Saúde atende 1,2 mil pessoas por ano com disfagia

Tosse, engasgo e dificuldade para engolir são alguns dos sintomas da doença, apontada como uma das possíveis sequelas da Covid-19

  • Data: 22/03/2022 10:03
  • Alterado: 17/08/2023 07:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: Agência Brasil
Saúde atende 1,2 mil pessoas por ano com disfagia

Atendimento

Crédito:Arquivo - Agência Brasil

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Dificuldade em engolir alimentos, líquidos ou medicações, tosse, engasgo e sensação de comida parada na garganta pode ir além de um incômodo momentâneo. Pode tratar-se de disfagia, uma condição que pode durar meses ou anos e predispor o paciente a problemas como desnutrição, desidratação, asfixia, pneumonias aspirativas recorrentes e, nos casos mais graves, se não identificados, levar ao óbito. Na Rede de Atenção à Saúde (RAS), da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS), nos últimos cinco anos foram realizados atendimentos a pelo menos seis mil pessoas com disfagia, 1,2 mil por ano. De acordo com um estudo divulgado pela Associação Americana de Fonoaudiologia, estima-se que uma em cada 25 pessoas terá alguma alteração na função de deglutição ao longo da vida.

Muitos não se dão conta da gravidade do problema e, por isso, o Dia Nacional de Atenção à Disfagia, celebrado no dia 20 tem o intuito de auxiliar a população a reconhecer os principais sintomas e o que fazer diante da suspeita dessa condição, que é caracterizada pela alteração no trajeto do alimento desde a boca até o estômago. Causada por doenças neurológicas (como acidente vascular encefálico, doença de Parkinson, demências, paralisia cerebral entre outras), tumores de cabeça e pescoço (câncer de boca, câncer de laringe), traqueostomias, prematuridade e malformações congênitas orofaciais e do sistema digestivo, recentemente, a disfagia também é uma das consequências da Covid-19, em pacientes que tiveram que ser intubados.

Esse é o caso de Carla Maria da Silva de Jesus, 40 anos, auxiliar técnico de Educação e moradora do bairro de Itaquera, na Zona Leste, que teve Covid-19 em março de 2021. Após ficar internada por três meses e intubada em um deles, teve algumas sequelas, entre elas a disfagia.

“Tive problemas na voz e procurei a fonoaudióloga. Durante a consulta, relatei que me engasgava muito e tossia a ponto de a comida voltar. Foi então que ela diagnosticou a disfagia. Eu nunca imaginei que a questão do engasgo poderia ser por consequência da Covid-19. Hoje estou reaprendendo a engolir, não posso comer muito rápido, tenho que mastigar mais vezes e já estou muito melhor. Eu ficava com vergonha de sair para comer fora, ir a algum lugar e depois ficar tossindo, regurgitando. Agora, que já sei como lidar, faço a manobra que aprendi e o alimento não volta”, conta Carla.

Má postura

De acordo com Isabel Medeiros, fonoaudióloga da SMS e especialista em disfagia, os pontos-chaves para a suspeita da disfagia são a perda do ar quando está comendo, diagnóstico de pneumonia repetidas vezes, perda de peso sem causas aparentes e engasgos específicos para algumas consistências, como água, por exemplo.

“No caso da Covid-19 temos três cenários que podem causar essa condição: insuficiência respiratória, que atrapalha o processo de coordenação entre a respiração e a ingestão de alimentos; a intubação por ventilação mecânica, que causa a falta de sensibilidade na mucosa da laringe e, por consequência, aumento do risco de aspiração do alimento, causando pneumonia; e, em terceiro lugar, estão pacientes que necessitaram ser traqueostomizados durante a internação e, agora, fazem tratamento com fonoaudiológicos para retirar a traqueostomia e reaprender a comer”, explica.

Além da Covid-19, problemas na postura também podem causar a disfagia.

“Temos o caso de uma paciente de 85 anos de idade, sem qualquer outra comorbidade, que procurou o médico porque estava se engasgando muito. Ela foi encaminhada para nós, da fonoaudiologia, e diagnosticamos que a causa é uma alteração na coluna, o famoso bico de papagaio. Nesse caso, é fundamental esse gerenciamento fonoaudiológico, pois evita um potencial risco de asfixia e pneumonia”, finaliza Isabel.

Triagem e avaliações

O tratamento para disfagia realizado no Sistema Único de Saúde (SUS) da capital também recupera pacientes com consequências graves causadas por traumas em acidentes. A baiana Ana Maria da Costa, 61, lavradora e hoje moradora do Brooklin, na Zona Sul, veio do Nordeste há quatro anos para cuidar do filho Leandro de Jesus Costa, 29, quando ele sofreu um acidente de moto. Devido ao traumatismo craniano, Leandro desenvolveu a disfagia e contou com o auxílio da mãe e o tratamento médico para recuperar a deglutição.

“Ele se alimentava por líquidos, eu fazia um mingau ralinho para colocar na sonda. Depois, quando começou com alimentos sólidos, a gente tinha que movimentar a boca dele, era muito difícil. Há cinco meses, por causa do tratamento, ele já come até churrasco e pão no café da manhã. Faço arroz, feijão e carne, seu prato favorito. Corto tudo e ele manda para dentro. Ele perdeu a fala, mas eu entendo tudo o que me pede para cozinhar. O que você colocar na boca, ele come e isso é uma vitória”, conta Ana Maria.

O atendimento ao paciente disfágico pode ser realizado na rede de Atenção Básica, por meio da triagem e avaliação nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e no atendimento domiciliar pelo Programa Melhor em Casa ou nos equipamentos da Atenção Especializada, que inclui os Centros Especializados de Reabilitação (CERs) e as Unidades de Referência na Saúde do Idoso (Ursis), que realizam atendimento terapêutico aos cidadãos com patologias neurológicas, oncológicas, recém-nascidos de alto risco e idosos frágeis. Os hospitais municipais também realizam atendimento em disfagia no ambiente ambulatorial e nas unidades de internação em enfermarias, terapia semi-intensiva e intensiva.

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  • Data: 22/03/2022 10:03
  • Alterado:17/08/2023 07:08
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