SESI e SENAI formam primeira turma do Novo Ensino Médio no Brasil

Protagonistas de uma experiência pioneira no país, 198 estudantes concluem Novo Ensino Médio

  • Data: 17/12/2020 18:12
  • Alterado: 17/12/2020 18:12
  • Autor: Redação
  • Fonte: CNI
SESI e SENAI formam primeira turma do Novo Ensino Médio no Brasil

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Depois de três anos de uma experiência pioneira no país, o Serviço Social da Indústria (SESI), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), forma, nesta quinta-feira (17), 198 estudantes de cinco estados – Alagoas (40), Bahia (51), Ceará (20), Espírito Santo (57) e Goiás (30). É a primeira turma do Novo Ensino Médio, formada no chamado Itinerário V, que associa o ensino regular à formação técnica e profissional.

Assista à formatura no canal do SESI no Youtube.

Os alunos estudaram com gratuidade e 81,5% vieram de escolas públicas, 87% são da classe D e 13% são classe C. Receber o certificado do Ensino Médio e do curso técnico de Eletrotécnica, em meio às dificuldades impostas pela pandemia e pela realidade socioeconômica, é a primeira conquista de uma nova trajetória que eles começaram a escrever em 2018.

A estrutura SESI SENAI possibilitou adaptar as aulas para o modelo a distância e cumprir o calendário escolar. Diretor-superintendente do SESI e diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi destaca que as organizações são referência na formação técnica e profissional.

“Por mais de um século, tivemos um mesmo modelo de ensino, que não acompanhou as mudanças tecnológicas e as necessidades do mercado de trabalho e da indústria. O Novo Ensino Médio é a revolução desse modelo, possibilitando aos jovens terem contato com o mundo profissional e construírem planos para o futuro”, defende.

Enquanto as escolas públicas e privadas têm até 2022 para implementar e estão dando os primeiros passos, a rede forma a primeira turma após três anos de muito aprendizado. Em 2019 e 2020, ampliou-se a oferta do Novo Ensino Médio, que hoje é adotado em 22 estados, 78 escolas, 139 turmas, com 6.538 estudantes matriculados.

Além do itinerário V – para o qual existem 20 cursos técnicos, entre Eletrotécnica, Redes de Computadores, Programação de Jogos Digitais, Mecatrônica, Meio Ambiente, Edificações, Logística e Alimentos –, a rede já oferece os itinerários de Ciências da Natureza e Matemática.

Nesse período, estudantes, pais e docentes relatam amadurecimento profissional e pessoal dos formandos, resultado de uma abordagem interdisciplinar que incentiva trabalhos em grupo, o autoconhecimento e o protagonismo na construção de um projeto de vida e de carreira.

Estudantes traçam planos

A mãe da estudante Laísa Maia, Cristina Maia, de Feira de Santana (BA) define como “um holofote na minha vida, não só a luz no fim do túnel”, a oportunidade de a filha ter conseguido a bolsa de estudos em um momento de instabilidade financeira da família. Para garantir que a adolescente não interrompesse os estudos na pandemia, o SESI forneceu computador e promoveu as aulas on-line.

O curso de Eletrotécnica foi escolhido para as primeiras turmas após pesquisa em âmbito nacional, considerando a demanda de profissionais. Por atuar em diferentes segmentos com manutenção, projeto e execução elétrica e eletrônica, o técnico em eletrotécnica é um dos mais requisitados, com salário médio de R$ 1.700,00 a R$ 3.390,00.

Ao vislumbrar as oportunidades desse mercado, os estudantes Júlio Gomes do Nascimento e Ivo Fábio de Sousa Brandão já traçaram o plano de formar uma empresa de instalações elétricas. Os dois são de Cascavel (CE), região metropolitana de Fortaleza, e percorrem 120 km para estudar no SESI Euzébio Mota de Alencar.

“Pretendo, assim que terminar o ensino médio, entrar no mercado de trabalho e, em paralelo, fazer a faculdade de engenharia elétrica no período da noite ou da manhã”, orgulha-se Ivo Brandão, cuja mãe é dona de casa e o padrasto é pedreiro. Ele cita melhora na leitura e na escrita, para realizar pesquisas e falar em público.

Desenvolvimento de competências técnicas e pessoais

Percepção semelhante à de Alberto Júnio Novaes Guimarães, de Aparecida de Goiânia (GO): “A nossa argumentação era horrível, aí os primeiros debates viravam briga. Com o tempo, a gente começou a entender o quão importante era ter referências para falar de um assunto”.

Ao elogiar o estudo por áreas, ele se recorda de uma peça teatral que fizeram sobre o basquete nos Estados Unidos, unindo artes, educação física e inglês. O modelo de ensino está alinhado com a abordagem educacional conhecida como STEAM – acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes/Design e Matemática.

Além da carência de profissionais nas áreas de engenharia e tecnologia, o Brasil caiu no ranking em ciência e matemática na última edição do Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. A formação contribui, portanto, com o mercado de trabalho e a proficiência dos alunos.

A professora Mirian Araújo da Silva, de Serra (ES), lembra ainda do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): “Pudemos perceber que a didática incentiva os alunos a pesquisar e a interpretar textos, dois artifícios que são essenciais para a avaliação do Enem”.

Mudanças incluem maior carga horária e ensino técnico

Estabelecido pela Lei nº 13.415/2017, o Novo Ensino Médio prevê aumento da carga horária, de 2400 horas para 3000 horas, composta 60% pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e 40% pelo itinerário formativo, que pode ser: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Formação Técnica e Profissional.

O aprendizado por área de conhecimento, com foco no desenvolvimento de competências e habilidades e não mais por disciplinas, exige mudanças. “Foi um processo de formação com a equipe, de testes, escolhas, muita conversa e planejamento. Tivemos o gestor de sala, um professor que dedica três horas semanais para conversar com os alunos sobre as dificuldades, a aprendizagem e os rendimentos, e com os pais”, detalha a coordenadora pedagógica Danielle Santos da Silva, de Fortaleza.

Ensino melhora empregabilidade

O itinerário formativo técnico profissional pode contemplar o estágio e a aprendizagem, que auxiliam o jovem no ingresso no mercado de trabalho e na geração de renda – um dos principais fatores para o abandono nessa etapa escolar.

O aluno sai preparado para os desafios atuais, com competências ligadas à indústria do futuro, o que contribui para a empregabilidade dos jovens, a capacidade inovativa das empresas, a produtividade e a economia do país.

Nos países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 48% dos estudantes do ensino médio fazem educação profissional; no Brasil, índice não chega a 10%. A formação se faz ainda mais necessária tendo em vista que 44,2% dos brasileiros de 14 a 17 anos e 31,4% dos de 18 a 24 anos de idade estão desempregados e em busca de trabalho.

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