Política distorce informações, diz CEO da Braskem sobre desastre em Maceió
Roberto Bischoff cita bons indicativos de que o solo vem se acomodando dia a dia de uma forma melhor
- Data: 04/12/2023 13:12
- Alterado: 04/12/2023 13:12
- Autor: Stéfanie Rigamonti
- Fonte: Folhapress
Roberto Bischoff
Crédito:Divulgação
O diretor-presidente da Braskem, Roberto Bischoff, disse nesta segunda-feira (4) que “situações políticas” distorcem informações sobre o maior desastre ambiental urbano iminente em Maceió, capital alagoana.
Um território equivalente a 20% da cidade está afundando, o que fez com que cerca de 60 mil pessoas tivessem que deixar suas casas. O desastre se iniciou há cinco anos, quando foram detectados problemas para o solo do local devido à atividade mineradora de sal-gema, material usado para produzir PVC e soda cáustica.
“Nós estamos absolutamente comprometidos com um trabalho de mais de quatro anos e de fazer esse processo sem colocar em risco as pessoas”, disse Bischoff durante Encontro Anual da Indústria Química, promovido pela Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química).
“Infelizmente, [esse tema] entra em alguma situação política que a gente acaba tendo informações distorcidas, redes sociais”, completou o executivo da Braskem, que decidiu comentar o assunto durante o evento sem ter sido questionado.
A Folha de S.Paulo mostrou no fim de semana que o risco de desabamento de uma das minas da Braskem, com a possibilidade de abrir uma cratera em Maceió, vem provocando um embate político entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o grupo político do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Lira e seus aliados, incluindo o prefeito João Henrique Caldas (PL), lançaram uma ofensiva para tentar incluir o governo federal na conta das medidas de atendimento aos moradores que precisaram deixar as suas casas.
O governo Lula, por sua vez, vem defendendo nos bastidores que as questões relativas às indenizações e auxílio para moradia para a população atingida dizem respeito exclusivamente à empresa e ao município
O embate evidencia também uma disputa entre o grupo de Lira e o grupo do senador Renan Calheiros (MDB-AL) – os dois são adversários políticos no estado e acumulam declarações críticas um ao outro. Renan é pai do senador e atual ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL).
Bischoff disse que, desde que um relatório mostrou, em 2019, que o rebaixamento de solo naquela região ocorreu em virtude da produção de minas de sal, a Braskem interrompeu as atividades no local e contratou especialistas para entender o fenômeno.
“Imediatamente, nós buscamos acordos e medidas para poder mitigar, reparar e compensar. São cinco acordos hoje, com todos os entes, federal, municipal, estadual, participando dos acordos”, declarou Bischoff.
O acordo previa realocação de pessoas dos imóveis da região, fechamento de minas e obras sociais para compensar a mobilidade urbana que foi afetada com a desocupação de cinco bairros. Em novembro, conforme a empresa recebeu informações de aceleração do afundamento do solo, medidas adicionais teriam sido tomadas, mas o executivo da Braskem não as elencou.
“Essa é a história, é isso que está acontecendo. O resultado, se será uma acomodação de terreno de forma mais gradual, ou pode acontecer de uma forma aguda, a gente não pode afirmar ainda. O que a gente tem são bons indicativos de que o solo vem se acomodando dia a dia de uma forma melhor”, comentou.
Em comunicado ao mercado anexado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) nesta segunda, a Braskem informou que as atividades de extração de sal-gema da companhia em Alagoas foram encerradas em maio de 2019, e a empresa vem adotando desde então “as medidas para o fechamento definitivo dos poços de sal, conforme plano e cronograma apresentados às autoridades, e aprovados pela Agência Nacional de Mineração”.
Segundo a companhia, as ações para execução do plano de fechamento definitivo para 35 poços já atingiram 70% de avanço e a conclusão está prevista para meados de 2025.
As ações da Braskem na Bolsa, que vêm acumulando no ano queda de aproximadamente 23%, passaram a se valorizar no último mês, mas o desastre ambiental em Maceió suavizou a alta. Nesta segunda-feira, perto das 11h40, a ação preferencial classe A da empresa petroquímica caía 0,72%, a R$ 17,88. Na sexta-feira, o papel recuou 5,85%.