Quem ainda quer ser professor?
Apesar das pesquisas mostrarem queda no número de professores em todo país, magistério ainda despertar a paixão por formar pessoas
- Data: 11/10/2024 15:10
- Alterado: 11/10/2024 15:10
- Autor: redação
- Fonte: Assessoria
Crédito:A professora Adilceia Alves de Lima trabalha em sala de aula há quase 40 anos.
Comemorado no próximo dia 15, o Dia do Professor celebra a importância de uma profissional que ajuda a formar todos os demais profissionais, seja qual for a área. Mas também é uma oportunidade para refletir sobre os desafios e as oportunidades da educação no país. Pesquisas recentes apontam para um cenário preocupante: cada vez menos jovens se interessam pela profissão.
Um estudo feito pelo Instituto Semesp revela que o Brasil pode enfrentar um déficit de até 235 mil professores na educação básica até 2040. O mais recente Censo da Educação Superior, de 2022, confirma o problema, mostrando que a taxa de evasão nos cursos de licenciatura é a maior da década, com mais de 58% dos alunos abandonando a faculdade antes de se formar.
“Nós sentimos isso na prática. O número de profissionais no mercado diminuiu. Mas, por outro lado, como a exigência de qualidade é cada vez maior, a gente percebe o interesse desses profissionais em se aprimorar constantemente, em buscar cada vez mais qualificação”, diz a diretora do Colégio Santo Anjo, Siona Boiko. “O resultado é que se sobressaem os professores mais preparados. E a paixão pela sala de aula é algo contagiante.”
Uma das principais instituições de ensino do Paraná, com 3 mil alunos em quatro unidades de ensino, o colégio tem hoje mais de 400 professores que abraçam a profissão com entusiasmo e expertise.
Paixão por lecionar
Um programa intensivo de atualização e suporte dos profissionais, feito na escola, visa aperfeiçoar suas competências e manter viva a chama da paixão pela profissão, como mostram algumas histórias pessoais, marcadas por desafios extraordinários.
A estudante de pedagogia e psicopedagogia Vanessa Alves Soares faz estágio como professora assistente dos alunos de 1º e 2º anos do ensino fundamental no Colégio Santo Anjo. O desejo de lecionar começou quando ainda era criança. Aos 11 anos, ela sofreu um acidente doméstico e precisou andar de cadeira de rodas por um ano.
“Nesse período, eu tinha um professor chamado Raimundo. Todos os dias ele ia até a minha casa e me levava para a escola, para eu conseguir acompanhar a turma e não perder o ano”, lembra. “Foi um período muito difícil. Mas isso marcou a minha vida para sempre. Por causa dele, estou aqui hoje. Professores como ele fizeram eu me apaixonar pela educação.”
Realizar o sonho, e a promessa que fez para o professor Raimundo, no entanto, não foi simples. Quando terminou o ensino médio, Vanessa fez um curso técnico em Recursos Humanos, porque não tinha condições de pagar uma faculdade de Pedagogia. Só muito anos depois, resolveu largar o emprego para vender doces na porta da universidade e pagar o curso.
Quando estava quase terminando a faculdade, no entanto, precisou trancar o curso para se dedicar a cuidar da mãe doente. Ao voltar a estudar, os anos cursados já não eram mais válidos e ela recomeçou do zero. “Se eu não amasse muito essa profissão, teria desistido. Mas, se eu não puder lecionar, a minha vida acaba”, diz. “Ser professora era o sonho também da minha mãe, que só conseguiu estudar até o quarto ano. Pouco antes de ela falecer, eu prometi que terminaria a faculdade para realizar o sonho dela e o meu. E é isso que estou fazendo hoje”.
Para Vanessa, contribuir para o desenvolvimento de outras pessoas é a maior recompensa da profissão. “O que fizeram por mim, eu quero fazer pelo outro. Ver uma criança lendo, se desenvolvendo, é algo que não tem preço”.
Formar pessoas
Há 37 anos trabalhando com educação – em sala de aula, como coordenadora e até dona de escola -, Adilceia Alves de Lima também se diz apaixonada pela profissão e pela missão de contribuir para a formação de alguém. “Nós formamos as pessoas para todas as outras profissões do mundo. Ninguém se forma se não tiver uma professora.”
Adilceia é atualmente professora do 5º ano do Ensino Fundamental do Colégio Santo Anjo, e conta que nasceu e foi criada dentro de uma escola, já que a mãe era cantineira em uma instituição pública de ensino. “Minha mãe sempre sonhou que eu fosse professora. Fui fazer magistério e me encontrei. Descobri que era isso que eu amava. E aos 14 anos, já no primeiro ano, fui estagiar em sala de aula.”
A professora diz, no entanto, que é comum ver os próprios colegas desmotivando os alunos a seguirem a profissão. “É claro que existem dificuldades. E muitos professores só falam disso. Mas, elas existem em todo tipo de trabalho”, diz. “Ser professor é uma missão muito gratificante. Fiquei dois anos fora de sala de aula e não aguentei. O amor pela profissão me fez voltar.”