Olimpíada Brasileira de Robótica faz o encanto pelo conhecimento persistir
Quem participa de uma edição presencial da competição sempre vai querer mais; experiência possibilita o desenvolvimento de novos conhecimentos e habilidades
- Data: 30/06/2023 08:06
- Alterado: 31/08/2023 21:08
- Autor: Redação
- Fonte: USP
Da esquerda para a direita: Guilherme e Maria Isabel
Crédito:Denise Casatti
A garota tem sete anos e o garoto, seis. Juntos, correm pelo salão de eventos da USP, em São Carlos, conduzindo nas pequenas mãos um robô alaranjado neste domingo ensolarado de junho. Ao chegarem à arena da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), o comportamento dos dois se transforma conforme o robô, que se chama Orange, percorre seu caminho: obstáculos superados, a empolgação toma conta do corpo, que balança; interrupções na pista, tensão nos semblantes e mãos na cabeça.
Ao redor deles, os olhares curiosos acompanham a cena: incontáveis smartphones tiram fotos e gravam vídeos. Certo momento, o robô paralisa. Então, as quatro pequenas mãos dão um suave empurrão para que Orange prossiga seu trajeto, arrancando palmas da plateia atenta. Quando o percurso termina, Guilherme Lancellotti Pereira Silva, 6 anos, e Maria Isabel Pereira da Silva, 7 anos, estão com as camisetas cheias de broches, marcando sua presença no nível zero da oitava etapa regional da OBR em São Carlos. A Categoria nível zero é voltada a estudantes do 1º ao 3º ano do ensino fundamental. Nesse nível não há pontuação e concorrência entre equipes, todos são premiados com broches e medalhas, pois a ideia é incentivar a participação nos próximos anos.
Por isso, apesar da trajetória de Orange ter se encerrado no domingo, 25 de junho, é muito provável que a jornada de Guilherme e Maria Isabel pela OBR e pelo mundo da robótica esteja apenas começando. Os dois foram treinados pelo torneiro mecânico Carlos Renato da Silva, que já é veterano nas arenas da competição. Em 2019, ele estreou na OBR treinando sua primeira equipe de garagem, uma categoria destinada a grupos independentes, que não estão vinculados a uma escola. Criador do clube de ciências “O mundo das invenções”, em Batatais, no interior de São Paulo, Carlos é pai de Maria Isabel e de José Renato Pereira da Silva, 15 anos, que conquistou medalha de ouro no nível 2 da OBR este ano.
Em 2019, José Renato também fez sua estreia na competição. Naquele tempo, aos 11 anos, ele não recebeu nenhuma medalha, mas sua equipe, da qual faziam parte mais três amigos, ficou bem classificada e conseguiu até participar da etapa estadual da OBR. Este ano, ele competiu junto com Pietra Rampim, 15 anos. Os dois estão no primeiro ano do ensino médio na Escola Técnica Estadual Antônio de Pádua Cardoso. “Eu nem imaginava que um dia chegaria em primeiro. Cada ano fomos evoluindo, mais conhecimento, mais sensores”, revela José Renato.
“Em 2019, quase conseguimos chegar ao pódio. No ano passado, fomos vice-campeões e, este ano, somos campeões regionais”, conta o pai e técnico da equipe, Carlos. “A dica é: não desista. Dessa vez, na primeira rodada da competição, ficamos em último lugar. Na segunda e na terceira rodada, eles trabalharam, ficaram sem almoçar, preparando e regulando sensores, e aí conseguiram uma boa pontuação”, completa.
De volta à USP São Carlos – Desde 2019, quando José Renato participou da OBR pela primeira vez, o campus da USP, em São Carlos, não recebia uma nova edição da competição. Com a pandemia do coronavírus, as disputas foram interrompidas na modalidade presencial, sendo retomadas apenas no ano passado.
O retorno da etapa regional ao salão de eventos da Universidade, em 2023, teve uma dose adicional de emoção para a coordenadora da iniciativa, a professora Roseli Romero, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. “Este ano, tivemos 49 equipes competindo no sábado e 46 no domingo e com uma boa porcentagem de meninas entre os participantes”, comemora Roseli.
