culturas Indígenas) pelas artistas indígenas Luz Bárbara e Bárbara Matias, ambas ligadas ao movimento de retomada Kariri.

E a partir do mês de junho, a plataforma do TePI.digital – que reúne peças, leituras dramáticas, performances, podcasts, textos, conversas e muitos outros conteúdos de artistas indígenas e não-indígenas – irá receber uma série de conteúdos relacionados aos aos povos originários a partir de uma seleção em parceria com o Sesc Digital. O site, que já disponibiliza gratuitamente cerca de 70 conteúdos e acumulou um tráfego de quase 30 mil acessos únicos, segue como importante fonte para artistas, pesquisadores e professores do ensino fundamental, da graduação e da pós-graduação. Para acompanhar estes lançamentos e mais materiais acesse: tepi.digital.

Indígenas no palco

O TePI é realizado a partir dos cinco grandes eixos: Mostra Artística, Encontros, Circula TePI, Paisagem Crítica e Publicações, conduzidos entre presencial na cidade de São Paulo e a plataforma TePI.Digital.

Na Mostra artística, serão apresentados dois espetáculos. Em Solilóquio (Acordei e Bati Minha Cabeça Contra a Parede), o argentino Tiziano Cruz faz um show para exorcizar séculos de maus-tratos e invisibilidade, a partir das comunidades indígenas no norte da Argentina, onde Cruz cresceu. E uma dura crítica aos poderes que orquestram a discriminação, a exclusão e perpetuam a injustiça, incluindo o mercado da arte.

Inspirando-se nas memórias de infância e nas 58 cartas enviadas para sua mãe durante o confinamento em decorrência da pandemia de Covid 19, Tiziano oferece poesia densa e imagens comoventes em Solilóquio. Esta segunda parte de uma trilogia que abre as portas a uma instituição teatral até então inacessível é um manifesto pelo reconhecimento das diferenças e um convite a construir o futuro em vez de esperá-lo. 

As sessões de Solilóquio (Acordei e Bati Minha Cabeça Contra a Parede) acontecem no Sesc Paulista, Sala Arte 2 (Av. Paulista, 119), dias 07, 08, 09 de julho, sexta e sábado, 20h, e domingo, 18h.

Xawara significa epidemia, para o povo Yanomami. Partindo desse conceito e inspirado no mito do espelhinho trocado por ouro, o artista Juão Nyn propõe em Contra Xawara um escambo entre as agulhas do cocar por peças de roupas ou acessórios do público. 

Na história do Brasil e da América Latina, indígenas morreram ao primeiro contato com o homem branco, por causa das novas bactérias e vírus. Todo material trocado é primeiro exposto no corpo do performer, em um acúmulo que soterra a imagem do mesmo, mas que continua circulando pelos espaços de diálogo como uma assombração consumista. Para depois ser colocado em uma mesa expositiva, revelando a farsa, para quem quiser pegar de volta seu pertence, desequilibrando mais ainda a dita troca. A performance começa com uma entrada/aparição da figura do performer, mas que logo em seguida se mistura com o público. 

Serão duas apresentações, dias 13 e 14 de julho, quinta e sexta-feira às 20h, no Sesc Santo Amaro (R. Amador Bueno, 505).

Residência Artística

Além dos espetáculos, o público poderá conferir o resultado da Residência Artística “O(s) Movimento(s) Indígena(s) no Brasil como Teatro Documental”, com a chilena Paula González Seguel. Em formato híbrido (presencial – no Instituto Goethe, e híbrido, em aulas no formato digital), a atividade envolveu participantes de todo o país entre junho e julho e o resultado foi o experimento cênico sobre as histórias dos movimentos indígenas no Brasil. As apresentações, resultantes do processo, serão no Sesc Santo Amaro (R. Amador Bueno, 505), dias 15 e 16 de julho, sábado às 20h, e domingo às 18h.

Durante os encontros foram criadas narrativas cênicas a partir de um levantamento sensível da trajetória e ativismo de lideranças indígenas no contexto político brasileiro, perpassando pelos pontos-chave como a luta pela demarcação e retomada de territórios, a inclusão de direitos na Constituição Federal de 1988, as organizações jurídicas com representatividade indígena, o ativismo pela questão ambiental, momentos históricos que deflagram o genocídio no país, a evolução das candidaturas indígenas até a criação do Ministério dos Povos Indígenas.

