Sars-CoV-2 – Cientistas contam com ‘cobaias humanas’ como voluntárias
“Sou uma voluntária e conheço a doença”. Pesquisas contam com doação de sangue para formação de bancos de estudos e até com pessoas que aceitam se infectar com o vírus
- Data: 11/05/2020 09:05
- Alterado: 11/05/2020 09:05
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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No combate contra a covid-19, a descoberta de uma vacina contra o Sars-CoV-2 é fundamental contra o avanço do vírus, que já infectou mais de 4 milhões de pessoas no mundo; no Brasil perto de 156 mil pessoas já foram infectadas com mais de mil mortes até agora. A corrida por um mecanismo de imunização de massa conta com dezenas de grupos de cientistas no mundo, com iniciativas de pesquisas de vacinas que precisam de pessoas que se ofereçam como cobaias para testes e outras que se transformam em doadores voluntários de sangue para bancos de estudos.
Enquanto no exterior grupos arregimentam interessados, no Incor, em São Paulo, pesquisadores em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) já reúnem um grupo de cem voluntários que doaram sangue para um banco de material a ser estudado em busca de anticorpos resistentes ao vírus.
“Eu sou voluntária porque conheço a doença”, conta Waldineia Campos, de 43 anos, enfermeira que contraiu a covid-19 e ficou 13 dias hospitalizada.
Depois de consultar o médico Luan Lopes, que a tratou durante a internação, ela foi ao Incor para se inscrever como voluntária para a pesquisa do grupo coordenado por Edecio Cunha Neto e chefiada pelo médico Jorge Kalil.
Como voluntária, Waldineia doou sangue e faz parte de um grupo de cem pessoas que entraram para a pesquisa de uma vacina, ainda longe de chegar aos pacientes.
“Foi uma decisão pessoal. Eu recebi um convite pelo Facebook e decidi colaborar”, contou. “O pessoal do Incor disse que a gente será informado dos resultados do estudo”, comentou a voluntária, demonstrando orgulho por participar. Ela lembrou ainda dos momentos de sua luta particular contra a infecção. “Eu fiquei muito debilitada, sem energia, não conseguia nem me mexer, e precisei de oxigênio.”
Nessa briga com o vírus, o desafio é descobrir o mecanismo biológico da célula que possa impedir que o vírus entre pelo tecido dos alvéolos pulmonares, por onde invade o hospedeiro humano, e a construção de uma vacina para um combate microscópico seguro e duradouro, como ocorre com outras doenças já conhecidas.
Para o físico Antonio José Roque, diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), de Campinas, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, esse é o grande desafio atualmente na pesquisa pela cura da covid-19: encontrar um fármaco que funcione contra o vírus, mas que seja seguro para o paciente. Segundo ele, o CNPEM não trabalha com a produção de vacinas. O trabalho de uma centena de cientistas da instituição se concentra na identificação de medicamentos, entre os já existentes, que ofereçam a maior possibilidade de enfrentar o vírus com sucesso. Para isso, segundo o diretor do CNPEM, os cientistas vão usar análises de dados fornecidos até o moderno sistema de computadores conhecido como Sírius, um projeto de quase R$ 2 bilhões, iniciado em 2012, e que ajudará também na pesquisa. Ao todo, estão sendo analisados cerca de 2 mil remédios com potencial para combater o Sars-CoV-2.
O grupo de cientistas do Incor, em conjunto com o Instituto de Ciências Biomédicas da USP e a Escola Paulista de Medicina (Unifesp), tem a coordenação do médico Jorge Kalil e opera para detectar anticorpos e linfócitos T células de defesa do organismo) de pacientes que tiveram a doença para, com esse material de doadores infectados, descobrir quais partes do vírus podem ser atacadas pela vacina, com segurança, para evitar a invasão celular e replicarão do vírus.
PAGAMENTO
Kalil publicou vídeo com chamamento para voluntários que já tiveram a doença para doação de sangue. E divulgou o endereço na web para inscrições de interessados: iii.org.br/coronavírus.
O coordenador do grupo, Edecio Cunha Neto, explicou que o projeto já estava em andamento. “Fechamos um grupo de cem doadores para iniciar a pesquisa”, contou Cunha Neto. Segundo o coordenador do Incor/USP/Unifesp, não há qualquer pagamento a doadores. “Eles são doadores voluntários. Não há pagamento.”
No exterior, plataformas de web como a 1Day Sooner informam que cadastram milhares de candidatos para integrarem pesquisas de vacina, mas com outra meta. Precisam ser pessoas jovens e saudáveis que aceitem ser cobaias. Segundo especialistas, nos Estados Unidos as chamadas cobaias podem receber até US$ 100 para participar dos experimentos.
De acordo com reportagem do domingo passado do programa Fantástico, da TV Globo, pelo menos dois brasileiros fariam parte desse grupo, um do Rio Grande do Sul e uma mulher do Rio. No Rio Grande do Sul, o estudante universitário Pablo Fernandes, de 21 anos, morador de Canoas, cidade da região metropolitana de Porto Alegre, admitiu ser um dos voluntários cadastrados no site estrangeiro para serem infectados em estudo, como o menino usado por Edward Jenner há 220 anos na Inglaterra.