Passeio ciclístico em Brumadinho homenageia vítimas da tragédia da Vale
Semana de homenagens em Bruma relembradinho as 272 vítimas da tragédia-crime da Vale.
- Data: 16/01/2025 18:01
- Alterado: 16/01/2025 18:01
- Autor: redação
- Fonte: Assessoria
Crédito:Arcervo Avabrum
“Memory Day” é a primeira de uma série de ações em homenagem às 272 vítimas da tragédia-crime, que completa seis anos em 2025; agenda terá carreata, seminário de debates e o tradicional ato de resistência, que acontece no dia 25 de janeiro
Neste domingo, dia 19 de janeiro, a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM) realiza a primeira de uma série de ações em homenagem e honra às 272 vítimas da tragédia-crime da Vale, ocorrida em 25 de janeiro de 2019. Trata-se do “Memory Day”, um passeio ciclístico que acontece pelo terceiro ano consecutivo, reunindo centenas de familiares e amigos de vítimas em prol da luta por Justiça encampada pela AVABRUM. A ação tem concentração às 7h e saída às 8h, na Praça Saudade das Joias.
Em 2025, quando a tragédia-crime completa seis anos, a atividade contará com cerca de 400 inscritos, que vão pedalar por Brumadinho mantendo acesa a memória dos que tiveram suas vidas ceifadas e valorizando este saudável hábito da região. “Entre as vítimas, muitas eram ciclistas, gostavam de passear e, até mesmo, de participar de provas de bicicleta. Então, este dia é uma forma de homenageá-las, com a participação de esportistas de Brumadinho e de outras cidades”, conta Alexandra Andrade, diretora da AVABRUM.
Presidente da AVABRUM, Nayara Porto lembra que o “Memory Day” surgiu há três anos, por meio da iniciativa do grupo Pedalantes de Mário Campos. “A ação surgiu através do convite dessa associação, pelo fato de Mário Campos ter perdido 20 joias (como são carinhosamente chamadas as vítimas da tragédia-crime da Vale)”, conta, ressaltando que as bicicletas levam placas com os nomes das vítimas. “Desde então, cada vez mais grupos têm aderido ao ‘Memory Day’, ultrapassando o número de vítimas e honrando nossas joias neste passeio”.
“Memória Irreparável”
Até o próximo sábado, dia 25/1, a AVABRUM promove outras atividades que marcam os seis anos da tragédia-crime da Vale em Brumadinho, tais como uma carreata, um seminário de debates e o grande ato de resistência celebrado anualmente no dia 25 de janeiro. Todas as ações deste ano acontecem em Brumadinho, epicentro da tragédia-crime, são gratuitas e abertas ao público em geral.
Para 2025, o lema adotado é “Memória Irreparável – Uma Tragédia que Apagou Histórias Não Será Esquecida”. Integrante da diretoria da AVABRUM, Kenya Paiva Lamounier, que perdeu o marido Adriano Aguiar Lamounier, de 54 anos, avalia que a mensagem é uma forma de criticar falsas reparações, reforçando a ideia de que as vidas são irrecuperáveis.
“Tentamos mostrar que as pessoas e os momentos são insubstituíveis. Estamos cansados e até ofendidos com o termo ‘reparação’. Como reparar uma morte? Qual o preço de uma vida? Para nós, familiares, o que ficou são histórias de vida, são as vivências e convivências daqueles que a Vale matou. As memórias são nossas relíquias. Elas não podem ser precificadas, não podem ser reparadas”, avalia Kenya.
Para Nayara Porto, que também perdeu o marido Everton Lopes Ferreira, a semana de homenagens é um alerta à sociedade para a não repetição da tragédia-crime. As ações, portanto, lembram a população que o rompimento da Mina Córrego do Feijão “não foi um acidente, mas um ato de irresponsabilidade que transformou para sempre a vida de centenas de famílias”.
“A AVABRUM é sinônimo de perseverança, luta e assim serão os nossos dias até a gente ver a justiça acontecer. E, depois disso, continuaremos lutando para preservar a memória dos nossos e para que crimes como esse jamais aconteçam novamente”, diz Nayara.
