Polícia indicia seis pela morte de João Alberto em Carrefour de Porto Alegre

Acusados responderão por homicídio triplamente qualificado; delegada diz que espancamento ocorreu em decorrência do racismo estrutural

  • Data: 11/12/2020 11:12
  • Alterado: 11/12/2020 11:12
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Polícia indicia seis pela morte de João Alberto em Carrefour de Porto Alegre

6 indiciados pela morte de João alberto responderão por homicídio doloso triplamente qualificado

Crédito:Reprodução

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A Polícia Civil do Rio Grande do Sul indiciou nesta sexta-feira, 11, seis pessoas pelo espancamento e a morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, em um Carrefour de Porto Alegre. O caso ocorreu na noite da véspera do Dia da Consciência Negra, gerando uma série de protestos contra o racismo por cidades brasileiras.

Os indiciados responderão por homicídio doloso triplamente qualificado por motivo fútil, asfixia (apontada por necropsia feita por legistas do Departamento Médico Legal) e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Segundo a investigação, o crime foi motivado pelo racismo estrutural, embora o agravante de injúria racial não tenha sido incluído no inquérito.

Entre os indiciados estão o ex-policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva e o vigilante Magno Braz Borges, que trabalhavam no supermercado e agrediram a vítima, e a agente de fiscalização Adriana Alves Dutra, que aparece nos vídeos do espancamento tentando impedir que o ato fosse gravado. Os três estão presos. Nesta semana, a Justiça negou pedido de liberdade provisória de Silva.

Os demais são o também vigilante Paulo Francisco da Silva, do Grupo Vector, e os funcionários do local Kleiton Silva Santos e Rafael Rezende, em grau menor de participação no crime. Para a polícia, Adriana e o outro vigilante poderiam ter impedido as agressões.

‘Atitude desumana e degradante’

Responsável pela investigação, a delegada Roberta Bertoldo disse que não houve crime de injúria racial, porém a atitude dos agressores ocorreu em decorrência do racismo estrutural vivido no País, somado ao fato de a vítima ter uma condição socioeconômica inferior, uma vez que “nenhuma testemunha foi capaz de detalhar o que motivou aquela reação violenta“.

“Essas situações discriminatórias são decisivas no tratamento de inúmeras pessoas. Se aquela pessoa fosse outra, provavelmente, a situação seria outra. Muito embora não tenha havido provas para afirmar que alguma ofensa relacionada à cor de João Alberto foi pronunciada naquele momento, nós podemos considerar, sem dúvida nenhuma, que está arraigado neste meio social, tratado desde a data do fato, que é o racismo estrutural”, afirmou.

Para a chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, ficou claro e comprovado o excesso dos seguranças no crime. “A conclusão do inquérito trouxe uma resposta rápida dentro da lei e uma sensação de justiça. A polícia embasou em 69 páginas esse relatório, com detalhes importantes sobre o caso. Foi público e notório que ocorreu uma atitude desumana e degradante, que feriu os direitos humanos”, disse Nadine ao Estadão.

Agressões filmadas

Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram parte das agressões e o momento em que João Alberto foi atendido por socorristas, quando estava desacordado. Em uma das gravações, o homem é derrubado e atingido por ao menos 12 socos. Ao fundo, uma pessoa grita “vamos chamar a Brigada (Militar)”.

Cerca de 40 pessoas foram ouvidas durante a investigação, de acordo com informações divulgadas em coletiva de imprensa. Segundo testemunhas, um dos agressores colocou o joelho sobre o corpo da vítima, imobilizando-a e dificultando que respirasse.

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