Nova geração de solteiros na era dos aplicativos
“O encontro e a intimidade são as coisas mais importantes”, afirma psicanalista
- Data: 19/06/2023 11:06
- Alterado: 19/06/2023 11:06
- Autor: Be Nogueira
- Fonte: ABCdoABC
Crédito:Pixabay
Diferentes fatores têm condicionado as formas das pessoas se relacionarem, mas os aplicativos de relacionamento têm desempenhado um papel significativo, moldando a forma como se apresentam as possibilidades amorosas e o comportamento do indivíduo.
A pandemia também é responsável por mudanças no comportamento das pessoas, e se no isolamento os aplicativos de relacionamento desfrutam de grande popularidade, com o fim da pandemia e a retomada das atividades presenciais, surge uma nova perspectiva: as pessoas vão continuar usando a tecnologia? O que estão buscando nessa nova fase, relacionamento sério, ou casualidade?
Apesar do anseio dos jovens adultos pela retomada da vida normal e das atividades fora de casa, os aplicativos de relacionamento parecem ainda desempenhar um papel intrínseco no processo de conhecer alguém.
“Posso dizer que a gente quer intimidade com o outro, que pode ser os amigos, os amores, ou os amantes. A gente quer encontro! E os aplicativos, criam a ferramenta que reformula o que se espera de uma relação. Hoje o encontro e a intimidade são as coisas mais importantes”, afirma Vera Laconelli, psicanalista, doutora em psicologia e especialista em relacionamentos.
A nova campanha global do Tinder, intitulada ‘Tudo começa com um Match’, tem como objetivo destacar as infinitas possibilidades de relacionamentos que os aplicativos oferecem, discutindo as nuances da causalidade e do relacionamento sério.
Os solteiros da nova geração questionam as expectativas pré-estabelecidas e se permite explorar as possibilidades de forma mais livre e autônoma.
“Antes os relacionamentos tinham uma função muito clara, você se casava e tinha filhos. E hoje há a possibilidade de se questionar ‘afinal, o que queremos uns dos outros?’, ‘o que queremos no encontro com o outro?’, para poder reinventar isso de uma forma revolucionária, porque a relação não tem mais regras. Ela não tem mais que acabar em sexo, não tem que acabar em casamento, não tem que acabar em filhos, ela pode ser um evento em si”, afirma Laconelli.
A proposta é mostrar que o aplicativo atende a diferentes demandas, pois reflete as buscas individuais de cada usuário. Famoso por histórias inusitadas de romances intensos de três dias, ou o date que virou um casamento, a plataforma é um facilitador de relações, e as pessoas veem nela uma chance de conhecer novas pessoas de forma simples.
“A gente percebe que entre os solteiros com menos de 30 anos, 50% usam aplicativos de relacionamento. E os aplicativos resolvem alguns problemas. Tira um pouco do peso do contato pessoal em ter que chegar em alguém. Você não precisa estar com sua melhor roupa no lugar certo, na hora certa. Você pode estar em qualquer lugar, sem toda aquela pressão”, afirma Rodrigo Fontes, Vice-Presidente Global de Marketing do Tinder
E Laconelli, ressalta que os aplicativos de relacionamento têm um papel importante na quebra de bolhas sociais. “Antigamente as pessoas se relacionavam com amigos de parentes, pessoas que frequentavam o mesmo clube, a mesma escola, o mesmo bairro. Os aplicativos furam bolhas, e esse é um fenômeno muito interessante que permite a geração Z – que é ávida pelo novo e pelo desafio – criar relações inéditas. E isso, em aspectos sociológicos, terá efeito muito interessante na quebra de linhagens familiares”.
No que diz respeito às intenções de quem tem perfil nos aplicativos de relacionamento, entre as ofertas há um entendimento pré-estabelecido de como os usuários se comportam naquele ambiente. Basicamente, cada plataforma tem uma cultura.
A análise que a Vera trás sobre o tema, junto às percepções do Tinder sobre o comportamento do usuário, relatado pelo Rodrigo, é interessante notar que, apesar do intermédio do aplicativo, os maiores dilemas e as mais importantes percepções sobre si e sobre o outro, acontecem no pessoalmente.
“Primeiro vem a expectativa que não vai ser correspondido. Depois um estranhamento, que é super natural, porque é onde vou ajudar minhas expectativas positivas e negativas com o real do outro. E é nisso está a graça, com a possibilidade de se apaixonar, ou não, porque a paixão não está sob nosso controle”
Seja a ferramenta as redes sociais, os aplicativos, ou o acaso, o decorrer das relações segue sob controle individual de cada integrante daquela relação. O que muda é o meio onde tudo começa, somado a um rompimento de patrões e o questionamento da natureza humana parte de uma mudança social natural.