Tempestade inunda ruas, cancela eventos e atrasa voos em Dubai
Avião com comitiva brasileira ficou 5 horas parado; mudança climática eleva eventos extremos
- Data: 09/03/2024 15:03
- Alterado: 09/03/2024 15:03
- Autor: Redação
- Fonte: Igor Gielow/Folhapress
Crédito:Centro Nacional de Meteorologia/Arquivo
Após uma noite de tensão, em que o governo dos Emirados Árabes Unidos pediu para que a população ficasse abrigada em casa para evitar os efeitos de uma possível tempestade, as chuvas vieram com tudo na manhã deste sábado (9) no país do golfo Pérsico.
Em Dubai, principal centro de conexões da região e dona do segundo mais movimentado aeroporto do mundo, voos foram atrasados devido a inundações e fortes ventos.
Um grupo de empresários liderado pelo ex-governador paulista João Doria, que passou a semana em reuniões no emirado e na Arábia Saudita, viu seu Airbus A380 da Emirates decolar cinco horas depois do previsto. Um membro da comitiva brincou que se tratava de vingança de uma versão árabe de são Pedro: na semana passada, o cônsul emirati em São Paulo teve de ser resgatado pelos bombeiros de um carro ilhado.
O avião chegou a embarcar os passageiros, mas todos tiveram de voltar ao terminal. Outro voo da Emirates, este para Moscou, ficou três horas no chão, com anúncios desencontrados sobre seu status. Ao fim, decolou às 11h45 (na 4h45 em Brasília).
Em Dubai, ruas ficaram alagadas por toda a região central, deixando isolados em shoppings e hotéis turistas que haviam recebido às 20h58 (13h58 em Brasília) um alerta catastrofista que acabou não se confirmando na madrugada. Quando chegou de vez, às 7h45 (0h45 em Brasília), a chuva enfim fez jus à previsão.
O mesmo se viu em Abu Dhabi, a capital do país. No emirado de Sarjah, a rodovia principal, que corta o país do Omã à Arábia Saudita, foi fechada e o trânsito, desviado. Em Ras al-Khaimah, a pista da rodovia cedeu e houve queda de barreiras.
O Pro Tour de Skate Street, que ocorre em Dubai, teve suas semifinais adiadas. Na sexta, apenas a skatista Rayssa Leal havia se classificado para a etapa feminina. No masculino, Gustavo Ribeiro iria entrar em disputa neste sábado. Agora, os atletas devem competir ou no domingo (10) ou na segunda (11).
A disrupção soa estranha, dado que os Emirados ficam no deserto. Chuvas nos quatro primeiros meses do ano, contudo, não são incomuns. O que é inusual, e está associado às mudanças climáticas que afetam todo o planeta de forma sistêmica, é a violência e a recorrência dos eventos.
No ano passado, o termômetro passou de 500C diversas vezes em Dubai. A chuva deste sábado vem na sequência de outra tempestade destrutiva, ocorrida em 12 de fevereiro. Apesar de toda a sua modernidade, o emirado não é conhecido pela eficácia de sua rede de escoamento de água.
Ao contrário: o país mantém um programa de incentivo à chuva, bombardeando durante essa estação mais úmida todas as formações de nuvens que se mostram promissoras com uma mistura de cloreto de potássio e outros elementos – segundo a propaganda oficial, após 60 voos o truque costuma funcionar.
Mas o sistema que atingiu a região do golfo neste fim de semana não tem nada a ver com isso, sendo chuva mesmo. A instabilidade deverá continuar nos próximos dias.
Os Emirados, que foram unificados em 1971, têm contribuições diversas para a emissão de carbono no mundo. Em Abu Dhabi, 60% do PIB vem da venda do abundante petróleo da monarquia. Já Dubai, que chegou a ter 50% das riquezas tiradas dos poços por um breve período, hoje só aufere 1% do PIB com óleo.
Em comum, ambos os emirados, os principais entre os sete existentes, têm uma forte retórica em favor da transição para uma matriz energética mais limpa. Dubai sediou a COP28 no ano passado, evento criticado por ambientalistas.
Em Abu Dhabi, cartazes à beira da estrada enaltecem o programa do governo sobre o tema, mas ao fim do dia o que ainda vale é a presença como monumento na principal avenida da cidade da torre que extraiu as primeiras gotas do petróleo do emirado, em 1958.
O grande ator na região, contudo, é a Arábia Saudita, dona da segunda maior reserva de óleo do planeta. Riad embarcou em um plano para reduzir em 50% as emissões em 2030, neutralizando o carbono em 2060. Apesar da intenção, o programa é criticado por ser financiado justamente pelo aumento de exportação de hidrocarbonetos para outros países.