O governo é do PSL, mas o líder é comunista
Governadores de Roraima, Santa Catarina e Rondônia adotam pragmatismo nos Estados. Falta de maioria no Legislativo que garanta a aprovação de projetos estaduais é o motivo
- Data: 13/05/2019 10:05
- Alterado: 13/05/2019 10:05
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução Twitter
O governador de Roraima, Antonio Denarium, fez algo impensável para bolsonaristas e escolheu um “comunista” para ser seu líder de governo na Assembleia: o deputado Soldado Sampaio, do PCdoB. Em Santa Catarina, o governador Comandante Moisés também surpreendeu os eleitores ao abrir a porta do Palácio Cruz e Sousa, sede do governo estadual, para deputados do PT e integrantes do Movimento Sem Terra (MST) – e foi presenteado com produtos da agricultura familiar.
Em jantar com a bancada estadual, no início da gestão, Moisés disse que “da porta da sala para dentro, o professor é autoridade”, segundo deputados presentes. A posição demonstra resistência ao projeto Escola Sem Partido, que tem na deputada olavista Ana Carolina Campagnolo (PSL) a maior representante em Santa Catarina. Ela foi uma das primeiras a bater de frente com o governador, quando teve sua indicação à pasta da Educação preterida.
Apesar de eleitos pelo PSL de Jair Bolsonaro, Denarium e Moisés têm procurado se distanciar do modelo de governo do pelo presidente da República. A dificuldade na relação entre Executivo e Legislativo também se reproduz nos dois Estados, mas enquanto Bolsonaro promove uma cruzada contra a esquerda e insiste na retórica ideológica, eles procuram ser pragmáticos: dialogam com a oposição e evitam a pauta de costumes.
O PSL elegeu um terceiro governador – Coronel Marcos Rocha, em Rondônia. A exemplo dos colegas de partido, ele não patrocinou até agora debate sobre temas como Escola Sem Partido ou fez menção a interferir no currículo escolar. O mais próximo que fez de Bolsonaro foi trabalhar pela militarização de escolas públicas, projeto que já era debatido no Estado.
“Não existe atrelamento à agenda bolsonarista ideológica. Era mais uma perspectiva dessas propostas liberais, principalmente do agronegócio”, disse o cientista político Eloi Senhoras, da Universidade Federal de Roraima. Segundo o pesquisador Josenir Dettoni, da Universidade Federal de Rondônia, Rocha assumiu com discurso de corte de gastos e mantém comportamento em linha com seu passado na gestão pública: foi professor, diretor de escola, secretário municipal de Educação e secretário estadual da Justiça, em governos do PSB e do MDB. “Ele é mais moderado que Bolsonaro. No que mais se assemelha é o militarismo.”
BASE
O esforço para construir pontes com partidos de oposição tem uma razão: a falta de uma maioria no Legislativo que garanta a aprovação de projetos dos governadores. Moisés, por exemplo, conta uma base de seis apenas seis deputados entre 40 parlamentares.
As dificuldades, nesse caso, são atribuídas ao discurso da “nova política” e à resistência a distribuir cargos. Recentemente, na votação de vetos do governo, sofreu um revés e ficou com apoio de apenas dois parlamentares. Na tentativa de recompor a base, trocou a liderança do governo, do Coronel Mocellin (PSL) para o delegado Maurício Eskudlark (PR).
“Hoje, nós não temos votos para aprovar a reforma, mas já temos acenos dos partidos. Até a votação, teremos maioria”, disse Eskudlark, que negocia apoio do MDB, crucial para aprovação da reforma administrativa.
Em Rondônia o roteiro se repete. O governador teve um pedido de impeachment protocolado na Assembleia Legislativa em 1.º de abril.
Diferentes nos estilos e estratégias, os governadores guardam, contudo, semelhanças com o presidente. A mais visível é a escolha de militares para cargos nos governos de Moisés e Rocha. No primeiro caso, das 12 secretarias, quatro são ocupadas por militares – Saúde, Segurança, Infraestrutura e Administração. Em Rondônia o número é maior: sete dos 19 secretários e chefes de autarquias são militares.