Passe livre nos ônibus de São Caetano do Sul (SP) começa com surpresa e dúvidas de passageiros
Usuários do transporte público questionaram se a gratuidade era para todos e o destino do saldo no cartão de vale-transporte
- Data: 01/11/2023 10:11
- Alterado: 01/11/2023 15:11
- Autor: Lucas Lacerda
- Fonte: Folhapress
Crédito:Divulgação/Prefeitura de São Caetano
“Pode guardar o dinheiro”, disse o motorista Djalma Oliveira, 43, a um passageiro que não sabia da tarifa zero para ônibus municipais em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo.
“Esse aí trabalha sábado, já vai economizar R$ 60 por semana”, diz Oliveira. A medida passa a valer a partir desta quarta-feira (1º) para as linhas municipais da cidade de 165 mil habitantes e 54 ônibus.
O público que aguardava no Terminal Rodoviário Nicolau Delic se dividia entre animação e dúvidas sobre o passe livre. Entre o trâmite do projeto do Executivo municipal na câmara e a entrada da gratuidade em vigor passaram-se oito dias.
As principais dúvidas eram sobre o público com direito à tarifa zero, que vale para todos os passageiros de ônibus municipais. “Mas é além de estudante e idoso? É bom, então”, disse o técnico de planejamento Alyson Cavalcante, 29, morador de José Bonifácio, na zona a leste de São Paulo.
Ele ainda precisa pagar pela passagem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), mas agora terá menos desconto no vale-transporte sem os R$ 5 da tarifa de São Caetano do Sul.
Em um ônibus da linha 3, para o bairro Barcelona, a analista de operações Bruna Nogueira, 29, que mora no bairro paulistano da Vila Prudente elogiou o passe livre. “Soube ontem e gostei. Venho da Vila Califórnia com um ônibus da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e depois pego outro municipal.”
Assim como as tarifas dos trens, as da EMTU continuam a ser pagas.
Outra preocupação de passageiros era sobre a motivação da medida. “Tem alguma peça faltando nesse quebra-cabeça, só não sabemos qual”, disse a empregada doméstica Terezinha de Jesus, 57. “Tem eleição ano que vem, mas e depois? E de onde sai o custo desse projeto?”
São Caetano do Sul é hoje uma das 85 cidades com passe livre no país. A gestão José Auricchio Júnior (PSDB) calcula que o subsídio à Viação Padre Eustáquio, a única a operar no município com 25 mil usuários por dia, custará R$ 2,9 milhões ao mês, e já está previsto para o orçamento de 2024. Como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo, a prefeitura afirma que o impacto considera o aumento do número de passageiros em 50%.
Em um vídeo institucional, a prefeitura diz que não haverá aumento de taxas ou impostos.
No caso de Terezinha, que mora em Barueri (Grande SP) e utiliza ônibus e a linha 10-Turquesa da CPTM, o passe livre alivia uma das passagens ou uma caminhada de 20 minutos.
Já a técnica de enfermagem Quitéria Silva, 57, esperava com o cartão de ônibus na mão em um ponto próximo da avenida Goiás, e ficou surpresa ao saber da gratuidade.
“Mas e o saldo que está aqui, como vou fazer? Perdi esse dinheiro?”
Segundo a Secretaria de Mobilidade Urbana de São Caetano do Sul, passageiros e empresas devem entrar em contato com a Viação Padre Eustáquio para solicitar o reembolso. Já a Viação diz que um cronograma separado por tipo de cartão (comum, escolar e vale-transporte) será divulgado em 13 de novembro com instruções para o processo.
Segundo o motorista Jailton da Cunha, 51, a medida é positiva porque gera menos custos de transporte para empresas e para passageiros que não têm o benefício.
“A gente brinca dizendo para o pessoal ‘já pode guardar o dinheiro para o panetone’, mas no contexto, é bom para quem quer passear no fim de semana com os filhos sem precisar pagar aplicativo de transporte”.
Jailton disse que o movimento já havia aumentado na manhã desta quarta. Ele guiava um ônibus da linha 1, no trajeto dos bairros Osvaldo Cruz e Santa Maria até o terminal. “Ajuda a movimentar o comércio, dá mais movimento em fim de semana, por exemplo. Espero que inspire outros lugares.”
A analista administrativa Ingrid Campos, 40, também destacou o ganho para a circulação dentro da cidade. “Moro no Sacomã, que já é São Paulo, e aqui é diferente, porque os ônibus não circulam tanto por bairros diferentes, como na capital. Então isso ajuda bastante. O pessoal reclama porque pagava R$ 5 para andar dois quilômetros.”
Sobre inspirar outras cidades como São Paulo, Ingrid acha que são escalas diferentes, mas que o projeto poderia, como disse Jailton, servir de inspiração.