Rua Maria Antônia: 55 anos após a batalha ideológica de universitários
Em 2 de outubro de 1968, icônica via paulistana testemunhava conflito entre estudantes da Mackenzie e USP, e hoje é um espaço de aura cultural, educacional e política
- Data: 27/09/2023 10:09
- Alterado: 27/09/2023 10:09
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
A Batalha da Maria Antonia, em 1968, entre estudantes da USP e do Mackenzie
Crédito:Hiroto Yoshioka/Acervo Centro Universitário Maria Antonia – PRCEU USP
Uma verdadeira guerra campal, com opositores das universidades Mackenzie e USP, deixou marcada na história a Rua Maria Antônia, na Vila Buarque. Isso em plena vigência da ditadura militar, no dia 2 de outubro de 1968. Agora, 55 anos depois, a via paulistana transcende o violento episódio e se firma como um cenário que respira tempos antigos da memória política e cultural de São Paulo e do Brasil.
A rua é tema do livro “Maria Antônia – Um retrato além da moldura”, de Fernando Santos da Silva, doutor em Educação, Arte e História da Cultura. “Seus quase 500 metros de extensão interligam a história do Brasil-Colônia com a atualidade que, por vezes vira palco de reivindicações sociais, mas que possui uma vivacidade e funcionalidade ímpares, com representações significativas para a sociedade em suas dimensões cultural e educacional”, afirma o historiador.
A Batalha da Maria Antônia, como ficou conhecido o conflito entre estudantes de esquerda e de direita, é um registro sempre presente quando se fala do local. “As ruas são lugares de memória social e está, especificamente, carrega fortes acontecimentos que conectam as pessoas ao mundo urbano”, diz Silva.
Em sua obra, o historiador mostra que o logradouro, “para além desse lugar-comum, ou seja, dos conflitos de 1968, recorre constantemente a dinâmica estudantil dessa rua – pulsante, tensa e divertida”, um “microcosmo da complexa realidade sociopolítica e coletiva do país não merece (…) o rótulo de ‘uma rua na contramão’, que outrora lhe foi atribuído”, mas sim, um lugar que “caminha na própria ‘mão da história’”.
Além disso, o autor reivindica para a rua um olhar mais atencioso: “Os aspectos educacionais e culturais (…) têm sido muitas vezes mantidos na invisibilidade e se mostrado imperceptíveis para a maior parte dos transeuntes que atravessam a rua, mas estão presentes, lutando pelo espaço e, ao mesmo tempo, reforçando ainda mais a vocação educacional e (multi)cultural da Rua Maria Antônia.”
MUSICALIDADE
Em um outro artigo de sua autoria, de 2018, Fernando Santos da Silva trata da memória artística da Rua Maria Antônia, sobretudo no campo musical. Os bares dali viram nascer um dos grandes nomes da música brasileira.
O texto traz relato do jornalista Gilberto Amendola, em que o então Bar Sem Nome assistia a apresentações de dois estudantes da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) que se revezavam no violão. Um deles era Chico Maranhão “e o outro um rapazinho que, além de ser assim um violeiro tão bom, tinha uma voz bem mais ou menos. Esse outro era o Chico, o Buarque”.
Após os acontecimentos de 1968, a efervescência cultural e intelectual da rua minguou, abrindo espaço para outras passagens. Porém a força histórica do local é viva e ainda hoje fertiliza o imaginário da cidade.