Compostas por dois a quatro integrantes, as equipes precisaram se adaptar a algumas novidades nas regras da OBR nesta edição: “Antes, havia apenas uma área de resgate, agora são duas, uma específica para vítimas vivas e outra para vítimas fatais”, exemplifica a professora Tatiana Pazelli, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e curadora da OBR.
Na disputa, as vítimas são representadas por pequenas bolinhas, prateadas ou pretas, que devem ser capturadas pelos robôs e enviadas a um dos dois espaços triangulares localizados nos cantos das arena de madeira, que são as chamadas áreas de resgate. No triângulo verde devem ser depositadas as bolinhas prateadas e, no triângulo vermelho, as bolinhas pretas.
Até os juízes da competição vibraram no momento em que o robô da equipe IFSP Sancabots Bravo conseguiu capturar a bolinha preta e colocá-la dentro da área delimitada pelo triângulo vermelho. A façanha garantiu a conquista da medalha de bronze no nível 2 para os quatro integrantes do time: Arthur de Vicente Mascaro, 17 anos; Bianca Veroneze, 16 anos; Renan Trofino Silva, 17 anos; e Sara Casatti Queiroz Ramos Arias, 15 anos. Todos eles são estudantes do curso Técnico em Informática para Internet Integrado ao Ensino Médio do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), campus São Carlos.
Para o técnico da equipe, o professor Ricardo Arai, a chave para dar continuidade e promover melhorias no projeto é essa junção de competidores mais experientes com os iniciantes: “A ideia é que o conhecimento gerado fique na equipe e vá passando de um integrante para outro, de ano a ano, só aprimorando. Demorou para eu aprender isso, porque já tivemos equipes boas que eram todos do terceiro ano, mas quando se formaram, o projeto acabou”.
Mesmo sendo a caçula da equipe IFSP Sancabots Bravo, participar da OBR também não é uma novidade para Sara. Em 2019, ela conquistou a medalha de ouro no nível 1, com o time da escola em que estudava na época, tendo como técnico o professor Emidio Junior Manzini. Coincidentemente, o professor também voltou ao palco em 2023 e, dessa vez, levou a medalha de bronze no nível 1 com o time MasterRobot.
Emidio, Sara, José Renato e Carlos são exemplos vivos de que a OBR faz o encanto pelo conhecimento persistir ao longo do tempo. Com certeza, muitos outros estudantes que estiveram no salão de eventos da USP, nos dias 24 e 25 de junho, voltarão a competir com seus incríveis robôs nos próximos anos. Mal posso esperar pelo momento de reencontrar os pequenos Guilherme e Maria Isabel.
Confira as equipes medalhistas na etapa regional da OBR em São Carlos
Sábado, 24 de junho
Nível 1
Medalha de ouro: Sesi Laranja Mecânica (Limeira – Escola Sesi)
Medalha de prata: Sesi Tambadroid (Tambaú – Escola Sesi)
Medalha de bronze: Robotic Members (Vargem Grande do Sul – Colégio Vitória)
Nível 2
Medalha de ouro: Fran Robot’s (Franca – Escola Sesi)
Medalha de prata: Ômega (São João da Boa Vista – Escola Sesi)
Medalha de bronze: Stardust (Limeira – Escola Sesi)
Domingo, 25 de junho
Nível zero
O Mundo das Invenções 2 (Batatais – equipe de garagem)
Nível 1
Medalha de ouro: Atômikos Átomos (Limeira – Colégio Acadêmico)
Medalha de prata: redCOND (São Carlos – Escola Estadual Conde do Pinhal)
Medalha de bronze: MasterRobot (São Carlos – Escola Tic Tac Toe)
Nível 2
Medalha de ouro: O Mundo das Invenções 2 (Batatais – equipe de garagem)
Medalha de prata: Atômikos Strix2 (Limeira – Colégio Acadêmico)
Medalha de bronze: IFSP Sancabots Bravo (São Carlos – Instituto Federal de São Paulo)