Planta piloto em Itaipu transforma biogás em óleo sintético

O investimento do Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ) foi de 1,8 milhão de euros.

  • Data: 15/07/2024 16:07
  • Alterado: 15/07/2024 16:07
  • Autor: Redação
  • Fonte: FolhaPress/Catarina Scortecci
Planta piloto em Itaipu transforma biogás em óleo sintético

Crédito:Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional

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Com recursos do governo alemão, o CIBiogás (Centro Internacional de Energias Renováveis) instalou uma planta piloto na Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR), que é capaz de transformar biogás em óleo sintético, também conhecido como bio-syncrude ou petróleo verde. O investimento do Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ) foi de 1,8 milhão de euros.

A unidade inaugurada em junho é de pequeno porte –tem capacidade para gerar até 6 litros por dia—, mas o plano é encontrar parceiros comerciais para ampliar a planta, o que permitiria o refino do óleo sintético em produtos como SAF (Sustainable Aviation Fuel) ou metanol verde, por exemplo.

“Está caminhando bem [a busca por parceiros comerciais] porque combustível de origem renovável é uma discussão mundial, uma corrida contra o tempo. Quem se credencia para conhecer este cenário todo, antes de outros, acaba ganhando mais tração”, diz o diretor-presidente do CIBiogás, Rafael Gonzalez, sem revelar os nomes dos possíveis investidores. Segundo ele, trata-se da primeira planta piloto do país para produção de óleo sintético a partir do biogás.

“Com a planta piloto, queremos conhecer qual a escala possível de chegar a partir desta tecnologia para daí poder ter a comercialização de um produto final, que pode ser SAF ou metanol verde”, antecipa ele, ao lembrar que o metanol hoje utilizado pela indústria brasileira é importado.

“A produção de SAF no Brasil também está começando agora e entendo que a gente tem um mercado interno bastante robusto antes de pensar no mercado externo”, continua. Gonzalez diz que o setor aposta na aprovação do projeto de lei em trâmite no Congresso Nacional que obrigaria companhias aéreas a atingir uma utilização mínima de combustível verde (SAF) até 2030.

“Vamos continuar investindo nesta planta por muitos anos ainda, porque é um ativo. Mas o produto em si, a produção comercial, seria daqui 3 anos para frente”, estima ele, que prefere não falar em valores ainda.

“Toda ruptura de conhecimento tem risco do ponto de vista de investimento. Por isso a gente está trabalhando numa escala piloto, para administrar os riscos, e ter uma condição de planejar uma escala com visão comercial”, resume Gonzalez.

Criado pela Itaipu em 2013, o CIBiogás é uma associação privada, sem fins lucrativos, de desenvolvimento tecnológico com foco no mercado de biogás e de biometano. Além do CIBiogás, que captou os recursos junto ao governo alemão por intermédio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, outros parceiros atuaram na implantação da planta piloto, como a UFPR (Universidade Federal do Paraná), a Fundação Araucária e a própria Itaipu.

O lixo orgânico transformado em biogás pelo CIBiogás, por exemplo, vem dos restaurantes da usina hidrelétrica, e eventualmente de cargas apreendidas pela Receita Federal em operações de fiscalização na região.

“São cerca de 150 kg de resíduos diários que são tratados nesta unidade de demonstração de biogás e biometano, que já funciona há sete anos. São sobras nos pratos dos restaurantes e o que sobra da preparação dos alimentos também”, explica Rogério Meneghetti, superintendente de Energias Renováveis da Itaipu.

“E como é uma região que tem muita apreensão de cargas, a gente tem uma parceria com a Receita Federal, para que os produtos não sigam para o aterro. Então é tudo triturado e colocado no biodigestor, que gera o biogás”, continua ele.

Um processo de purificação do biogás para chegar ao biometano (biogás sem o CO2, análogo renovável ao gás natural), também feito pelo CIBiogás, já é aproveitado hoje na Itaipu. “Temos frota de veículos com biometano. Agora estamos trabalhando para que o ônibus de turismo rode com biometano também”, revela Meneghetti.

UFPR DESENVOLVEU CATALISADORES

A conversão do biogás no chamado gás de síntese e, depois, no óleo sintético, envolvem dois catalisadores, construídos no laboratório do professor Helton José Alves, da UFPR em Palotina, conforme explica o professor Luiz Pereira Ramos, que também participou da criação da planta piloto em Foz.

“Resíduos orgânicos das mais diversas origens são fermentados, gerando biogás. Esse biogás é impuro, tem uma série de contaminantes, e o que nos interessa no biogás é apenas o CO2 e o metano. Então esse biogás é refinado”, inicia o professor, ao lembrar que tanto a produção do biogás quanto a purificação dele já são tecnologias operadas pelo CIBiogás antes mesmo da instalação da planta piloto no mês passado.

“Agora, a planta piloto pega este biogás refinado para submetê-lo a uma reforma catalítica. O primeiro catalisador serve para converter o CO2 e o metano em CO (monóxido de carbono) e hidrogênio. Essa mistura de CO com hidrogênio é chamada de gás de síntese”, continua ele. “Ou seja, é uma estratégia de produção de hidrogênio a partir do resíduo orgânico. Lixo gerando o combustível de maior sustentabilidade que se conhece, que é o hidrogênio”, explica Ramos.

O gás de síntese, continua o professor, segue para uma segunda etapa, que se chama síntese de Fischer-Tropsch. “Desse processo, que também é catalítico, é produzido o óleo bruto, o óleo sintético, que é uma mistura que pode ser fracionada. E essas frações teriam que ter suas propriedades ajustadas para atender as especificações do mercado”, explica ele, em referência ao desenvolvimento de combustíveis verdes, como o SAF, por exemplo.

“Essas etapas de fracionamento e beneficiamento ainda não chegaram”, completa o professor.

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  • Data: 15/07/2024 04:07
  • Alterado:15/07/2024 16:07
  • Autor: Redação
  • Fonte: FolhaPress/Catarina Scortecci









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