Plantas alimentícias não convencionais são retratadas em selo pelos Correios
Composta de seis selos - a vinagreira, a taioba, o jambu, o mangarito, a ora-pro-nóbis e a bertalha -, a emissão já está disponível nas principais agências do País e na loja virtual dos Correios
- Data: 24/04/2024 13:04
- Alterado: 24/04/2024 13:04
- Autor: Redação
- Fonte: Correios
Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ontem, terça-feira (23), entrou em circulação nos Correios a Emissão Postal Especial Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC). O lançamento da peça postal ocorre em São Lourenço do Sul (RS), hoje, 24, durante o 7º Encontro Nacional de Hortaliças Não Convencionais. Composta de seis selos – a vinagreira, a taioba, o jambu, o mangarito, a ora-pro-nóbis e a bertalha -, a emissão já está disponível nas principais agências do País e na loja virtual dos Correios. As PANC possuem uma ou mais partes alimentícias que não fazem parte do dia a dia. São espécies regionais, em geral mantidas pelos próprios agricultores, restritas a quintais e hortas domésticas. Algumas apresentam importância econômica e cultural.
As plantas alimentícias não convencionais possuem destacado potencial nutricional, como o teor de proteína e minerais em ora-pro-nóbis, de ômega-3 em beldroega, de ferro em taioba, de selênio em cariru, de luteína em capuchinha. Apresentam ainda reconhecido valor culinário, gastronômico e cultural. Por essas características, são fundamentais para a soberania e segurança alimentar e nutricional, para a mitigação das desigualdades sociais e para o enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas.
Apesar desse potencial, em função das mudanças do padrão de vida da sociedade moderna, com a globalização e a verticalização das cidades, houve redução ou mesmo abandono de espécies antigamente comuns, como mangarito, araruta, jacatupé e ariá, substituídas por espécies com cadeias produtivas estruturadas, na forma de alimento processado ou ultra processado.
Contudo, observa-se tendência cada vez maior de se buscar alimentação mais saudável e diversificada, com a valorização do alimento local ou regional, em contexto de produção agroecológica. Nessa linha, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem trabalhando com a temática das PANC, mantendo coleção de Hortaliças PANC desde 2006 e desenvolvendo trabalhos de otimização dos sistemas produtivos em base agroecológica, com avaliação agronômica, caracterização nutricional e estudo da vida útil.
O Brasil possui rico patrimônio de PANC, muitas delas espécies nativas, umas ditas naturalizadas e algumas exóticas cultivadas, como o peixinho, a azedinha e o muricato.
Sobre os selos – Esta emissão é composta de seis selos de plantas alimentícias não convencionais: a vinagreira, a taioba, o jambu, o mangarito, a ora-pro-nóbis e a bertalha. Cada selo captura a beleza única de cada planta e celebra a biodiversidade e riqueza cultural das PANC. O estilo das artes foi inspirado no Impressionismo, com sombras na cor violeta. Os selos trazem também, em microletras, o nome popular e científico da planta ilustrada. Com técnica de aquarela e arte de Lidia Marina Hurovich Neiva, a emissão tem tiragem de 96 mil selos. São 12 selos por folhas e cada selo tem valor facial de 1º porte de carta (R$ 2,55).
A bertalha (Basella alba) é hortaliça folhosa, herbácea, pertencente à família botânica Basellacea, oriunda da Índia e do Sudeste Asiático, disseminada pelas regiões tropicais do planeta. No Brasil, é comum no Rio de Janeiro, sendo frequentemente encontrada em feiras e quitandas. Come-se as folhas picadas refogadas ou cozidas brevemente, muitas vezes com ovos ou em pratos com carnes. Quando ainda tenras, como salada crua. Os talos grossos também podem ser picados e refogados para enriquecer o arroz e o feijão. Prato mais típico: bertalha com ovos mexidos.
O jambu (Acmella oleracea), planta da família botânica Asteraceae, é hortaliça folhosa, herbácea, considerada naturalizada na Amazônia. As folhas e especialmente as inflorescências são ricas em espilantina, substância com propriedades anestésicas que causam leve amortecimento das mucosas e salivação. O jambu é símbolo da culinária amazônica, consumido nos típicos pratos pato no tucupi, tambaqui no tucupi, caldeirada de peixe e principalmente no “tacacá”, acompanhando tucupi, goma da mandioca e camarão salgado.
O mangarito (Xanthosoma riedelianum) ou tayaó (em idioma Guarani) é nativo do Brasil e fazia parte da dieta dos índios quando da chegada dos colonizadores portugueses. Muito apreciado no passado, nos dias de hoje é praticamente desconhecido, encontrado esporadicamente em feiras no interior de Minas Gerais ou no circuito de alimentação PANC. Pertence à família Areacea, produz tubérculos comestíveis, bastante calóricos. As folhas são comestíveis, sempre refogadas, mas são os rizomas que representam verdadeira iguaria culinária de paladar especial. Também é especial em cremes ou purês. No meio rural, era comum cozido ou assado com melado no lanche ou café da manhã.
Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), planta nativa da América tropical, incluindo o Brasil, pertencente à família Cactaceae, uma das poucas cactáceas com folhas desenvolvidas. As flores e os frutos são comestíveis, mas o alimento principal são as folhas, consideradas a “carne verde” pelo alto teor de minerais, especialmente ferro, magnésio, zinco, manganês e cálcio, e proteínas com perfil de aminoácidos. Muito usada na culinária mineira no circuito das cidades históricas, acompanhando frango caipira, costelinha suína ou outras carnes ensopadas. Pode-se preparar as folhas inteiras ou picadas bem fininhas como couve, conferindo assim maior cremosidade aos pratos devido à maior liberação da sua mucilagem. Também se preparam tortas salgadas, farofas e bolinhos, além de usar folhas novas ainda tenras em saladas. Em Sabará (MG), ocorre o festival anual do ora-pro-nóbis.
Taioba (Xanthosoma taioba) é herbácea perene, nativa das Américas, incluindo o Brasil. É muito plantada no Sudeste brasileiro, em especial no Espírito Santo, no Rio de Janeiro e na Zona da Mata mineira, em geral em baixadas úmidas. As folhas são consumidas sempre refogadas ou cozidas, nunca cruas devido aos teores de cristais de oxalato de cálcio que causam coceira, desconforto e inflamação das mucosas, mas que se degradam com o aquecimento.
A vinagreira (Hibiscus sabdariffa), cuxá ou quiabo-de-angola, planta da família Malvaceae, está distribuída pelo mundo como matéria-prima para o chá de hibisco. Mas é na África Ocidental, de onde é originária, e principalmente no Brasil, especificamente no Maranhão, trazida pelos escravizados, que assume maior importância como hortaliça folhosa. As flores branco-amareladas também são comestíveis, e os cálices, parte externa dos frutos, carnosos e vermelhos, são matéria-prima, além do chá, de sucos, geleias e doces. As folhas são ricas em fibras, proteínas e vitamina C. O chá tem efeito digestivo e propriedades antioxidantes. As folhas são consumidas em saladas, quando jovens e tenras, ou em cozidos com arroz ou peixe seco. Na culinária maranhense, é o ingrediente principal do típico “arroz de cuxá”, feito com arroz, camarão seco e vinagreira (cuxá).