Orcas em Ilhabela: Avistamentos Aumentam e Mobilizam Turistas e Cientistas
Aparição de orcas em Ilhabela: biólogos celebram aumento de avistamentos e revelam mistérios desses majestosos cetáceos nas águas brasileiras.
- Data: 11/01/2025 15:01
- Alterado: 11/01/2025 15:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Orcas
Crédito:Reprodução - Instagram/@rafa.mesquita
No final da tarde do dia 3, um alerta sobre a possível presença de orcas nas águas do sul de Ilhabela mobilizou uma equipe de fotógrafos para o mar logo nas primeiras horas do dia seguinte. Em pouco tempo de navegação, sete desses magníficos mamíferos foram avistados.
A aparição de orcas na costa norte de São Paulo tem despertado grande interesse. Desde março do ano anterior, apenas o fotógrafo Frank Santos relatou ter registrado seis encontros com diferentes grupos dessas criaturas em Ilhabela.
Conforme especialistas em biologia marinha, a abundância de vida oceânica no Sudeste, que se estende da Região dos Lagos no Rio de Janeiro até Florianópolis no Sul, pode ser um atrativo para essas superpredadoras. De acordo com reportagens anteriores da Folha, a recuperação ambiental no Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, administrado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), transformou a área entre São Sebastião e Ilhabela em um verdadeiro santuário para tubarões.
A bióloga e pesquisadora Aline Athayde, responsável por um catálogo com mais de 8.000 fotografias coletadas entre 2005 e 2021, afirma que as orcas demonstram uma dieta bastante diversificada. Este material foi fundamental para identificar 47 orcas que habitam as águas entre o Sudeste e o Sul do Brasil, tanto em áreas costeiras quanto em mar aberto.
Os dados foram compilados em um artigo publicado em 2023 na revista científica Frontiers in Marine Science, que contou com a colaboração de voluntários e pesquisadores de diversas instituições, incluindo o Projeto Baleia à Vista e o Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP.
Os resultados indicam que 28% dos indivíduos observados eram fêmeas adultas, enquanto 19% eram machos adultos. Juvenis e filhotes representaram 19% e 17%, respectivamente, sendo que 17% dos avistamentos não permitiram identificar o sexo dos animais.
Do total registrado, 31 orcas foram vistas apenas uma vez e 16 (34%) foram reavistadas posteriormente. As orcas foram documentadas alimentando-se de raias em quatro ocasiões e perseguições a outros mamíferos como toninhas e baleias cachalote e jubarte também foram registradas.
Biólogos ressaltam que as orcas habitam uma ampla gama de ambientes. Os pesquisadores detectaram movimentações desses cetáceos desde Cabo Frio (RJ) até Ilha Grande (RJ), Ubatuba (SP), Ilhabela e Florianópolis, retornando algumas vezes ao ponto inicial.
A pesquisa revelou que as orcas percorrem distâncias variáveis ao longo das costas sudeste e sul do Brasil, chegando até mesmo ao Uruguai. O aumento nos avistamentos tende a ocorrer entre a primavera e o verão devido ao fenômeno da ressurgência, onde correntes frias trazem nutrientes à superfície do mar, atraindo peixes – uma fonte abundante de alimento para as orcas.
Normalmente, as orcas são vistas em grupos que podem atingir até 11 indivíduos. No dia 22 de dezembro, três delas foram fotografadas junto a um grupo totalizando 18 cetáceos. Entretanto, também existem registros de machos solitários que posteriormente se juntam a outros grupos.
A identificação das orcas é realizada através características específicas observadas nas fotografias, como a nadadeira dorsal e marcas distintas no corpo. Um exemplo é Almirante, uma orca macho identificada pela primeira vez em 1993 e vista novamente no litoral paulista no ano passado.
Embora os biólogos reconheçam dificuldades na coleta de dados precisos sobre as orcas em águas tropicais – onde sua presença é menos comum – há um crescente interesse na pesquisa sobre esses cetáceos. Karina Groch, bióloga catarinense envolvida em projetos locais, menciona que avistamentos estão se tornando mais frequentes na região sul do Brasil.
Os voluntários que participam das atividades de monitoramento acreditam que uma atualização nos dados poderá trazer novas informações significativas sobre as populações de orcas na costa brasileira. O fotógrafo Rafael Mesquita Ferreira destaca que as sete orcas avistadas recentemente representam uma ocorrência potencialmente inédita.
A atividade dos pássaros atrás da comida foi um dos sinais que indicaram a proximidade desse grupo ao arquipélago de Alcatrazes. “Assim que chegamos lá, começamos a observar as orcas brincando ao redor do nosso barco”, relata Mesquita.
A presença dessas criaturas impressionantes também tem atraído operadores turísticos locais como Marcos Cará, que utilizou drones para registrar imagens dos cetáceos durante suas saídas ao mar. Julio Cardoso do Projeto Baleia à Vista descreve os membros da equipe como “orcaholics”, referindo-se ao seu entusiasmo por avistar essas magníficas criaturas.