PMs são afastados após agressão a homem no interior de São Paulo
Gestão Tarcísio diz que conduta dos policiais contraria protocolos da instituição e que caso é investigado
- Data: 08/05/2024 17:05
- Alterado: 08/05/2024 17:05
- Autor: Redação
- Fonte: Rogério Pagnan e Paulo Eduardo Dias/Folhapress
Crédito:Reprodução
Uma dupla de policiais militares foi afastada do trabalho nas ruas após ser flagrada ameaçando e agredindo um homem dentro de uma residência na cidade de José Bonifácio, no interior de São Paulo.
O caso ocorreu na tarde desta terça (7) e as agressões foram gravadas por uma testemunha. O vídeo mostra o momento em que o homem recebe chutes e socos de um PM. A vítima cai no chão, mas as agressões continuam. O outro PM que acompanhava a ocorrência e que havia abordado o homem em um primeiro momento então impede que a testemunha continue acompanhando e filmando as agressões.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirma que “a conduta dos policiais contraria os protocolos operacionais da PM, bem como os valores e princípios da instituição, a qual orienta e capacita continuamente todo o seu efetivo sobre as corretas técnicas de abordagem”.
Em outro trecho da nota, a pasta diz que foi instaurado um Inquérito Policial Militar para apurar os fatos e acompanhar a investigação, que será conduzida pela Corregedoria da PM.
A reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência do caso. O documento elaborado pela Polícia Civil diz que “a vítima do roubo reconheceu todas as características físicas do indivíduo, voz e trejeitos”, mas não quis registrar queixa contra o homem.
Com relação à sequência dos fatos, os policiais disseram, ainda de acordo com o BO, que foram informados sobre um roubo a uma propriedade rural. Ao chegarem no endereço, tiveram acesso às câmeras de monitoramento e às características físicas do trio que havia praticado o crime.
Ainda segundo os PMs, por volta das 13h eles viram na rua um homem com características semelhantes às de um dos suspeitos. Os policiais disseram que o homem estava e que, questionado sobre onde havia estado naquela manhã, correu em direção a uma área de mata. Um sargento então o seguiu a pé, enquanto um tenente embarcou em uma viatura.
No interior da mata o sargento teria entrado em luta corporal com o homem, ainda de acordo com a versão dos policiais. Nesse instante o PM teria perdido as algemas que carregava, e o suspeito correu para uma área urbana.
Pouco tempo depois, o sargento o encontrou e o abordou novamente. É a partir desse momento que a gravação feita pela testemunha se inicia. O PM impede, com o braço, que o homem deixe o local e ameaça agredi-lo, e o homem chega a dizer que vai processar o policial. Na sequência, uma viatura da PM encosta. O tenente desce do carro e já acerta um chute no homem, que cai. As agressões depois continuam.
Ainda conforme o boletim de ocorrência, os policiais alegam que a “forma enérgica e com uso de força física” com que o tenente chegou “quebrou a resistência do autor” e possibilitou que ele fosse algemado.
As agressões ao homem são relatadas no rodapé do boletim de ocorrência, registrado apenas como resistência. O documento diz ainda que foi requisitado exame de corpo de delito para o agredido.
‘PMS MAL ORIENTADOS OU DOENTES’
Em nota, a Ouvidoria da Polícia afirmou que o vídeo revela “ato flagrante de descumprimento de qualquer protocolo”. “Especula-se que esta agressão pode ter se desencadeado inclusive em tortura, invasão de um domicílio e uma busca grave para cessar a gravação por parte de uma testemunha, o que pode caracterizar, ainda, fraude processual”.
“Diante de mais este triste capítulo da história da segurança pública que parece privilegiar a truculência ao invés da coerência, esta Ouvidoria vai instaurar procedimento, acionando a Corregedoria da Polícia Militar, solicitando a abertura de apuração, com identificação do policial, além do afastamento imediato destes profissionais das ruas, em razão da baixa condição emocional que os mesmos demonstram para atuar no policiamento de nossas cidades”, disse o ouvidor da polícia, Cláudio Aparecido Silva.
“Das duas uma: ou estes profissionais estão mal orientados ou estão doentes. No segundo caso, é preciso que a SSP nos ouça sobre nossas ideias de como tratar a saúde mental da tropa. Caso contrário, a população vai continuar pagando com vidas e com a dignidade de nossos pais, filhos e parentes”, acrescentou.