Projeto Cozinha Escola Solidária já distribuiu mais de 21 mil refeições
Diariamente são distribuídas 755 refeições na primeira escola de profissionalização para população em situação de rua da cidade. A meta é entregar 126 mil refeições nos próximos seis meses
- Data: 15/03/2022 18:03
- Alterado: 17/08/2023 07:08
- Autor: Redação
- Fonte: Prefeitura de São Paulo
Projeto Cozinha Escola Solidária
Crédito:MARCELO PEREIRA / SECOM
Desde quando iniciou suas atividades, em 14 de fevereiro, o Projeto Cozinha Escola Solidária, a primeira escola de profissionalização para população em situação de rua na capital, localizada em Santa Cecília, no Centro, já distribuiu mais de 21 mil refeições. A ação, uma iniciativa da Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDH) e do Movimento Estadual da População em Situação de Rua (MEPSR), tem como meta entregar 126 mil refeições nos próximos seis meses.
O Projeto funciona no interior do centro de pesquisa e cultura Bibli-ASPA e tem como proposta formar cidadãos em situação de rua, possibilitando sua entrada no mundo do trabalho de forma autônoma. Os alunos aprendem e fazem refeições para serem distribuídas para a população em situação de rua, com cardápios diferenciados diariamente. No equipamento também são promovidos cursos sobre direitos humanos e, nas próximas semanas, lá serão ministradas aulas de panificação, jardinagem e Língua Portuguesa.
“A segurança alimentar da população em situação de rua da cidade e o combate à fome dos mais vulneráveis foram preocupações constantes da gestão Bruno Covas e do nosso prefeito Ricardo Nunes desde o começo da pandemia. E para garantir o acesso digno dessa população à uma alimentação saudável, agora damos um passo ainda mais importante com a oportunidade de reintegração social por meio da qualificação profissional, o que considero ser um ganha-ganha sem precedentes para a cidade”, afirma a secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Claudia Carletto.
Para a coordenadora de políticas para população em situação de rua da SMDHC, Giulia Patitucci, propiciar a oferta de alimentação a esse público e, ao mesmo tempo, oferecer qualificação profissional e geração de renda é fundamental.
“É o que nos motiva a trabalhar todos os dias para a construção de políticas públicas que efetivamente mudem a vida das pessoas”, enfatiza
Planos para o futuro
Atualmente, o projeto conta com nove participantes que estão em situação de rua ou que já estiveram nesta condição. Desse total, cinco atuam como auxiliares de cozinha, dois como auxiliares de serviços gerais e outros dois como entregadores. E todos têm como objetivo aprender, se qualificar e conseguir uma vaga no mercado de trabalho para melhorar de vida, ajudar a família e também os mais necessitados. Um deles é o senegalês M. P., de 42 anos, que deixou sua terra natal há três anos e meio. Lá moram sua mãe, irmãos e quatro filhos, com os quais conversa diariamente, por chamada de vídeo.
“É difícil ficar longe deles, mas vim buscar uma condição de vida melhor no Brasil”, conta.
Desde que aqui chegou, em 2018, M.P. trabalhou como vendedor no bairro do Brás; na colheita em Caxias do Sul (RS) e em uma granja em Itumbiara (GO). E agora sente-se realizado com a oportunidade de aprender a cozinhar para se qualificar e, também, ajudar as pessoas.
“Passar fome é muito ruim. Por isso me sinto feliz trabalhando aqui. No futuro, quero voltar para o Senegal e montar um projeto como esse, para amparar quem mais precisa”, diz.
Comandar seu próprio negócio também é o sonho de Eliane Cardoso da Costa, 51. Divorciada, mora com duas filhas e cinco netos em uma ocupação em Santa Cecília, no Centro. Ela perdeu o trabalho de cozinheira em um buffet infantil em Cajamar, na Região Metropolitana, por conta da pandemia.
“Conseguia pagar meu aluguel trabalhando só aos sábados e domingos. Mas veio a pandemia, o buffet fechou e a situação ficou complicada. Quero aprimorar seus conhecimentos e trabalhar por conta própria, vendendo bolos e salgados”, revela.
Carteira profissional
Ao contrário de Eliane, Denílson Oliveira Guimarães,40, sonha com um registro na carteira profissional. Ele afirma que diverte-se na cozinha do projeto, preparando alimentos e lavando a louça.
“Quero aproveitar essa oportunidade que me foi dada”, confessa Guimarães, que nasceu em São Paulo e foi abandonado, recém-nascido, na porta de uma família no bairro de Santa Efigênia. Dos 9 aos 20 ele trabalhou em circo e, depois que a companhia acabou, morou na rua durante dez anos. Durante esse período fez isso de álcool e drogas, mas abandonou os vícios por vontade própria.
“Tudo mudou quando comecei frequentar a Igreja Batista da Água Branca, na Zona Oeste. Hoje moro em uma pensão no bairro da Pompeia, com aluguel pago pela igreja e, quando estou de folga, vou encontrar minha namorada”.
A vida também sorriu para o carioca Rafael Moraes, 32, que gosta de ser chamado pelo apelido que ganhou dos amigos do projeto, Puff . Além de comandar o fogão e as panelas, está aprendendo a filmar e fotografar.
“Vou trabalhar em um restaurante e, nas horas vagas, com imagem. Quero fazer de tudo um pouco”, garante o rapaz, que foi encaminhado para o projeto pelo coordenador do Movimento Estadual da População em Situação de Rua, Robson Correa Mendonça.
Antes de se tornar aluno do Projeto Cozinha Escola Solidária, Moraes atuou em um projeto semelhante aqui em São Paulo e, garante, a partir de então iniciou a melhor fase de sua vida.
“Agora, só penso em melhorar daqui em diante. Minha vida foi muito complicada. Comecei a morar na rua com nove anos, no Rio. Aos 14, vim para São Paulo de carona, pensando em melhorar”.
Um dos frequentadores mais jovens do projeto é João Pedro Soares Neves, de 20 anos. Ele também foi encaminhado para o curso por Robson Mendonça.
“Há cinco anos morava na rua, e por indicação do Seu Robson, fui tomar conta e morar em um depósito na rua 9 de julho. Antes, morava em São Miguel Paulista, com minha mãe e meu irmão. Ela perdeu o emprego, se envolveu com drogas e fomos todos morar na rua”, confidencia o jovem que sempre gostou de cozinhar.
Neves conta que fazia bolinhos de chuva, pudins e mousses quando morava com a minha família e hoje ainda os prepara, em casa, para a namorada, aos fins de semana. Mas atuar em uma cozinha industrial tem sido uma experiência importante para ele.
“Estou gostando muito de aprender a cozinhar em grande quantidade, organizar marmitas de acordo com o peso. É uma grande oportunidade”, garante.
Parceria
O Projeto Cozinha Escola Solidária é administrado pelo Movimento Estadual da População em Situação de Rua (MEPSR), em parceria com a Bibli-ASPA, onde fica localizada a cozinha, que começou a ser construída em 2020.
O MEPSR foi fundado no ano 2000 por Robson Mendonça, seu atual presidente. Entre seus objetivos destacam-se prestar assistência à população em situação de rua; promover sua reintegração social e lutar por seus direitos.
O centro de pesquisa e cultura Bibli-ASPA tem como foco promover a reflexão crítica por meio da pesquisa, produção e difusão sobre os povos árabes, africanos e sul-americanos. Promove cursos de línguas, cultura, literatura, história, arqueologia e caligrafia, assim como exposições e festivais de arte, entre outras ações.