Padre Julio Lancellotti faz duras críticas ao Censo da População de Rua de São Paulo
Representante da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo diz que censo é “furado”. Números apontam que cidade tem hoje 31.884 pessoas vivendo nas ruas
- Data: 26/01/2022 14:01
- Alterado: 26/01/2022 14:01
- Autor: Andréa Brock
- Fonte: ABCdoABC
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Quem anda pelas ruas de São Paulo vê com clareza o aumento no número de pessoas moradoras de rua. Segundo Censo da População de Rua divulgado pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo, o número de pessoas vivendo nas ruas aumentou 31% de 2019 até o final de 2021, quando foi concluído o censo. Em números, segundo a secretaria municipal, de 24.344, a cidade tem atualmente 31.884 moradores de rua, um aumento de 7.540 pessoas.
A chegada da pandemia da COVID-19 e o desemprego são os principais fatores apontados para o aumento dos moradores de rua.
Segundo a prefeitura, dos 31.884 identificados no censo, 19.209 foram recenseados quando estavam nas ruas, e outros 12.675 enquanto estavam abrigados nos Centros de Acolhida da rede socioassistencial do município.
O número de moradores de rua é alarmante. Em dados comparativos, das 645 cidades paulistas, 449, ou seja 69,6% do total, têm quantidade de moradores menor do que a população em situação de rua aferida na cidade de São Paulo.
Os dados revelam ainda que, em relação ao ano de 2019, havia 6.816 pontos de concentração, enquanto em 2021 esse número passou para 12.438, o que corresponde a um aumento de 82,5%. O número de barracas, classificadas como moradias improvisadas, cresceu 330% em 2021. No censo de 2019, eram 2.051 e em 2021, foram computados 6.778 pontos.
ESTRANGEIROS
A presença de estrangeiros pedindo esmolas nos faróis de São Paulo também tem sido visto com frequência pelos paulistanos. Com placas nas mãos, estrangeiros pedem ajuda nos cruzamentos das cidades. Chegaram na cidade em busca de oportunidades que não se concretizaram. Embora pareçam muitos, o levantamento do censo mostrou que 96,44% das pessoas em situação de rua na cidade são nascidas no Brasil e apenas 3,56% são estrangeiros. Do total, 39,2% das pessoas são naturais da cidade de São Paulo, 19,86% são de outras cidades do estado de São Paulo e 40,94% são naturais de outros estados do Brasil. As pessoas de outros estados são oriundas principalmente da Bahia, 8,47%, Minas Gerais, 5,44% e Pernambuco, 5,28%.
Sobre a COVID-19, o Censo apontou que dos moradores de rua, 85% declararam que não tiveram covid-19, 6,8% tiveram suspeita, mas não confirmaram com realização de exame, 3,8% tiveram covid-19 com confirmação através de exame e não precisaram de internação hospitalar, 2% tiveram covid19 com confirmação através de exame e precisaram ser hospitalizados e 1,5% teve suspeita, mas não fez exame.
Padre Julio Lancelloti contesta
Embora não apresente números, o Padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, tem publicado durante toda a semana em suas redes sociais críticas ao Censo da População de Rua divulgado pela Prefeitura de São Paulo. O padre tem se referido ao levantamento como “Censo furado”. Ele chegou a gravar vídeos com moradores de rua em que ele questiona se os mesmos teriam sido contados pelo levantamento. A resposta dos moradores entrevistados pelo padre é que não haviam sido contados. Em um outro vídeo o padre entrevista moradores de rua que criticam o atendimento e as condições do CTA 11 da Água Rasa (Centro Temporário de Atendimento).
O padre Lancellotti também publicou em suas redes sociais fotos da Praça da Sé e do Pátio do Colégio em que ele alega que os moradores de rua teriam sido expulsos em virtude do aniversário da cidade, comemorado ontem, 25 de janeiro.
“A crise econômica se agravou, o desemprego disparou, a inflação subiu e, nesse período, a política pública da Prefeitura para essa população continuou a mesma. Os centros de acolhida não são pensados para as demandas de quem vive na rua, afirma o padre em tom de crítica em suas redes sociais. Sobre o censo o padre afirma: “Esse número é subestimado pela total inadequação com a qual foi feito esse censo. E a Prefeitura foi alertada dos problemas metodológicos. Um número subestimado vai resultar mais uma vez em políticas públicas insuficientes e equivocadas que não respondem quantitativamente e nem qualitativamente às demandas da população de rua”, publicou em sua conta no Instagram o padre.
CRESCIMENTO: em julho de 2021, a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, através da sua secretária na época, Berenice Giannella, chegou a declarar que com o avanço da pandemia e a alta do desemprego, o número de famílias sem-teto aumentou. Segundo ela afirmou na época à Rádio Eldorado, a Prefeitura havia aberto naquele momento 340 novas vagas para esse público e a previsão era de criar um novo abrigo. Berenice declarou que o perfil do morador de rua havia mudado: antes composto principalmente por homens desacompanhados, a pandemia trouxe para as ruas famílias que perderam o emprego e foram despejadas.
O último levantamento feito em 2019 para detectar a população moradora de rua apontava 24.344 pessoas, além de 44 óbitos registrados pela secretaria municipal. O Movimento Nacional da População de Rua registrou naquele período 7 óbitos de sem-teto em virtude do inverno, número que não foi confirmado pela secretaria municipal na época.
OUTRO LADO: a assessoria de imprensa da Prefeitura de São Paulo foi procurada para comentar as críticas feitas pelo Padre Julio Lancellotti a respeito do censo da População de Rua, mas até o fechamento dessa matéria não deu retorno.