Primeira professora trans do ICMC rompe estigmas e promove diversidade
Leo Ribeiro traz sua expertise em processamento de imagens e visão computacional, iniciando neste semestre como docente da USP.
- Data: 24/02/2025 16:02
- Alterado: 24/02/2025 16:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: USP
Em um país onde a população trans enfrenta os maiores índices de violência, exclusão educacional e dificuldades de acesso ao mercado de trabalho, a professora Leo Ribeiro faz história ao se tornar a primeira docente trans do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.
Recém-aprovada em concurso público, Léo entrará na sala de aula pela primeira vez neste semestre, levando sua expertise para a formação de novos profissionais e consolidando um marco na luta por inclusão e diversidade na universidade. Mulher transgênero, foi durante o doutorado no próprio Instituto que ela reafirmou sua identidade de gênero.
“Estou ocupando um espaço em que muitas pessoas não esperam ver uma mulher trans. Isso, por si só, já é uma mensagem poderosa e acredito que vai ajudar a desconstruir várias ideias equivocadas que foram ensinadas sobre o que é ser uma mulher trans”, destaca.
Neste primeiro semestre, a docente assumirá três turmas, ministrando aulas de Processamento de Imagens, Laboratório de Algoritmos Avançados e Laboratório de Introdução à Ciência da Computação. “Estou bastante animada para dar início a essa nova fase da minha vida profissional”, relata.
O início da jornada da professora Leo, em uma das mais respeitadas instituições de ensino do mundo, ocorre em um momento de crescente discurso de ódio contra a população trans, intensificado especialmente após a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Por isso, de acordo com a professora Gabrielle Weber, uma das primeiras professoras trans da USP, a nomeação da Leo é um marco ainda mais significativo.
“É um avanço sem precedentes e representa um aumento importante na representatividade trans no quadro docente da USP”, destaca. Gabrielle é docente na Escola de Engenharia de Lorena (EEL) e assumiu sua identidade de gênero há seis anos, quando já atuava como professora na instituição.
Para ela, vivemos um momento em que é necessário comemorar “as primeiras”, pois ainda há uma carência de referências positivas. “Quanto mais pessoas trans ocuparem esses espaços, mais natural isso se tornará. E, mais importante ainda, a nossa presença na Universidade não apenas normaliza essa ocupação, mas também cria condições para que outras pessoas trans também tenham acesso a esses espaços”, afirma Weber, que também é colunista do Jornal da USP.
Ela é uma das coordenadoras do Corpas Trans, grupo de pesquisa e extensão criado em 2021, dedicado a quantificar, analisar e propor ações para a inclusão e o apoio à população transgênero da USP. “Nossas pesquisas mostram que a situação na USP ainda é alarmante quando se trata da inclusão de pessoas trans. Enquanto a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) já adota um processo seletivo específico para estudantes trans no vestibular, e a Unicamp está em estágio avançado para adotar algo semelhante, na USP, essa discussão simplesmente não existe”, pontua Weber.
Por outro lado, a criação da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), em 2022, representou um passo importante para o fortalecimento de ações voltadas ao acolhimento e à equidade na USP. A PRIP tem como função “propor, coordenar, centralizar e apoiar políticas transversais na universidade para alunos(as), docentes e servidores(as), com foco em inclusão, permanência e equidade, sob a ótica da interseccionalidade”.
Em 2023, uma das iniciativas implementadas foi a troca das placas dos banheiros, que passaram a indicar explicitamente que as pessoas podem utilizá-los de acordo com o gênero com o qual se identificam. “Na prática, só oficializamos algo que já era garantido por lei”, explica a professora Marina Andretta, presidente da Comissão de Inclusão e Pertencimento do ICMC.
Marina afirma que um grupo de trabalho, composto por representantes de coletivos trans da USP e da PRIP, está debatendo a possibilidade de reserva de vagas para pessoas trans no ingresso na graduação. Para ela, a chegada da professora Leo Ribeiro ao corpo docente marca um novo momento para o ICMC impactando alunos e colaboradores técnicos administrativos e contribuindo para a naturalização da diversidade.
“Muitas pessoas nunca tiveram contato com alguém trans e, às vezes, não sabem o que isso significa. Ter uma professora trans exercendo seu trabalho como qualquer outro docente pode ajudar a desmistificar preconceitos. No fim das contas, é apenas mais uma característica. O que define a qualidade de um professor não é o gênero, e sim seu conhecimento e dedicação”, destaca.