Atividades
Após o “Memory Day”, a agenda de atividades continua com o seminário “Memórias do Irreparável: 6 Anos do Rompimento”, no dia 23 de janeiro, quinta-feira. O evento terá a presença de familiares das vítimas e outras pessoas envolvidas no apoio às vítimas ao longo de seis anos. Entre os convidados, estão jornalistas como Daniela Arbex, autora do livro “Arrastados: Os bastidores do rompimento da barragem de Brumadinho, o maior desastre humanitário do Brasil”, e Murilo Rocha, autor do livro “Brumadinho: a engenharia de um crime”. O evento acontece Teatro Municipal de Brumadinho (Quadra de Esportes), entre 8h e 17h.
“Este ano a memória será o tema central do seminário. Vamos fazer uma caminhada pelas vivências desse crime e de outros, trazendo relatos e histórias nas quais a realidade seja realmente estampada, e não distorcida ou calada. Vemos no nosso país que as grandes tragédias e crimes muitas vezes viram banalidades. Muitas vezes são contadas por aqueles que tentam fazer apagamento dos fatos. Não queremos isso para Brumadinho”, diz Kenya.
No dia 24 de janeiro, sexta-feira, véspera do grande ato, os familiares das vítimas lideram a conhecida “Carreata da Justiça”, ação que acontece desde o primeiro ano da tragédia-crime, como forma de cobrar respostas efetivas do poder público àqueles que perderam seus entes queridos. Os participantes concentram-se às 17h no Cemitério Parque das Rosas, onde a maioria das vítimas está enterrada, e de lá seguem em carreata.
“Por cinco anos fizemos a ‘Carreata da Justiça’ e, desta vez, não será diferente. Até porque são seis anos sem Justiça. A intenção é chamar atenção do Judiciário para eles decidirem se estão do lado dos réus ou das vítimas”, afirma Nayara. “Depois, fazemos o grande ato, no dia 25, que vem para fechar toda a semana de eventos em prol do não esquecimento. Frisando, mais uma vez, que não há reparação para a vida, para os sonhos, para os projetos e para tantas outras coisas assassinadas no dia 25 de janeiro de 2019”.
Durante o ato, que começa às 11h, na Praça Saudade das Joias, os participantes soltarão aos céus 272 balões vermelhos biodegradáveis contendo sementes de girassol, que representam representando cada uma das vítimas. Posteriormente, também serão lançados ao ar milhares de balões pretos que representam os dias exatos sem respostas desde a tragédia-crime.
AVABRUM
Em agosto de 2019, como uma reação dos familiares à brutalidade da tragédia-crime da barragem da mineradora Vale, que matou 272 pessoas em poucos minutos, no dia 25 de janeiro de 2019, nascia a Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão – Brumadinho, em Minas Gerais.
Mães e pais, viúvas e viúvos, irmãs e irmãos, filhos e filhas de vítimas fatais se uniram por causa de uma dor incomensurável, mas também, e principalmente, pelo amor pelos seus entes queridos engolidos por um mar de lama que não lhes deu chance de fuga. As vítimas, hoje, são chamadas carinhosamente de joias.
SERVIÇO | “Memória Irreparável – Uma Tragédia que Rompeu Histórias Não Será Esquecida” – Homenagens às 272 vítimas da tragédia-crime em Brumadinho
Quando. 19/01 (domingo) a 25/01 (sábado)
Onde. Brumadinho (MG)
Quanto. Todas as ações são gratuitas e abertas ao público em geral
PROGRAMAÇÃO
19/01 (domingo)
“Memory Day” – Pedalada em homenagem às vítimas
Praça Saudade das Joias – Concentração às 7h, saída às 8h
23/01 (quinta-feira)
Seminário “Memórias do Irreparável: 6 Anos do Rompimento”
Teatro Municipal de Brumadinho (Quadra de Esportes) – Das 8h às 17h
24/01 (sexta-feira)
“Carreata da Justiça”
Cemitério Parque das Rosas- Concentração às 17h, saída às 18h
25/01 (sábado)
Ato de 6 anos da tragédia-crime
Praça Saudade das Joias, às 11h