‘O que eu mais temia aconteceu’, diz mãe da menina Ágatha
Ela e Adegilson Félix falaram pela primeira vez sobre a morte da filha no programa Encontro, da TV Globo, na manhã desta terça-feira, 24
- Data: 24/09/2019 15:09
- Alterado: 24/09/2019 15:09
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
'O que eu mais temia aconteceu'
Crédito:Reprodução
Os pais de Ágatha Vitória Sales Félix, a menina de 8 anos atingida nas costas por um tiro de fuzil no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, contaram que a família convivia com medo dos tiroteios e que, em outras ocasiões, já havia se escondido no banheiro ao ouvir disparos. “O que eu mais temia, aconteceu”, desabafou Vanessa Francisco Sales, mãe da criança.
Vanessa relatou que estava com a filha no colo em uma Kombi, na última sexta-feira, 20. Em uma das paradas, quase todas as pessoas desceram. Foi quando ela colocou Ágatha ao seu lado.
“(Ouvimos) um barulho muito forte e ela: ‘mãe, mãe, mãe’. A gente se abaixou para sair, a gente ficou muito assustada. Não conseguia puxar ela, porque ela não conseguia se mexer. Aquilo sangrando e eu vi um buraco. Não estava acreditando no que estava acontecendo”, conta Vanessa.
Ela diz que a criança foi socorrida, mas estava muito fraca ao chegar ao hospital. “Minha filha não estava falando. Tentei ouvir o coração, mas já não sei se estava batendo ou não, estava fraquinho, talvez. Chegando na porta do hospital, ela deu dois suspiros e (falei) ‘a mamãe está aqui, fica com a mamãe’. Pegaram ela, correram. Minha lágrima não saía.”
A mãe de Ágatha diz que em duas ocasiões a família se escondeu no box do banheiro temendo tiros disparados no local. “Nessas duas vezes que a gente foi para o box, tive de pegar o edredom para a gente deitar. Ela (estava) assustada, o helicóptero sobrevoando. Agora, tem muita bala. Agora, demora várias horas. É uma eternidade e em qualquer momento do dia.”
Em vários momentos, Vanessa elogiou a filha. “Minha filha era perfeita. Ela era uma menina muito inteligente. O que está me confortando é que ela tinha muito amor.”
Muito abalado, Félix destacou que Ágatha era uma menina muito especial, que sabia falar palavras em inglês e que era muito generosa. Ao final da entrevista, fez um apelo ao governador do Rio Wilson Witzel (PSC).
“Governador, muda essa política de atirar, porque, como aconteceu com a minha família, pode acontecer com outras famílias também.”
O caso
Ágatha estava em uma Kombi na noite de sexta-feira quando foi baleada. A menina foi levada ao Hospital Estadual Getúlio Vargas no bairro da Penha, na zona norte, onde morreu na madrugada de sábado.
Nesta segunda-feira, 23, oito armas de oito policiais militares que faziam patrulhamento no momento do disparo foram recolhidas para perícia. No mesmo dia, PMs que atuaram na noite de sexta foram ouvidos pelos investigadores
‘Uma criancinha se foi por causa da irresponsabilidade do polícia’, diz motorista
O motorista da Kombi na qual a menina Ágatha estava quando foi baleada e morta na zona norte do Rio de Janeiro, voltou a afirmar que o tiro partiu de um policial militar – e que não havia tiroteio no momento do crime.
“Uma criancinha foi embora por causa da irresponsabilidade do polícia”, afirmou o motorista, que ainda não teve o nome identificado. “Não houve tiroteio.” Ele prestou depoimento por cerca de duas horas e meia na Delegacia de Homicídios da Capital na manhã desta terça-feira, 24. Foi o segundo depoimento do condutor.
A Kombi, que foi periciada, permanece estacionada na delegacia. É possível ver a marca da bala no banco traseiro do veículo. No enterro de Ágatha, no domingo, 22, o motorista já havia afirmado que a bala partiu da polícia. Essa também é a versão de familiares da menina e de testemunhas.