Indígenas na conversa

A noção de Corpo-Mundo para os povos indígenas é compreendida a partir da concepção de que o corpo é constituído de elementos vitais, dos elementos que formam o mundo terrestre. Nesta perspectiva o corpo existe nas formas-elementos de luz-vida, floresta-vida, terra-vida, água-vida, animal-vida, ar-vida e humano-vida. 

Com curadoria de Sandra Benites – Guarani Nhandewa, antropóloga e professora – e João Paulo Barreto – indígena do povo Yepamahsã (Tukano), filósofo e, como Sandra, Doutor em Antropologia – será realizado o Seminário Corpo Mundo. Eles se alternam na mediação das conversas que recebem como convidados reconhecidos pensadores e ativistas indígenas.

Nas quatro mesas serão abordadas as relações entre corpo e mundo presentes nas diversas formas do pensamento indígena.

As duas primeiras conversas acontecem no Sesc Avenida Paulista. No dia 8 de julho, às 17h, com a agente ambiental, escritora e guardiã de algumas espécies de alimentos tradicionais Jerá Guarani, Liderança Mulher Mby´a da aldeia Kalipety no território Tenonde Porã; e Joana Carvalho, rezadora Guarani Mby´a. No dia 9 de julho, às 15h, o xamã, líder espiritual, ator, educador social e terapeuta floral  Thini-á Fulni-ô conversa com Jerá Guarani, Liderança Mulher Mby´a da aldeia Kalipety no território Tenonde Porã. 

Na semana seguinte, os eventos do Seminário serão no Sesc Santo Amaro. No dia 15 de julho, a partir das 17h, Emily Ramos Pereira – indígena do povo Macuxi do Estado de Roraima – conversa com a professora indígena Cíntia Guajajara. E fechando a programação do seminário, dia 16 de julho, às 15h, Paulo Desana, cinegrafista e fotógrafo indígena, conversa com João Paulo Barreto.

As atividades do Seminário Corpo Mundo tem entrada gratuita – no caso das atividades no Sesc Avenida Paulista, é necessário retirar ingressos uma hora antes do início da sessão.

Indígenas na cena

Durante o TePI serão lançados dois livros publicados pela produtora Outra Margem em parceria com a N-1 Edições. 

TePI – Teatro e os povos indígenas, janelas abertas para a possibilidade” reúne 15 textos escritos por artistas indígenas, ou de forma compartilhada entre parceiros indígenas e não indígenas, com autores de várias regiões do Brasil, Chile e Equador. Os textos levantam questões sobre o lugar histórico do teatro enquanto instrumento da colonização; como o mercado da arte se organiza e quais são as suas disputas; a importância da representatividade; a construção de narrativas indígenas demarcando identidade por meio de espetáculos e performances e, até mesmo, sobre as possibilidades de rever e reconstruir o que seria uma noção exclusiva do fazer teatral. A organização é das pesquisadoras Naine Terena e Andreia Duarte.

A Caixa de Dramaturgias Indígenas compila 11 dramaturgias criadas nos últimos anos por artistas indígenas, ou produzidas de forma compartilhada entre parceiros indígenas e não indígenas, com autores de vários locais do Brasil, além de Chile e Argentina. São obras de autoficção que trazem  à tona histórias diversas das que normalmente são apresentadas hegemonicamente, com o levantamento de fatos históricos de raro conhecimento público.

Além disso, propõem um refinamento das diferenças culturais entre os povos, suas cosmologias e mitos, transmutando a percepção equivocada do ser indígena como único e homogêneo. As dramaturgias apresentadas, ainda, evidenciam questões marcantes na contemporaneidade, como os decorrentes debates sobre a retomada de territórios e questões de gênero. A organização é das pesquisadoras Trudruá Dorrico e Luna Rosa Recaldes.

Para marcar o lançamento da Caixa de Dramaturgias Indígenas serão feitas as leituras dramáticas de dois dos textos da publicação, pelas artistas Luz Bárbara e Bárbara Matias, ambas ligadas ao movimento de retomada Kariri: “Margarida pra você lembrar de mim”, de Luz Bárbara; e “Carcará”, de Bárbara Matias.

Dia 11 de julho, às 19h, no Museu das Culturas Indígenas (R. Dona Germaine Burchard, 451 – Água Branca). Entrada gratuita.

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  • Data: 06/07/2023 09:07
  • Alterado: 06/07/2023 09:07
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